O mercado de títulos incentivados é um dos que devem ter um fluxo positivo neste ano, ampliado pelo esvaziamento dos fundos fechados exclusivos e reservados, segundo Marcos Papaterra, diretor comercial da TAG Investimentos.
“A partir do momento que você perde o diferimento de imposto, o investidor vai buscar alternativas isentas, como debêntures de infraestrutura, letras e certificados de crédito imobiliário e do agronegócio (LCI, LCA, CRI e CRA), fundos imobiliários e Fiagro”, lista. Os spreads de crédito tendem a se comprimir.
Grosso modo, os fundos patrimoniais têm gestão semiativa ou passiva e investem em renda fixa (títulos públicos e crédito corporativo não isento), em fundos multimercados disponíveis nas plataformas, além de produtos que algumas casas específicas oferecem para esse público, disse Odilon Costa, estrategista de renda fixa e crédito privado da gestora de patrimônio do Grupo SWM. “O que a gente viu é a soma de algumas coisas que favorecem a alocação dos fundos em outras classes de ativos, como os isentos. Uma delas é a fraquíssima perfomance dos fundos multimercados nos últimos meses.”
Costa conta que até o fim de 2023 recebeu muitos questionamentos sobre o que fazer e agora no início do ano a demanda é para desmontagem ou cisão dos fundos. “É impossível quantificar quanto da indústria vai ser desmantelada, mas se a gente fizer um exercício considerando que 10% dos fundos exclusivos irão para isentos, seja por meio de investimento direto, carteira administrada ou fundos de infraestrutura, pode haver uma demanda relevante de R$ 60 bilhões a R$ 100 bilhões a mais.”
No multi-family office Douro Capital, o uso de fundos exclusivos/restritos atendia a uma parcela pequena de clientes que tinham a necessidade de organizar a governança familiar e sucessória ou para aquelas que queriam carregar ativos de maior volatilidade dentro de uma casca, de um veículo, que fizesse mais sentido em termos tributários, diz o sócio da gestora Gustavo Dias. “Há famílias que querem colocar liquidez em nome dos filhos, mas não a possibilidade de eles resgatarem esses recursos. Nesse caso, o fundo exclusivo é interessante por conseguir amarrar regras de resgate.”
O executivo diz esperar, de qualquer forma, um desmonte de fundos já que as famílias vão pagar o imposto. “Não há uma urgência, mas o come-cotas já está contando. Pelo desenho da lei, foi provisionado nos fundos o pagamento dos impostos do ganho acumulado até dezembro de 2023 e, a partir de janeiro, toda valorização passou a ser taxada. Não tem pressa, mas várias famílias já começam agora a desmontar as estruturas, o que deve durar este primeiro trimestre.”
Ele vê uma grande migração para a previdência, que além do imposto menor no longo prazo tem a sucessão assegurada sem passar por inventário e tem o benefício da portabilidade. A previdência também permite que o titular da riqueza troque o fundo em que está investindo sem ter que resgatar o dinheiro e pagar imposto.
Dias acrescenta ver demanda para fundos de debêntures incentivadas, com vários veículos sendo criados, e a busca por carteiras de ações. “De maneira geral, o brasileiro não tem parcelas expressivas em renda variável. Dentro de fundos exclusivos, fazia mais sentido ter. A renda variável representava de 15% a 20% do patrimônio da maioria dos exclusivos.”
Fonte: Valor Econômico

