Por Marcos de Moura e Souza, Valor — São Paulo
23/11/2023 18h02 Atualizado há 11 horas
Embora o presidente eleito Javier Milei tenha dito que não anunciaria o nome do seu ministro da Economia antes da posse em 10 de dezembro, o ex-presidente do Banco Central da Argentina Luis Caputo era dado como certo pela mídia argentina para ocupar o cargo de ministro da Economia no próximo governo.
Até a noite desta quinta-feira (23) não havia uma confirmação oficial se Caputo havia aceitado o convite feito por Milei. Um empresário argentino ouvido pelo Valor também afirmou que o economista já havia batido o martelo. Além disso, na noite de quarta-feira, o presidente eleito tinha desfiado elogios a Caputo em uma entrevista à rede TN.
Para acomodar as forças políticas que o apoiaram e dos quais necessita de apoio para governar, Milei teria convidado Patricia Bullrich, a candidata derrotada nas eleições presidenciais, para voltar a comandar o Ministério de Segurança. Em meio à intensificação das negociações para a formação de seu Gabinete, o presidente eleito cancelou uma viagem pessoal aos EUA, previsto para hoje.
O economista é próximo do ex-presidente Mauricio Macri e foi ministro das Finanças e presidente do BC em seu governo. Macri é o principal aliado político de Milei.
Nesta quinta-feira (23), os bônus soberanos denominados em dólar da Argentina subiram até 6,1% nas transações em Nova York, revertendo a abertura em baixa diante dos informes de que Caputo seria o ministro da Economia. O Global 2029 subiu 6,1%, enquanto o Bonar 2035 e 2041 avançaram 4,8%.
A decisão de chamar Caputo para comandar o mais importante Ministério em um país em série crise econômica foi interpretada com uma mensagem clara de que a ideia da dolarização, que a principal marca da campanha eleitoral de Milei acabou engavetada. Caputo é contrário à dolarização.
Além disso, o economista Emilio Ocampo, defensor da medida e o teórico mais influente no entorno de Milei, apareceu ontem como carta fora do baralho para um cargo. Por mais de uma vez durante a campanha, Milei havia anunciado Ocampo como aquele que seria o último presidente do Banco Central da Argentina.
Com Caputo no Ministério da Economia, um dos mais cotados para o comando do BC era do economista Demian Reidel — que foi vice-presidente do BC durante o governo Macri.
Um interlocutor de Luis Caputo disse ontem à reportagem que a tese de dolarizar a economia argentina foi ficando para trás na lista de planos de Milei en função de, pelo menos, três pontos: 1) uma alta probabilidade de que o fechamento do BC e a tentativa de renunciar ao peso como moeda nacional seria barrada da Corte Suprema; 2) a percepção de que na Argentina há uma flagrante escassez da moeda americana e que dolarizar sem dólares seria algo inviável; 3) essa mudança demandaria mudanças legislativas e dificilmente o presidente eleito teria apoio no Congresso para uma medida tão complexa e questionada.
O economista Esteban Fernandez Medrano, da consultoria MacroVision lembra que quando Caputo assumiu o BC — no lugar de Federico Sturzenegger — recorreu à emissão de moeda para fazer frente a uma dificuldade que a autoridade monetária vinha enfrentando com as Lebacs (hoje chamadas de Leliqs). A receita para eliminar a dívida do BC deu certo na época, mas, diz Medrano, ao custo de expandir a oferta monetaria fortemente, o que levou a uma desvalorização do peso.
“Ou seja, ele teve uma conduta de choque monetário para desarmar uma bola de neve de dívida no Banco Central. Suponho que a mensagem [que Milei tenta passar a escolher seu nome] é de colocar alguém com pulso firme para tomar medidas que precisam ser tomadas”, avaliou Medrano, quando o nome de Caputo ainda não tinha sido confirmado.
Milei toma posse em 10 de dezembro e vem sendo demandado por empresários e agentes do mercado financeiro a apresentar logo quem dará as cartas na Economia. Ele assumirá um país com 40% da população em situação de pobreza, com inflação que deve fechar o ano em cerca de 180% e um forte desequilíbrio cambial. Enquanto o câmbio oficial flutua pouco acima dos 350 pesos por dólar, uma das diversas cotações do dólar paralelo é negociada na faixa dos 1.000 pesos. O presidente eleito tem falado em levar adiante uma política de fortes ajustes nos gastos públicos, como passo inicial para reorganizar a economia e construir um ambiente que permita trazer os preços para níveis mais baixos. (Colaborou Marina Guimarães, de Buenos Aires)
Fonte: Valor Econômico

