18 Sep 2023 DANIEL ROCHA
A distribuição de dividendos ou de juros sobre capital próprio (JCP) costuma arrancar sorrisos dos investidores ao ver um dinheiro a mais depositado na conta bancária. Ao longo de 2023, as mineradoras e siderúrgicas foram as principais companhias que conseguiram alegrar os investidores com o pagamento de proventos.
Segundo dados da Economatica, os dois setores da Bolsa brasileira foram responsáveis por um “dividend yield” (DY) de 24% neste ano. O levantamento considerou a mediana dos dividendos das companhias de capital aberto de cada setor econômico até o pregão do dia 12 de setembro.
Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, explica que as companhias desses setores tornaram as suas atividades operacionais mais eficientes e, consequentemente, conseguiram entregar bons resultados que garantiram a distribuição de proventos. De todas as empresas que compõem os dois grupos, o analista destaca duas que devem estar no radar dos investidores focados no pagamento de proventos: Vale e Gerdau. “Esperamos um pagamento de dividendos de 10%, para a Vale, e de 15% para a Gerdau”, diz.
Renato Chanes, analista da Ágora Investimentos, também avalia a Gerdau como uma protagonista importante quando o assunto é dividendos. Segundo ele, a empresa produtora de aços longos tem sido beneficiada pela retomada da construção civil no Brasil e por obras de infraestrutura nos Estados Unidos. Outro fator que tem contribuído para a atratividade do papel é que a empresa não pretende comprar concorrentes. “Vemos um ‘dividend yield’ entre 16% e 18% para a Gerdau neste ano se considerarmos a distribuição de dividendos e recompra de ações. Essa característica pode mudar nos próximos anos? Vai mudar porque os ciclos econômicos vão alterar”, diz Chanes.
O bom momento dos setores, portanto, não deve durar para sempre. A distribuição vai depender dos ciclos econômicos no curto e médio prazos. Por isso, Lucas de Caumont, estrategista de investimentos da Matriz Capital, sugere ao investidor buscar companhias que possuam uma previsão de receita e um perfil considerado pelo mercado mais defensivo.
“O setor de ‘utilities’ (em particular, o segmento de energia, com ênfase para as transmissoras) é mais constante e perene em distribuição de proventos”, diz. A outra orientação é evitar decisões de investimento com base no “dividend yield” acumulado dos últimos 12 meses. Isso porque não há garantia de que a companhia irá remunerar os seus acionistas na mesma proporção. “É aquele investidor que sempre está olhando para trás sem entender o contexto. Isso costuma ser o maior problema”, diz Ferrer, da Empiricus.
PETROBRAS. As ações da Petrobras já foram as protagonistas da Bolsa em termos de distribuição de dividendos. Segundo dados da Economatica, a companhia encerrou 2022 com um “dividend yield” de 65,32%, no caso das ações preferenciais, e de 59,7% das ordinárias. O porcentual foi o maior entre as companhias listadas do Ibovespa.
No entanto, os momentos de “glória” não tiveram continuidade ao longo de 2023. Isso porque, ao considerar o DY das ações da petroleira de forma isolada, o título de maior pagadora de dividendos do principal índice da B3 com a Companhia Siderúrgica Nacional. Com apenas 0,35% de participação na composição do principal índice da B3, as ações da siderúrgica foram as responsáveis por manter um “dividend yield”, o maior do Ibovespa até o momento.
“Houve um maior interesse dos acionistas em distribuir os dividendos que foi acompanhado com uma leve melhora nos resultados da companhia. Também tivemos uma redução da distribuição dos dividendos da Petrobras”, justifica Caumont, da Matriz Capital, sobre o desempenho da CSN.
No entanto, a companhia não deve sustentar esse status de maior pagadora de dividendos. “A empresa tem um cronograma de investimentos relevante daqui para frente”, diz Chanes, da Ágora. O anúncio de novos investimentos reduz o lucro da companhia e impacta na remuneração dos acionistas.
As projeções dos analistas apontam que a presença da Petrobras no segundo lugar do ranking das maiores pagadoras de dividendos do Ibovespa pode ser temporária. Segundo dados da EQI Corretora, a estatal deve voltar ao topo da lista ainda neste ano. No entanto, o investidor precisa ter em mente que os dados sinalizam uma projeção. Ou seja, há a possibilidade de a variável encerrar o ano em um patamar maior ou menor.
“Como as distribuições não seguem de forma regular, surgem outras companhias que pagam mais em um recorte menor. Em um contexto geral, acreditamos que a empresa voltará a pagar valores mais elevados”, diz Ferrer. Apesar da previsão de remuneração elevada, a Empiricus prefere ficar de fora do papel devido ao risco político, já que a companhia está suscetível a sofrer interferências do governo federal na sua política de preços para os combustíveis. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

