O mercado se surpreendeu — e muito — com o desempenho da atividade econômica neste início de ano. Divulgados ao longo da semana, os resultados referentes a janeiro do comércio varejista, do volume de serviços prestados e da geração de empregos formais superaram as estimativas do mercado. Assim, mesmo tendo em mãos apenas os dados de um único mês, já há no mercado quem adote um viés altista em relação às projeções de crescimento deste ano.
Na virada do ano, o Relatório Focus, elaborado pelo Banco Central, apontava que a mediana das expectativas dos economistas de mercado para o crescimento deste ano estava em 1,52%. No boletim mais recente, estava em 1,78%, número que pode sofrer revisões altistas adicionais.
Durante a semana, as surpresas no desempenho dos indicadores de atividade foram várias: na quinta-feira, as vendas no varejo restrito subiram 2,5%, muito acima da estabilidade (+0,1%) esperada pelos agentes. Um dia depois, foi a vez do volume de serviços prestados surpreender, ao contrariar a expectativa de queda (-0,5%) e anotar alta de 0,7%. Já o mercado de trabalho provou de uma vez por todas que continua bastante aquecido, ao mostrar uma geração de 180 mil empregos formais em janeiro, mais que o dobro do apontado pelo consenso.
“O Brasil está bem posicionado para continuar crescendo neste ano, com o PIB avançando em 2,2%, acima do consenso”, dizem os economistas Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira, do J.P. Morgan. “Incluímos na nossa perspectiva dados mais fracos em janeiro. No entanto, parece que a recuperação veio um pouco mais cedo que o esperado.”
O “tracking” do J.P. Morgan para o crescimento do primeiro trimestre indica uma expansão de cerca de 1% em relação aos três meses imediatamente anteriores, bem acima da estimativa oficial do banco, que aponta para um crescimento de 0,6% entre janeiro e março. “Apesar desse sinal de risco altista, mantivemos inalteradas as nossas previsões de crescimento do PIB, uma vez que esperamos que parte da força da economia seja compensada por uma produção agrícola decepcionante”, afirmam Fernandez e Moreira em nota enviada a clientes.
O economista-chefe da Novus Capital, Tomás Goulart, revela que a gestora também foi surpreendida pelos dados. “Nós já tínhamos um viés mais positivo para o PIB, principalmente para o do primeiro trimestre, que levaria a um crescimento de 2% no ano, mas nós imaginávamos que esse PIB ficaria forte ali em março, conforme fossem sendo divulgados os dados do mês. Janeiro já começou muito forte, tanto comércio quanto serviços, e com um mercado de trabalho que está com um nível de contratação de 100 mil a mais que o esperado”
Em podcast semanal da gestora, Goulart avalia que a atividade está pujante, o que condiz com o que está acontecendo ao redor do mundo, “muito provavelmente também ligada a um fiscal expansionista”. O “tracking” da Novus para o PIB do primeiro trimestre indica um crescimento de 0,8% no momento. “Ainda temos os números de fevereiro e março, mas, a depender do que acontecer, vamos discutir se o PIB não vai ser entre 2% e 2,5% novamente no ano. São números de atividade muito fortes, que batem no processo decisório do Banco Central”, alerta o economista.
Vale notar que algumas poucas casas já promoveram revisões em suas projeções durante a semana. Foi o caso do banco francês Natixis, que elevou a estimativa para o PIB deste ano de 1,7% para 1,9%, além de esperar um crescimento de 2% em 2025. “Nossa conclusão é de que a demanda interna está viva e saudável”, diz o economista-chefe para Américas do Natixis, Benito Berber, ao notar, em especial, o forte desempenho do comércio varejista no início do ano.
O C6 Bank foi outra casa a aumentar suas estimativas para o PIB deste ano, cuja expansão esperada passou de 2,2% para 2,4%. “A economia brasileira perdeu fôlego e registrou estagnação no segundo semestre de 2023, mas essa pausa deve ser temporária. Em 2024, o aumento das despesas do governo e das exportações deve voltar a impulsionar o crescimento econômico”, avalia o economista-chefe do banco, Felipe Salles.
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Cassiana Fernandez, economista-chefe do J.P. Morgan Brasil, projeta crescimento de 2,2% neste ano — Foto: Foto: Claudio Belli/Valor
Fonte: Valor Econômico

