Melhorar transparência, independência e comunicação dos bancos centrais ajuda a gerir de maneira mais eficaz as expectativas de inflação futura e aumenta as chances de os países alcançarem um “pouso suave” após o ciclo de aperto monetário, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI) no “Capítulo 2” do relatório “World Economic Outlook”.
Em artigo no blog da instituição, assinado pela economista do Departamento de Pesquisa, Silvia Albrizio, e pelo vice-chefe de divisão, John Bluedorn, o órgão afirma que “ao promover aumento no percentual de agentes [do mercado] com uma visão mais orientada para as perspectivas futuras [da inflação], bem como maior transparência [na condução da política monetária] e melhorias nas estratégias de comunicação, os bancos centrais podem ajudar a trazer a inflação de volta à meta mais rapidamente e com um custo para a produção mais baixo”.
De acordo com os especialistas do FMI, “as expectativas sobre a inflação futura desempenham um papel fundamental na condução do movimento de variação de preços às metas”. Conforme o relatório, “as opiniões [de agentes econômicos] influenciam as decisões sobre o consumo e investimento que podem afetar os preços e os salários hoje”.
Para o FMI, saber informar as opiniões do mercado sobre a inflação tornou-se uma consideração ainda mais crucial atualmente. “As expectativas de inflação impulsionam cada vez mais a dinâmica da inflação. As melhorias em termos de matriz e transparência da política monetária podem influenciar uma melhor formação das expectativas e, assim, ajudar a reduzir a inflação com custos de produção mais baixos.”
De acordo com Albrizio e Bluedorn, uma nova análise estatística feita pelo FMI, depois dos choques inflacionários em 2021 e no início de 2022, mostra que a inflação tem sido cada vez mais explicada pelas expectativas de curto prazo, definida pelos pesquisadores como as projeções para até 12 meses.
Segundo os pesquisadores, “paras as economias médias e avançadas, [as expectativas de curto prazo] representam agora o principal motor da dinâmica da inflação”. No caso de mercados emergentes, “as expectativas aumentaram em importância, mas a inflação passada continua a ser mais relevante”.
Conforme o estudo do fundo, a inflação nas economias avançadas normalmente aumenta cerca de 0,8 ponto percentual para cada aumento de 1 ponto nas expectativas de curto prazo. Já nos emergentes, a relação é de apenas 0,4 ponto para 1. “Um fator que poderia explicar esta diferença é a percentagem de agentes que olham para o passado versus os que olham para o futuro nos diferentes grupos econômicos. Quando a informação sobre as perspectivas de inflação é escassa e as comunicações do banco central não são claras ou carecem de credibilidade, as pessoas tendem a formar as suas opiniões sobre futuras alterações de preços com base nas suas experiências de inflação atuais ou passadas.”
Em contrapartida, “aqueles que estão mais voltados para o futuro formam as suas expectativas a partir de um conjunto mais amplo de informações relevantes para as condições econômicas mais à frente, incluindo as ações e comunicações dos bancos centrais”.
Nas simulações de um novo modelo que permite verificar as diferenças na formação de expectativas, o aperto da política monetária tem um efeito menos atenuante sobre as expectativas de inflação no curto prazo e sobre a própria inflação presente quando uma maior percentagem de agentes na economia olha para o passado. Na visão dos pesquisadores, “os mais centrados no passado não internalizam o fato de que os aumentos das taxas de juro hoje irão abrandar a inflação, uma vez que pesam sobre a demanda na economia”.
Portanto, afirma o FMI, uma percentagem mais elevada de agentes que olham para o passado significa que o banco central deve apertar mais para obter a mesma redução na inflação.
Para os economistas do Fundo, “os bancos centrais podem incentivar as expectativas a serem mais prospectivas através de melhorias na independência, transparência e credibilidade da política monetária e comunicando-se de forma mais clara e eficaz”.
Conforme os técnicos, “essas mudanças ajudam as pessoas a compreender as ações políticas do BC e os seus efeitos econômicos”. As simulações do novo modelo mostram que, nesse cenário de maior transparência, credibilidade e comunicação mais eficaz, “aumenta a probabilidade de o BC conseguir uma aterrissagem suave [com convergência da inflação para a meta sem grandes prejuízos para a atividade e o emprego]”.
Conforme o FMI, “uma forma de os bancos centrais melhorarem as suas comunicações é através de mensagens simples e repetidas sobre os seus objetivos e ações, adaptadas aos públicos relevantes”. Para os pesquisadores, “essas intervenções são complementares às ações mais tradicionais de aperto da política monetária, que continuarão a ser fundamentais para trazer a inflação de volta ao objetivo”.
Fonte: Valor Econômico

