Por Larissa Garcia, Valor — Brasília
24/11/2022 09h32 Atualizado
O Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) do Banco Central reiterou, na ata de sua última reunião divulgada nesta quinta-feira (24), que os mercados financeiros internacionais têm mostrado maior sensibilidade a “desenvolvimentos que afetem os fundamentos fiscais”, inclusive em países avançados.
“Esse ambiente favorece a materialização de cenários extremos de reprecificação dos ativos financeiros e consequente aumento dos custos de financiamento, público e privado, trazendo também potenciais implicações para a estabilidade financeira”, ressaltou.
Segundo o documento, a materialização de cenários extremos de reprecificação de ativos financeiros no mercado global pode levar a impacto significante sobre as economias emergentes.
“A combinação de inflação elevada, atividade em desaceleração e alta volatilidade nos mercados traz desafios para a comunicação das políticas monetária, fiscal e macroprudencial nesses países. A transparência, previsibilidade e credibilidade na condução dessas políticas são essenciais para mitigar os riscos sistêmicos”, complementou.
O BC destacou, ainda, que a continuidade da deterioração do cenário macroeconômico global “ainda não se traduziu em aumento relevante da inadimplência bancária”, mas continua levando bancos globais a elevar provisões de forma preventiva.
“Diante do cenário macroeconômico desafiador, várias jurisdições mantiveram ou aumentaram seus buffers contracíclicos de capital para fortalecer a resiliência dos bancos. Há sinais de desaceleração no mercado imobiliário das principais economias, a despeito dos preços de imóveis ainda estarem elevados para padrões históricos, caracterizando-se como fator de risco à estabilidade financeira”, disse o documento.
Os bancos centrais de outros países, segundo o Comef, reiteram que as instituições financeiras estão preparadas para enfrentar eventual materialização de cenários adversos.
Deterioração adicional
O Comef pontuou ainda, na ata, que o cenário global apresentou deterioração adicional desde a última reunião do colegiado, em setembro.
“A inflação continuou se elevando em grande parte das economias avançadas e emergentes, levando muitos bancos centrais a prosseguir com aumentos nas taxas básicas de juros e, em alguns casos, a anunciar mudanças em seus programas de compras de ativos. As perspectivas para o crescimento econômico global pioraram, com aumento da probabilidade de recessão ao longo dos próximos trimestres nas principais economias do mundo”, detalhou.
O BC apontou a evolução do cenário externo como um dos pontos de atenção, mas avalia que a exposição do sistema financeiro ao risco da taxa de câmbio é baixa e a dependência de financiamento externo é pequena.
“As condições financeiras globais ficaram mais restritivas. A eventual materialização de cenários extremos de reprecificação de ativos financeiros globais devido ao aperto monetário, ao aumento da volatilidade e à deterioração da liquidez em mercados sistemicamente relevantes, além dos riscos de recessão, pode levar a impacto significante sobre economias emergentes”, pontuou.
Segundo o documento, em meio à elevada incerteza acerca do cenário econômico global, a volatilidade dos ativos financeiros tem se elevado, reduzindo a liquidez em mercados sistemicamente relevantes, como os de títulos públicos de economias centrais.
“Ambientes de elevada incerteza, como o atual, favorecem que alguns riscos acumulados, especialmente no setor financeiro não bancário – decorrentes, por exemplo, da opacidade e da alavancagem elevada em fundos de pensão e ‘hedge funds’ em algumas dessas economias – possam se materializar”, disse a ata.
Nesse sentido, segundo a autoridade monetária, ações de bancos centrais têm se mostrado importantes “para endereçar disfuncionalidades temporárias e mitigar o risco sistêmico”.
Fonte: Valor Econômico
