Por Alex Ribeiro — De São Paulo
07/06/2022 05h00 Atualizado há 4 horas
Os analistas econômicos do mercado financeiro aumentaram as suas projeções de inflação para 2023, mas não acham que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vá combatê-la imediatamente. A aposta mediana é que o serviço seja feito com o adiamento dos cortes dos juros básicos previstos para o ano que vem.
Depois de uma interrupção de mais de um mês, o boletim Focus foi divulgado ontem, e aponta uma alta nas projeções de inflação para 2023, de 4,1% para 4,39%. Os analistas que atualizaram as suas previsões nos últimos cinco dias já se moveram para 4,5%. Os percentuais estão bem acima da meta de inflação do ano, estabelecida em 3,25%.
Os dados confirmam o que antecipou, na semana passada, levantamento do Valor com mais de cem instituições financeiras. Mas a pesquisa Focus representa a fotografia oficial que alimenta os modelos de projeção de inflação do BC, cerca de dez dias antes da reunião do Copom de junho.
Como o esforço de política monetária está, neste momento, voltado para controlar a inflação de 2023, em tese o Copom deveria reagir a essa piora de cenário elevando ainda mais os juros básicos da economia, além do que já estava nas contas. Mas não é isso que os analistas esperam, pelo menos na sua visão mediana.
As previsões do Focus para o fim do ciclo de alta de juros seguiram em 13,25%, sem alteração em relação ao percentual previsto em fins de abril. Ou seja, a aposta mediana do mercado é que o Copom suba os juros uma última vez, dos atuais 12,75% para 13,25% ao ano, em reunião na semana que vem.
Há, por outro lado, um grupo de economistas que espera mais juro, mas não é possível saber o quão numeroso é, já que o BC não divulgou o mapeamento da distribuição das expectativas.
O combate às mais recentes pressões inflacionárias, sugere a mediana do boletim Focus, seria feito por meio da manutenção de juros mais elevados no ano que vem. Ou seja, o Copom adiaria a distensão monetária prevista pelos analistas para 2023.
A mediana do mercado aponta uma taxa de juros de 9,75% ao ano ao final de 2023, acima dos 9,25% estimados em fins de abril. Os analistas que atualizaram as suas projeções nos últimos cinco dias úteis já apontam uma Selic em dois dígitos, em 10,13% ao ano. Caso se confirme essa estratégia de adiar o combate da inflação, deixando os juros mais altos em 2023 em vez de subir mais agora, significará que o Copom vai adiar o cumprimento da meta de inflação para 2024.
Infelizmente, o Banco Central divulgou apenas um levantamento parcial das projeções de inflação de mercado, sem incluir o que o mercado está esperando de 2024 em diante. Assim, não é possível saber, no momento, se essa percepção do mercado de que haverá um adiamento precoce do cumprimento da meta está causando algum prejuízo para as expectativas de longo prazo.
De certa forma, o próprio Banco Central levou o mercado a apostar num possível adiamento do combate da inflação, depois que o Copom sinalizou, na ata da sua última reunião, uma disposição para parar de subir os juros, a menos que houvesse uma deterioração adicional no cenário inflacionário.
Muitos no mercado acham que a dose de juros para cumprir a meta de 2023 seria desproporcional, por isso defendem uma queda mais suave da inflação.
A deterioração das expectativas ocorreu depois da divulgação de um IPCA mais alto do que o esperado referente a abril e, sobretudo, depois que a prévia da inflação de maio mostrou uma piora nos núcleos e nos preços de serviços. Na quinta, sai o IPCA cheio de maio.
No mês passado, o diretor de política monetária do BC, Bruno Serra Fernandes, disse num evento que a autoridade procura, em sua estratégia de política monetária, minimizar as flutuações na taxa básica. Nos dias seguintes, ele se corrigiu, dizendo que o Copom vai reagir a eventuais surpresas negativas nos índices de inflação, com vistas a cumprir a meta de inflação de 2023.
Em parte, as projeções do BC refletem o deslocamento natural do horizonte de política monetária. Na reunião que acontece na semana que vem, o Copom estará 100% focado na meta de inflação de 2023. Já no encontro seguinte, em agosto, o BC estará 75% focado na meta de 2023 e 25% na de 2024.
Fonte: Valor Econômico

