Por Lu Aiko Otta — De Brasília
02/09/2022 05h01 Atualizado há 4 horas
Criticado por analistas pela previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5% em 2023 enquanto o mercado trabalha com taxas mais próximas de zero, o Ministério da Economia aproveitou o bom resultado das contas nacionais divulgado ontem para reforçar a seguinte mensagem: a economia brasileira passou por transformações estruturais que não estão sendo captadas pelos modelos econométricos. Por isso, o crescimento tem surpreendido os analistas do mercado e o próprio governo.
A estimativa oficial de crescimento neste ano, de 2%, já está “datada”, disse o chefe da Assessoria Especial de Estudos Econômicos, Rogério Boueri. O resultado alcançado pelo PIB no primeiro semestre de 2022 já aponta para um crescimento de 2,4%, mesmo que não haja variação na segunda metade do ano.
“Vamos crescer 2,5% pelo menos, ou seja, vai ser mais”, disse o ministro da Economia, Paulo Guedes. “Eu avisei que passariam o ano revendo as projeções para cima.”
Os 2,5% serão alcançados num contexto de juros altos e “freio de mão puxado”, acrescentou. Em 2023, os juros estarão menores. “Então, como vamos crescer menos? Vamos crescer mais, o vento vai ser a favor.” Embora a estatística já aponte para essa taxa de crescimento, o modelo utilizado pelo Ministério da Economia aponta para um avanço de 2% do PIB deste ano. O mercado, segundo a pesquisa Focus, estima 2,1%.
“Os modelos têm subestimado consistentemente o PIB realizado”, afirmou Boueri. “Até a gente tem projetado abaixo.” Ele acrescentou que, por isso, não se pode afirmar que o governo tem sido otimista em suas projeções.
“Todo mundo está usando aquele modelinho, prisioneiro da caixinha”, comentou Guedes. “Só que está acontecendo um tsunami fora da caixinha.”
Ele se refere, por exemplo, aos mais de R$ 800 bilhões a serem investidos nos próximos dez anos, nos contratos de concessão. A economia tem sido puxada pelo setor privado, avaliou. Se confirmados, esses investimentos podem impulsionar a economia no futuro, mas não têm relação com o crescimento do segundo trimestre deste ano.
Pelos cálculos da Secretaria de Política Econômica (SPE), a partir de dados do mercado e do modelo Samba, do Banco Central, o país estaria agora no momento de maior restrição à atividade econômica provocado pela alta de juros. “Vai aliviar no próximo ano”, disse Boueri.
“Se agora, que está no pico da restrição, estamos crescendo a 5% ao ano, quando ela parar de remar contra, não tem por que esperar que vá piorar a atividade econômica”, comentou.
Mesmo com a perspectiva de queda da inflação em 2023, não se vê aumento do juro real, disse. O próprio boletim Focus, que capta estimativas do mercado, mostra que há queda do juro real ao longo dos próximos 12 meses.
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o investimento está em alta. A taxa de 18,7% registrada no segundo trimestre é a maior observada para o período desde 2014. O movimento ocorre mesmo com a alta de juros, comentou. Economistas ouvidos pelo Valor acreditam em queda do indicador.
Fonte: Valor Econômico

