Por Gabriel Caldeira e Matheus Prado — De São Paulo
10/11/2023 05h05 Atualizado há 6 horas
Os mercados globais deram uma pausa no movimento de descompressão visto desde o início de novembro na sessão de ontem, após o leilão de Treasuries de 30 anos decepcionar e Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano), fazer comentários mais conservadores sobre a condução da política monetária nos Estados Unidos. Assim, juros subiram, bolsas caíram e o dólar se fortaleceu globalmente.
O rendimento da T-note de dez anos avançou de 4,506% a 4,624%; e o do T-bond de 30 anos aumentou de 4,617% para 4,773%. Já o índice Dow Jones fechou em baixa de 0,71%, aos 33.871,43 pontos, o S&P 500 recuou 0,81%, a 4,347.35 pontos, e o Nasdaq caiu 1,01%, para 13.512,27 pontos.
Apesar da performance melhor que a dos pares americanos ao longo do dia, os ativos locais também foram afetados e fecharam com performance negativa: a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 avançou de 10,785% no ajuste anterior para 10,825%, o dólar subiu 0,69%, a R$ 4,9409, e o Ibovespa recuou 0,12%, aos 119.034 pontos.
O mau humor em Nova York se estabeleceu após um leilão de Treasuries de 30 anos apresentar retorno máximo de 4,769%, cerca de 5 pontos-base acima da taxa negociada pelo mercado antes da oferta. Além disso, os chamados “dealers”, parcela dos investidores mais sensíveis ao prêmio dos títulos e menos aos prazos, ficaram com 25% do volume ofertado, indicando uma demanda fraca de “players” institucionais e externos.
Analistas de renda fixa do BMO Capital Markets, Ian Lyngen e Ben Jeffery ressaltam que o leilão “não é um bom presságio” às esperanças de recuperação dos Treasuries após um terceiro trimestre de fraca demanda pelos títulos. Segundo eles, a diferença entre o rendimento máximo de um leilão de T-bonds de 30 anos e o retorno negociado no mercado só não foi maior em duas ocasiões em toda a série histórica. “Poderia ter sido pior, mas raramente é. Independentemente do fato de os resultados preocupantes do leilão desencadearem um novo aumento nas taxas, não há dúvida de que não foi um grande dia para o Tesouro.”
Após o leilão, o discurso de Powell durante painel organizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) terminou de azedar o sentimento. Entre os vários comentários de tom conservador, o banqueiro central afirmou que o Fed voltará a elevar os juros se achar necessário e que ele ainda considera os riscos de não controlar a inflação mais importantes do que a possibilidade de aperto excessivo da política monetária.
As falas se somaram à orientação mais “hawkish” da diretora do Fed Michelle Bowman e do presidente da distrital de Richmond, Thomas Barkin. Já a preocupação de que a política monetária esteja restritiva demais, expressada pelo presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, ficou em segundo plano para o mercado.
“Qualquer avaliação de que o compromisso de Powell sobre a narrativa de ‘juros altos por mais tempo’ diminuiu será expressado pelo mercado por meio de uma queda nos juros de curto prazo. É esse cenário que complica a tarefa do Fed de manter as taxas de juros e as condições financeiras suficientemente rígidas para atingir seu objetivo de restabelecer a estabilidade de preços”, dizem Lyngen e Jeffery ao avaliarem o motivo para a virada no discurso de Powell.
Os comentários de Powell não só apoiaram o “sell-off” (venda generalizada) de ações e Treasuries, como também impulsionaram o dólar em comparação com outras moedas de economias desenvolvidas. Assim, o índice DXY terminou a tarde em Nova York em alta de 0,30%, a 105,906 pontos, após oscilar próximo à estabilidade na maior parte do dia.
Na seara macroeconômica, o único indicador relevante do dia foi a queda dos pedidos por seguro-desemprego na semana encerrada no dia 4, a 217 mil. O número veio ligeiramente acima do previsto e mostra como o mercado de trabalho dos EUA está apertado demais para que o Fed dê como encerrado o ciclo de aperto.
“Atualizamos nossas previsões econômicas e agora vemos a geração de empregos permanecendo mais resiliente, com um pico menor na taxa de desemprego. Isso retardará o ajuste no mercado de trabalho e manterá o crescimento dos salários mais alto por mais tempo. Como é improvável que o Fed esteja confiante de que a inflação está em um caminho sustentável para a meta de 2%, adiamos para setembro de 2024 o início dos cortes de juros em relação à previsão anterior de maio”, diz Michael Pearce, economista-chefe para EUA da Oxford Economics.
Fonte: Valor Econômico

