O Morgan Stanley revisou suas projeções para a trajetória da Selic em 2024. Diante da perspectiva de que as condições financeiras globais se manterão apertadas, ao mesmo tempo em que a política fiscal do Brasil deve permanecer frouxa, o banco americano elevou sua estimativa para taxa “terminal” dos juros básicos no país de 8,50% para 10%.
Na visão dos economistas Thiago Machado e Fernando Sedano, o Banco Central deve manter o ritmo atual do afrouxamento monetário, de 0,5 ponto percentual, até o segundo trimestre de 2024. Após o período, o ritmo deve ser reduzido para 0,25 ponto percentual, “à medida que o Fed mantém os juros em níveis mais altos por mais tempo e o BC se aproxima dos níveis neutros para a política monetária”.
“A política monetária deve permanecer em território restritivo no próximo ano, porque não vemos as expectativas de inflação de volta à meta”, afirmam os economistas. Vale apontar que a projeção de 10% está acima da mediana das estimativas capturadas no Focus, atualmente em 9,25%.
Ainda, segundo o Morgan Stanley, com a indicação de um novo presidente do Banco Central em 2025 e um Copom formado por indicações do atual governo, a mudança da estrutura de metas de inflação para uma janela móvel — em vez da atual meta para o ano-calendário — pode implicar uma reação mais acomodatícia à inflação, levando as taxas para 8,5% e tornando a orientação da política expansionista a partir de 2025.
Ainda na visão do banco americano, o quadro fiscal deve continuar como o principal risco para o país. Com o arcabouço fiscal definido, os esforços deverão se concentrar no aumento das receitas para alcançar a meta fiscal nos próximos três anos.
“Entretanto, é provável que o aumento das receitas seja difícil. Várias medidas exigem aprovação do Congresso e os legisladores têm se mostrado relutantes em aumentar a carga tributária. Dos R$ 168 bilhões que o governo está planejando arrecadar para fechar o déficit fiscal no próximo ano, esperamos apenas R$ 60 bilhões”, afirmam Machado e Sedano.
Com a projeção de que o Banco Central irá manter a política monetária restritiva no Brasil em 2024, o crescimento da economia deve arrefecer, segundo o banco americano. “As forças opostas implicam um crescimento de 1,7% ao ano em 2024. Em 2025, o BC deve levar as taxas para níveis abaixo do neutro depois que o impulso fiscal se dissipar e os gastos retornarem à estrutura fiscal atual, resultando em um crescimento de 1,6% ao ano em 2025.
A expectativa do Morgan Stanley é que a inflação sobre os alimentos acelere, devido às influências causadas pelo El Niño. Na contramão, as pressões sobre a inflação de serviços devem reduzir – já que a previsão aponta aumento da taxa de desemprego, que deve crescer afetada pelos efeitos da política monetária. “A inflação deve continuar convergindo para a meta, mas sem nunca chegar totalmente ao centro dela, fechando 2023 em 4,7%; 2024 em 4,2%; e 2025 em 3,5%”, apontam.
Fonte: Valor Econômico
