Por Gabriel Roca, Felipe Saturnino e Igor Sodré — De São Paulo
06/04/2022 05h03 Atualizado 06/04/2022
Após semanas bastante positivas para os ativos locais, o pregão de ontem foi marcado por uma drástica mudança de humor, com os investidores à espera da ata da última reunião do Fed. A elevação da tensão global ficou bem demarcada pela movimentação dos Treasuries no dia: o rendimento dos títulos do Tesouro americano de dez anos saltou para 2,54%, seu maior nível em três anos. No Brasil, o Ibovespa teve seu pior pregão em quase um mês, enquanto juros futuros e dólar registraram alta firme.
Na véspera da publicação da ata da última reunião do Federal Reserve, a leitura de que os bancos centrais de países desenvolvidos terão de agir de maneira mais tempestiva no combate à inflação ganhou mais força, o que pressionou as taxas de juros mundo afora. A dinâmica foi replicada no mercado local e a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 avançou na B3 de 11,82% para 12%; a do DI para janeiro de 2024 foi de 11,82% a 12%.
“Há uma combinação de fatores que justifica o aumento das taxas futuras, feita de aumento generalizado das taxas de juros no exterior e enfraquecimento do real”, disse o economista da MCM Consultores, Antonio Madeira.
No mercado de câmbio, o dólar também voltou a mostrar força e encerrou a sessão em alta de 1,13%, negociado a R$ 4,6598. Perto do horário de fechamento, no exterior, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar contra uma cesta de seis divisas fortes, subia 0,49%, para 99,48.
O principal índice da bolsa brasileira terminou o dia em queda de 1,97%, aos 118.885 pontos, em seu pior pregão desde o início de março. O movimento negativo foi mais acentuado nos papéis ligados a tecnologia e em ações sensíveis às variações nas taxas de juros. As units do Banco Inter caíram 8,89%; os papéis da Locaweb recuaram 6,73%; Americanas perdeu 6,26%; e Méliuz cedeu 5,71%. As ações das construtoras, que também costumam sofrer com a abertura da curva de juros, recuaram em bloco. Eztec recuou 5,08%, MRV cedeu 4,88% e Cyrela teve desvalorização de 3,35%.
“O mercado operou [ontem] em torno da discussão sobre os juros nos Estados Unidos”, pontuou Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group. “Há uma discussão sobre até qual nível a taxa de juros terá que subir para estancar o processo inflacionário americano”, afirmou.
Profissionais de mercado também explicam o movimento de ontem como um processo de realização de lucros. Após as empresas de maior capitalização da bolsa terem puxado os retornos do índice em um primeiro momento, uma recuperação de empresas mais ligadas à economia doméstica ganhou corpo no mês de março.
“Em um segundo momento do ano, cresceu a perspectiva de que a atividade econômica foi melhor do que a esperada e, com o Banco Central sinalizando o encerramento do ciclo de alta de juros, o investidor local começou a fazer um movimento de migrar para empresas menores”, afirmou o sócio e economista-chefe da Tower Three, Thiago Pereira.
Outro setor que vem se destacando negativamente no mês de abril é o bancário. Segundo profissionais de mercado, cresceram as incertezas relacionadas ao aumento de impostos, já que o governo estuda a possibilidade de implementar uma nova elevação na CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido). A notícia ganha força após meses de performance expressiva das ações do segmento financeiro, o que também contribui para que os investidores embolsem os lucros obtidos com os papéis.
“Aumento de impostos é sempre ruim, mas, nesse caso, como seria temporário, o impacto no lucro dos bancos não seria muito expressivo. Qualquer efeito nas ações por conta da medida seria justificado muito mais pela dificuldade de acreditar que a elevação é, de fato, temporária, do que pelo peso nos resultados corporativos”, afirma o analista de ações de uma gestora.
Ontem, as ações do Itaú caíram 2,35%, as preferenciais do Bradesco recuaram 2,74% e os papéis do Banco do Brasil cederam 2,74%. As units do Santander fecharam em queda de 2,26%.
Fonte: Valor Econômico

