Por Gabriel Roca, Valor — São Paulo
28/07/2023 14h49 Atualizado há 2 dias
A melhora na dinâmica inflacionária, ao mesmo tempo em que a economia exibe sinais de desaceleração e que as projeções de inflação de longo prazo se aproximaram da meta perseguida pelo Banco Central, deve formar um conjunto suficiente de condições para que o Comitê de Política Monetária (Copom) inicie o ciclo de flexibilização monetário com um corte de 0,5 ponto percentual na decisão de quarta-feira, na visão da economista-chefe do Bocom BBM, Cecilia Machado.
De acordo com ela, a última comunicação do Copom foi bastante clara em abrir a porta para o início do ciclo de cortes de juros e a autoridade também citou três condições importantes para a condução da política monetária. “O BC queria observar as expectativas mais longas de inflação convergindo para a meta, queria ver uma desaceleração da atividade consistente com o grau de aperto já produzido e queria ter mais confiança no processo da dinâmica desinflacionária”, enumera.
Nesses três aspectos, segundo a economista, houve melhoras substanciais desde a última reunião do Copom. “A meta foi mantida em 3% e, depois disso, vimos alguma convergência das expectativas mais longas de inflação. O segundo ponto é em relação à desaceleração da economia e já estamos vendo, no segundo trimestre, sinais de que a política monetária está atuando, seja no mercado de crédito ou nos dados, como o IBC-Br e as vendas no varejo. É possível perguntar se é suficiente, mas a trajetória está indo na direção dos cortes”, aponta.
Por fim, Machado se mostra surpresa com a dinâmica desinflacionária, que tem sido guiada principalmente pelos impactos dos preços de bens industriais e de commodities energéticas, que têm efeitos secundários e influenciando também uma melhora nos componentes mais inerciais da inflação.
“A leitura do IPCA de junho trouxe algumas dúvidas, especialmente sobre a trajetória dos serviços subjacentes. Já o IPCA-15 de julho, divulgado na terça-feira, minimizou boa parte destas preocupações. Assim, todos os itens que o BC queria checar vão se materializando”, aponta. “Os dados têm surpreendido muito nessa direção de mostrar um pouco mais de confiança no processo desinflacionário.”
Nesse sentido, de acordo com a economista, um dos pontos mais importantes a ser observado na decisão do Copom será como o colegiado vai sinalizar a trajetória dos cortes, uma vez iniciado o ciclo de afrouxamento. “Uma forma que ele tem de mostrar preocupação é sinalizar que está iniciando o ciclo, mas vai continuar sendo dependente dos dados, que segue preocupado com os núcleos e com a inflação de serviços e que deve manter o ritmo neste início de ciclo em que a política monetária está ficando menos restritiva”, afirma.
Outro fator citado por Machado que iria na direção de uma redução maior na quarta-feira seria o “orçamento” grande de cortes que o Banco Central dispõe antes de que as taxas de juros se aproximem do território neutro.
Fonte: Valor Econômico

