A discussão em torno das eleições de 2026 ainda não entrou de forma relevante na conta dos investidores e uma eventual precificação não deve ocorrer tão cedo, avalia Bruno Marques, gestor macro da XP Asset Management. “A meu ver, os investidores queriam começar a discutir esse tema, mas foram interrompidos [pelas questões tarifárias dos Estados Unidos]”, afirma.
De acordo com Marques ainda há muita incerteza em torno dos nomes da oposição para que os agentes do mercado consigam colocar algo mais concreto no preço dos ativos domésticos. “Tem muita água para passar por baixo da ponte. Não consigo ver isso sendo discutido seriamente nos próximos dois meses. Questões macroeconômicas e desenvolvimentos relativos às medidas de [Donald] Trump devem continuar como principais ‘drivers’”, enfatiza o profissional.
Ao fazer um balanço do mês de julho, Marques aponta que, apesar da valorização do dólar de 3% frente ao real, o câmbio foi o ativo local que menos sofreu com a deterioração causada pelas incertezas em torno das tarifas americanas. “O Brasil teve uma performance ruim neste último mês, mas isso foi precificado de forma diferente em cada ativo. A bolsa foi mais impactada, entre outros motivos, porque os juros altos atrapalham mais ela, enquanto o câmbio acaba tendo a depreciação amortecida por essas taxas mais elevadas”, diz.
São os juros mais elevados que ajudam a explicar a volatilidade mais contida da moeda neste último mês. Dados compilados pelo Valor apontam que a volatilidade realizada e anualizada em julho ficou em torno de 8,82% (bem abaixo dos 20,4% observados em abril).
“Quando os juros sobem por conta da política monetária bem conduzida, a volatilidade tende a cair. Já quando os juros sobem por conta do aumento no prêmio de risco, a volatilidade tende a subir. Dá para dizer que o Banco Central tem realizado uma política monetária bem feita neste ano, e isso acaba tendo um efeito de reduzir a volatilidade, o que, por sua vez, ajuda a capturar o carrego [do diferencial de juros] da moeda.”
Marques diz ainda ser cedo para ver uma retomada do dólar globalmente, como parte de operadores e economistas têm sugerido nos últimos dias, diante de acordos comerciais firmados pelos Estados Unidos e após dados fortes divulgados nos últimos dias.
“De fato, o pior cenário desenhado para a economia americana não foi materializado. Por isso, neste último mês, vimos o mercado reverter parte dessa dinâmica de dólar fraco. Mas há pontos que permanecem inalterados: teremos, sim, impactos no crescimento dos EUA por conta das tarifas; há também um quadro fiscal muito pior do que era imaginado; e, na Europa, ainda há um impulso fiscal relevante no horizonte”, aponta o gestor, acrescentando que, no longo prazo, o dólar deve voltar a depreciar, mas não de forma monotônica, como foi a dinâmica na primeira metade do ano.
Fonte: Valor Econômico

