25/04/2022 05h01 Atualizado há 7 horas
O mercado financeiro espera até amanhã uma comunicação pública do Banco Central sobre como vai reagir à surpresa da inflação de março, antes do começo do período de silêncio do Comitê de Política Monetária (Copom). Sem um novo sinal, o manejo da política monetária deverá seguir a reação usual, refletindo a inflação esperada pela instituição para 2023.
Autoridades do Banco Central falaram bastante com investidores nas reuniões que ocorreram em paralelo ao encontro de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington. A rigor, não houve nada de novo em relação ao que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, havia dito há duas semanas: ele basicamente temperou aspectos preocupantes e menos preocupantes do índice de inflação bem salgado de março. Mas ficou passos atrás de sinalizar como o juro vai reagir a esse indicador, o que é natural, já que uma mensagem desse tipo só poderia ser feita em um evento aberto.
O que o mercado quer saber: o BC vai prosseguir com a alta de juros depois da reunião de maio, para quando está sinalizada uma elevação de 11,75% ao ano para 12,75% ao ano? Na última reunião do Copom, em março, o colegiado indicou que o mais provável é que pare por aí. Essa sinalização estava condicionada a uma projeção de inflação no cenário A, com o preço dos petróleo a US$ 100 o barril no fim deste ano. O que os modelos dizem é que, dessa forma, será possível cumprir a meta de inflação de 2023, estabelecida em 3,25%. Mas o BC deixou uma porta aberta para ir mais longe, se o cenário inflacionário piorar.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, que fechou em elevado 1,62%, levou o mercado financeiro a embutir uma chance maior de o ciclo de aperto se estender além de 12,75% ao ano. Com a greve dos servidores do Banco Central, não está mais sendo divulgado o boletim Focus, com expectativas de mercado. Um levantamento da XP Investimentos indica que a taxa deverá ir a 13,25% ao ano.
Mas está todo mundo esperando um novo sinal público de Campos Neto, já que no começo do mês ele falou numa live da Arko Advice e do Traders Clube (TC) que iria analisar os dados da inflação de março e que faria uma comunicação ao mercado sobre as suas conclusões para a política monetária.
Campos Neto repetiu basicamente o que já havia afirmado. Primeiro, que uma parte da aceleração da inflação de março se devia a um repasse mais rápido para os preços dos postos de gasolina da alta dos combustíveis feita pela Petrobras. Como houve uma antecipação, é esperado que os índices logo adiante tenham uma compensação.
Outro ponto repetido por Campos Neto: os analistas do mercado financeiro parecem estar subestimando o efeito da queda do dólar nas suas projeções de inflação. Desde o começo de abril ele vem lembrando que, quando se considera em conjunto a valorização recente do dólar e as cotações internacionais das commodities, os preços de alimentos e de metais ficaram estáveis ou mesmo caíram.
O chefe do BC também tem chamado atenção, já faz algum tempo, sobre os efeitos defasados das altas de juros feitas desde o ano passado sobre a inflação. Esse recado tem dois desdobramentos. Primeiro, que alta dos juros foi grande, depois de a Selic sair de 2% ao ano no começo de 2021. Toda essa dose de juros vai bater na atividade econômica, e depois na inflação, sobretudo no segundo semestre deste ano. Outra implicação é que os juros não devem reagir à inflação corrente, mas sim à inflação no horizonte relevante de política monetária – que atualmente é o ano-calendário de 2023.
Campos Neto inclusive deixou escapar que a inflação de março havia sido uma “pequena” surpresa.
Mas também há o lado do discurso de Campos Neto mais preocupado. Ele citou, em especial, a surpresa na inflação de vestuário e alimentação fora de domicílio. Também disse que os núcleos de inflação estão bem altos. Por fim, indicou, pela primeira vez, uma possível preocupação com a alta dos salários. “Talvez alguma coisa de salário que a gente começa a ver, que tem sido mais no curto prazo”, disse.
Na reunião do FMI, em diferentes eventos, Campos Neto voltou a citar fatores positivos e negativos, como quem está pensando alto sobre o que fazer. É uma estratégia que coloca dúvidas na cabeça do mercado, que olhou só o lado negativo do IPCA, sem pesar o lado positivo. Isso esvazia um pouco as apostas em altas mais fortes de juros.
Nesta segunda-feira, não há nenhum evento público de dirigentes do BC, por isso o último dia para uma eventual sinalização é amanhã. Sem uma indicação clara do que pretende fazer, a reação do BC deverá seguir o padrão usual. O Copom vai projetar a inflação para 2023 e verificar se o balanço de riscos ficou mais negativo ou melhorou. Se a inflação esperada, levando em conta esses dois componentes, estiver na meta, não será preciso uma dose maior de aperto monetário.
É possível que o Banco Central encontre uma inflação perto da meta? Não se pode descartar essa hipótese. Provavelmente, o Banco Central vai rodar o modelo usando um juro de 13,25% esperado pelo mercado. Juro mais altos levam a inflação menor nas projeções, mas por outro lado significam que o Copom terá que seguir subindo os juros até 13,25%, com uma alta final em junho.
Outro ponto que pode ajudar as projeções do Banco Central é a cotação do dólar. Os modelos do Copom usam a cotação corrente da moeda, que fechou em R$ 4,80 na sexta-feira. O mercado trabalha com uma cotação de R$ 5,00 no fim do ano, porque antevê os efeitos das eleições e do aperto monetário americano na taxa de câmbio. Se o câmbio subir, porém, a projeção do BC piora. Na sexta, a autoridade monetária vendeu US$ 571 milhões para conter a alta provocada por uma sinalização mais dura sobre juro do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell.
Por outro lado, se o BC achar uma inflação na meta em 2023, mesmo com juro de 13,25% ao ano, poderá haver questionamentos. O mercado espera um IPCA perto de 4%, segundo levantamentos informais de expectativas.
Fonte: Valor Econômico

