21 Dec 2023
No dia em que enfrentou a primeira manifestação organizada contra seu governo, o presidente da Argentina, Javier Milei, usou seu primeiro pronunciamento na TV para anunciar um pacote de decretos que promovem uma desregulamentação massiva da economia. Entre as 30 medidas anunciadas estão revogações de leis nos setores imobiliários, de abastecimento e de controle de preços. Os decretos preveem a transformação de todas estatais em sociedades anônimas para futuras privatizações.
Milei optou por decretos de necessidade e urgência, similares às medidas provisórias no Brasil, em vez de enviar projetos de lei ao Congresso, onde não tem maioria. Os decretos também preveem novas regras para a legislação trabalhista e preparação para a privatização de empresas públicas, como a Aerolineas Argentinas.
Em um discurso no qual reforçou suas críticas à classe política, Milei disse que a expansão do Estado foi responsável pela destruição da riqueza do país nos últimos 100 anos. “As crises na Argentina têm origem na mesma causa: o déficit fiscal. Nos últimos 123 anos, em 113 tivemos déficit fiscal”, disse. “Mas como a classe política nunca quis enfrentar o problema, recorreu ao aumento de impostos ou impressão de moeda para financiar esse déficit.”
Os anúncios de ontem são o segundo pacote de medidas econômicas do presidente, que assumiu o cargo no começo do mês. Há duas semanas, ele desvalorizou o peso e congelou obras públicas, além de reduzir subsídios e repasses federais a províncias do país. A Argentina vive uma grave crise econômica, com uma inflação superior a 140% nos últimos 12 meses.
PROTESTO VAZIO. Horas antes de seu pronunciamento, milhares de pessoas desafiaram a proibição de fechar as ruas na Argentina.
Com forte aparato policial, no entanto, a adesão à primeira manifestação contra Milei foi menor que a esperada. O protesto se dispersou às 18 horas, após a leitura da declaração dos movimentos sociais contra o “Plano Motosserra”, em referência ao símbolo da campanha do libertário, que propõe um forte ajuste fiscal contra a crise.
O plano para conter as manifestações foi elaborado pela ministra da Segurança, Patricia Bullrich, candidata da direita tradicional que se juntou a Milei depois de ficar em terceiro lugar na eleição. Ao lado dela, o presidente assistiu à operação na sede da Polícia Federal, em Buenos Aires.
De acordo com o jornal Clarín, foram mobilizados 5 mil agentes, sendo a maior parte da Polícia Federal e da polícia da cidade (2 mil cada). Os movimentos sociais conseguiram reunir cerca de 10 mil pessoas, segundo autoridades ouvidas pelo jornal argentino, bem menos do que os 50 mil que eram esperados.
Um vídeo divulgado pelo jornal La Nación mostrou um princípio de briga entre os manifestantes e as forças de segurança nos arredores da Praça de Maio. Pelo menos duas pessoas foram detidas. • AP e EFE
Fonte: O Estado de S. Paulo

