O governo de Javier Milei sofreu um duro revés na eleição parlamentar no domingo, 7, da província de Buenos Aires, que concentra quase 40% do eleitorado argentino e é considerada um bastião da oposição. Com 94,31% dos votos apurados até o fechamento desta edição, o Fuerza Patria, que representa o peronismo, vencia por 47,16% a 33,79%, consolidando uma reação popular na eleição que era vista como um referendo da aprovação do presidente.
“Sem dúvida alguma, no plano político tivemos hoje uma clara derrota”, declarou Milei no domingo à noite. “E se alguém quer começar a reconstruir e avançar, a primeira coisa que deve fazer é aceitar os resultados. Não foram positivos, tivemos um revés, e é preciso assumi-lo com responsabilidade.” Ele disse que os 33,48% que seu partido, o La Libertad Avanza (LLA), havia obtido no momento da declaração eram a base sobre a qual começaria a trabalhar para as eleições federais de 26 de outubro.
A eleição de domingo colocou em disputa 46 vagas locais de deputado e 23 de senador, ou seja, metade das cadeiras na Câmara e no Senado da província, além de vereadores e conselheiros escolares. Segundo a contabilização parcial, o peronismo ganhou em seis das oito seções eleitorais e em pelo menos 99 dos 135 municípios.
A derrota por 13 pontos percentuais representa o momento mais crítico para Milei e seu partido, o LLA, desde a última eleição nacional, em novembro de 2023. A eleição local deste domingo, realizada apenas na província de Buenos Aires por decisão do governador Axel Kicillof, era vista como um teste da capacidade de Milei de puxar votos para os parlamentares de seu partido. Nas eleições legislativas de 26 de outubro, os argentinos escolherão senadores e deputados federais, além dos representantes nas câmaras provinciais.
A população da província de Buenos Aires foi em peso às urnas neste domingo, convocada pelas duas forças antagonistas na disputa. Segundo dados preliminares, 63% dos 14,37 milhões de eleitores habilitados compareceram para votar.
Milei chegou desgastado à eleição deste domingo após o chamado escândalo dos áudios envolvendo sua irmã, Karina, que tem cargo de secretária-geral da presidência e é vista como principal apoio político e emocional do presidente.
Nas semanas que antecederam a eleição em Buenos Aires, a imprensa argentina publicou gravações de Diego Spagnuolo, ex-chefe da Agência Nacional de Deficiência (Andis), descrevendo um esquema de corrupção envolvendo contratos para a compra de medicamentos pela agência. Nos áudios, é citado um suposto pagamento ilegal a Karina Milei como condição para autorizar a aquisição de medicamentos.
O possível impacto negativo da derrota de domingo para a eleição de outubro, quando o LLA pretende ampliar sua base no Congresso, deverá agitar os mercados nesta segunda-feira, 8. Agentes do mercado financeiro veem na gestão do LLA, conhecida pelo foco na austeridade fiscal, o melhor caminho para a economia argentina. Menos de dois anos após ser eleito presidente, Milei pode agora enfrentar desconfiança sobre sua capacidade de liderar o país na segunda metade do mandato se o resultado da eleição de domingo for considerado uma projeção da visão do eleitorado nacional.
O dólar paralelo ou “blue”, hoje negociado na faixa dos 1.350 pesos, é importante indicador do nervosismo do mercado e deverá abrir a segunda-feira sob pressão.
A ex-presidente Cristina Kirchner comentou sobre a vitória de sua força política no X. “Viu, Milei? Banalizar e vandalizar o ‘Nunca Mais’, que representa o período mais escuro e trágico da história argentina, não é grátis”, disse Kirchner, que cumpre prisão domiciliar em seu apartamento de Buenos Aires. “Saia da bolha, irmão, porque está ficando pesado.”
A vitória também marca o acerto da decisão de Kicillof de separar a eleição da província daquela que escolherá os representantes de Buenos Aires na Câmara e no Senado federais. É a primeira vez desde 2003, e a segunda desde 1983, que a província de Buenos Aires realiza eleições separadas do calendário nacional. O governador da província de Buenos Aires, principal nome da esquerda além de Cristina, sai fortalecido da eleição de domingo.
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Fonte: Valor Econômico

