É com ansiedade que os participantes do mercado aguardam o comunicado da decisão desta semana do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, no momento em que há dúvidas sobre como o colegiado se comunicará em relação aos próximos passos na condução dos juros.
Se o sinal que tem sido dado desde agosto – de mais dois cortes de 0,5 ponto na Selic – for mantido, o Copom indicará que a Selic deve chegar a pelo menos 9,75% no ciclo. Uma alteração nessa indicação, porém, pode ser lida como um grau a mais de cautela pelo colegiado, o que pode reforçar uma leitura mais “hawkish” (conservadora) pelos participantes do mercado.
A possibilidade de alteração do “forward guidance” (prescrição futura) se fortaleceu na última semana. Com surpresas muito relevantes no desempenho do comércio varejista, do setor de serviços e do mercado de trabalho em janeiro, o ajuste altista no mercado de juros foi relevante e a curva encerrou a semana precificando uma Selic entre 9,5% e 9,75% neste ano.
O Valor consultou instituições financeiras sobre as expectativas para o “guidance” e, das 100 respostas obtidas, 65 esperam a continuidade da orientação semelhante às outras reuniões, enquanto 35 acreditam que haverá alguma alteração na orientação futura do Copom para a taxa de juros.
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“É hora de modificar o ‘forward guidance’”, defende o economista-chefe do Citi Brasil, Leonardo Porto. “Do jeito que ele está hoje, se for mantido, vai criar uma inconsistência, diante de um conjunto de informações que, na margem, piorou”, afirma Porto, ao lembrar que o BC foi surpreendido em 0,47 ponto com os dados de inflação de janeiro e fevereiro, o que pode resultar em uma alta nas projeções do Copom; e ao apontar que houve uma piora no balanço de riscos.
Porto nota que o Copom coloca a inflação de serviços mais resiliente como um dos componentes do balanço de riscos e avalia que o erro na projeção do BC para o IPCA dos dois primeiros meses do ano “provavelmente foi ligado à inflação de serviços”. A média móvel de três meses da inflação de serviços subjacentes passou de 5,37% para 5,96% no IPCA de fevereiro, em base anualizada e dessazonalizada, um número bastante pressionado.
“Por isso esperamos que ele modifique. O que eu acho mais razoável é que o BC tenha que enfraquecer o compromisso de que irá cortar os juros em 0,5 ponto nas próximas duas reuniões. O ritmo de cortes pode ser avaliado com dados que serão divulgados a posteriori. É possível se comprometer com cortes adicionais, mas não com o ritmo de 0,5 ponto. O BC precisa aumentar os graus de liberdade para as próximas reuniões”, diz Porto.
Já o superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco, Fernando Gonçalves, espera que o Copom mantenha o “guidance” inalterado, com mais duas reduções de 0,5 ponto nos juros. A visão do banco, porém, é de que o colegiado irá começar a sinalizar que a sinalização será alterada no futuro. “As autoridades podem acrescentar um ‘neste momento’ à frase.”
A manutenção do plural, mesmo que com alguma qualificação, se justifica pelo fato de ainda haver alguma distância até o fim do ciclo de cortes, diz Gonçalves. “Se nesta próxima reunião ele cortar em 0,5 ponto e mantiver a prescrição futura como está, com mais dois cortes a Selic iria para 9,75%. Ainda acho que é uma distância razoável para a taxa de fim de ciclo. Daria para tirar esse ‘guidance’ mais à frente”, defende o profissional.
Gonçalves destaca, ainda, que o comunicado atual já inclui condicionalidades na prescrição futura. “Eles podem ressaltar esse ponto de alguma maneira no próximo comunicado; que se o cenário mudar numa direção muito importante do que imaginam, isso pode acabar com o ‘forward guidance’ de uma hora para a outra”, aponta.
Ao avaliar as declarações de dirigentes do BC desde janeiro, o economista-chefe da Truxt Investimentos, Arthur Carvalho, acredita que há um desejo no Copom de manter o “guidance” com o plural em “próximas reuniões”. “Eles têm elogiado a efetividade na comunicação e têm dito que isso reduz a volatilidade nos preços de ativos, então veem essa comunicação com consequências bem positivas.”
Para Carvalho, porém, a atitude mais acertada seria a retirada do plural. “Já passamos da metade do ciclo. Para que prometer tanto tempo à frente com um cenário tão incerto? Acredito que, nesta fase, não é necessário se comprometer mais”, opina. “A retirada do plural não mudaria o meu cenário base, mas daria ao BC mais flexibilidade para fazer o que é necessário.”
O economista acredita que o BC deve manter o ritmo de cortes de 0,50 ponto ao menos nas próximas três reuniões. “O cenário está bem benigno, mais do que nós esperávamos”, diz. Ele projeta uma inflação de 3,2% neste ano, próxima do centro da meta. Entretanto, a expectativa para 2025 está em 3,6% devido à inflação de serviços, já que “o mercado de trabalho está muito apertado, a economia já desacelera e o crédito mostra vigor”.
Fonte: Valor Econômico

