Os mercados foram surpreendidos pelo tom mais conservador adotado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que levou a uma alta firme das taxas futuras, que subiram em bloco. O exterior reforçou o movimento, com a pressão dos Treasuries após dados mais fortes da economia americana. Houve reflexos, ainda, no mercado de câmbio, com a valorização do dólar frente ao real, enquanto a bolsa brasileira ficou no zero a zero. Ainda assim, prevalece entre os investidores o otimismo com posições aplicadas em juros – que se beneficiam da queda das taxas -, ainda que o mercado já tenha adiado parte da precificação de cortes na Selic.
Perdeu ainda mais força a aposta de uma parte dos investidores quanto a uma redução da taxa básica de juros em dezembro. Na B3Cotação de B3, as opções digitais mostram que a probabilidade de manutenção da Selic em 15% na última reunião do Copom deste ano subiu de 70% para 78%. Na curva de juros, isso se refletiu em uma alta generalizada: entre os trechos de curto prazo, a taxa do DI para janeiro de 2027 subiu de 13,925% para 13,995%; já na ponta longa, a taxa do DI para janeiro de 2031 avançou de 13,225% para 13,275%.
Parte do movimento, especialmente nas taxas de longo prazo, guarda relação com a piora na dinâmica do mercado de Treasuries, onde houve uma pressão de alta nos juros com uma baixa demanda em um leilão de títulos indexados à inflação (TIPS) e com dados de emprego mais fortes que o esperado. O mercado partiu para embutir na curva americana juros mais altos no longo prazo, enquanto as taxas mais curtas foram afetadas por fatores domésticos, diante do tom duro do Copom.
Era esperado que, com a indicação implícita de que a autoridade monetária não pretende reduzir a Selic tão cedo, o câmbio observasse uma rodada adicional de apreciação. O exterior, porém, falou mais alto e fez o dólar encerrar o pregão em alta de 0,33%, negociado a R$ 5,3189 no mercado doméstico. Já o Ibovespa seguiu o script, ainda que de forma contida, ao cair 0,06%, aos 145.499 pontos.
As teses do mercado, contudo, seguem iguais, ao menos por enquanto. O diretor de investimentos (CIO) da MAG Investimentos, Claudio Pires, avalia que, ainda que haja uma piora institucional nos EUA, que possa pressionar os juros de longo prazo no mundo, o ciclo de flexibilização monetária ajuda a elevar o diferencial de juros do Brasil, o que tende a favorecer o real. Para Pires, o dólar pode escorregar para um nível entre R$ 5,15 e R$ 5,20, o que abriria espaço adicional para um ciclo de redução da Selic, mesmo que o início possa demorar mais, como sugere a comunicação do Copom.
A MAG mantém posições aplicadas na curva de juros nominais por entender que, em breve, haverá espaço para cortes na taxa de juros, ainda que não tão cedo quanto parte do mercado espera.
“Estamos aplicados nos vértices de 2028 e 2029, pois o cenário mais ‘macro’ indica que vamos ter uma possibilidade de algum afrouxamento monetário. Uma Selic de 15% com uma projeção de inflação em torno de 4% gera um juro real muito alto… Muito em breve haverá um espaço para deixar a política monetária menos contracionista”, diz Pires, que opta por se concentrar nos juros de prazo intermediário, por acreditar que, na ponta curta, o nível precificado de cortes já está “justo”.
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O estrategista sênior para América Latina do BNP Paribas, Mario Castro, concorda e vê o DI para janeiro de 2029 como o “ponto ótimo” de entrada para se ganhar com a expectativa do mercado pelo início do ciclo, no momento em que os cortes em si parecem “relativamente distantes”.
“As taxas locais provavelmente manterão uma tendência de queda, à medida que o mercado se prepara para o próximo ciclo de flexibilização, enquanto o real deve continuar a se beneficiar do comportamento de busca por carrego de juros”, afirma.
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Uma visão favorável para o real também é defendida pelo diretor de investimentos de wealth e private da EQI, Ricardo Cará Monteiro, ao avaliar que há um “movimento estrutural de depreciação do dólar no mundo”. O dólar mais fraco é “uma diretriz do governo americano”, enfatiza o executivo.
Na questão política e eleitoral, o diretor da EQI diz que o mercado de câmbio deve até ficar mais volátil quando começarem a surgir nomes das candidaturas, mas que dificilmente haverá uma definição agora que mude a perspectiva de que a disputa será apertada. “A eleição em si é o grande ponto de virada da moeda, seja para cima ou para baixo. Pode ser um resultado que leve o dólar abaixo de R$ 5 novamente ou um resultado que faça o dólar voltar para um nível próximo a R$ 6.”
Fonte: Valor Econômico

