Por Crispian Balmer — Reuters, de Roma
23/09/2022 05h02 Atualizado há 3 horas
As eleições parlamentares da Itália no domingo poderão fazer história, dando ao país a sua primeira premiê, à frente do governo mais direitista desde a 2ª Guerra.
O partido nacionalista Irmãos da Itália (Fratelli d’Italia, FdI) de Giorgia Meloni, mal conseguiu 4% dos votos em 2018, mas tinha cerca de 25% na últimas pesquisas. Ele lidera uma coligação com outros dois partidos conservadores que deve obter maioria parlamentar. “Há essa ideia na Itália de que já tentamos com todos os outros e que, portanto, temos de tentar com ela agora”, diz Wolfango Piccoli, presidente adjunto da consultoria de risco político Teneo.
Se a durona Meloni for bem-sucedida, ela enfrentará uma série imensa de desafios que incluem a disparada dos preços da energia, um endividamento sufocante, uma possível recessão e um conflito cada vez mais perigoso na Ucrânia. Romana, de 45 anos, que promete reprimir a imigração e cortar os impostos, ela também terá de lider com grandes expectativas.
O premiê que está de saída, Mario Draghi, respeitadíssimo ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), era visto como uma figura tranquilizadora pelos investidores, mas renunciou em julho depois de um racha na base de apoio do seu governo de união nacional.
Diferentemente dos demais líderes de grandes partidos, Meloni se recusou a fazer parte da coalizão de Draghi e, por isso, viu sua popularidade disparar nas bancadas da oposição, onde ela habilmente denunciou as dolorosas medidas adotadas pelo governo para enfrentar a crise da covid-19.
“Meloni é uma grande comunicadora, mas enfrentará problemas econômicos significativos e não tem muita experiência, de modo que ela provavelmente não terá uma lua de mel longa”, diz Piccoli.
Não está claro com que bancada Meloni poderá contar no Parlamento. Por lei, é proibido divulgar pesquisas de intenção de voto nas duas semanas que precedem a votação. Assim, as últimas sondagens estão desatualizadas. É possível que sua coligação tenha uma maioria menor que a prevista pelas últimas pesquisas. Ou até não consiga maioria, abrindo caminho para o tipo de instabilidade política que regularmente aflige a Itália.
Duas semanas atrás, o bloco de direita – que inclui ainda a Liga, de Matteo Salvini, e o partido Força Itália, de Silvio Berlusconi – tinha cerca de 45% das intenções de voto, o que poderia render quase 60% das cadeiras no Parlamento. Mas, de lá para cá, houve muita especulação de que a Liga, sob ataques constantes em razão de seus laços históricos com o presidente russo, Vladimir Putin, perdeu apoio, enquanto o Movimento 5 Estrelas, de tendência mais esquerdista, subiu.
Contribuindo para as incertezas está o fato de que os eleitores estarão elegendo um Parlamento enxuto, com o número de cadeiras na Câmara reduzido de 630 para 400, enquanto o Senado passará de 315 para 200. Isso complica os esforços de previsão do resultado das eleições. “Um efeito da redução do número de cadeiras no Senado é que será preciso relativamente pouco em termos de porcentagem para passar de uma grande maioria para uma maioria reduzida”, diz Lorenzo Pregliasco, presidente do instituto de pesquisas YouTrend.
A campanha eleitoral foi travada nas sombras de um verão sufocante na Itália, com poucos sinais de interesse dos eleitores e nenhum debate na TV entre os líderes dos vários partidos. O bloco de direita fez promessas de cortar impostos, reduzir a idade de aposentadoria e impedir que imigrantes cheguem à Itália de barco, vindos do norte da África, com Meloni sugerindo um bloqueio naval para evitar a entrada de refugiados.
Críticos afirmam que isso seria ilegal e impraticável. O Movimento 5 Estrelas prometeu proteger os benefícios de bem-estar social para os pobres – mensagem que repercutiu no sul do país, menos rico, que líderes de todo o espectro político vêm percorrendo nos últimos dias, na ânsia por conquistar um exército de eleitores indecisos.
O principal partido de centro-esquerda, o Partido Democrático, vem alertando repetidamente que a eleição de Meloni seria perigosa por causa das origens neofascistas do FdI e seus laços com o líder nacionalista húngaro, Viktor Orbán, acusado pela União Europeia (UE) de violar o Estado de direito. O candidato a premiê do PD é Enrico Letta, que já foi primeiro-ministro. Ele depende de uma grande surpresa na votação para ter alguma chance de governar a Itália novamente.
Meloni minimizou seu passado de extrema-direita, afirmando que seu grupo é uma força dominante parecida com o Partido Conservador, do Reino Unido, que apoia a Ucrânia na guerra contra a Rússia. Mas, durante a campanha, ela foi cuidadosa para não afugentar os principais apoiadores ligados à ultradireita.
“Sonho com uma nação na qual as pessoas que tiveram de abaixar a cabeça por muitos anos, fingindo que têm ideias diferentes para não serem excluídas, agora possam dizer o que pensam”, afirmou em um comício no início desta semana.
A votação será no domingo, das 7 às 23 horas (local). Resultados completos devem ser anunciados na manhã de segunda-feira. Ainda que haja um vencedor claro, o próximo governo só deverá assumir no fim de outubro ou novembro.
Fonte: Valor Econômico
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