Desenvolvimento mais veloz de medicamentos e vacinas também está na lista de inovação na área de saúde
Por Laura Knapp — Para o Valor, de São Paulo
19/12/2022 05h02 Atualizado há 5 horas
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Christiano Faig, VP de tecnologia da Microsoft: “Se fosse um carro, seria como oferecermos o chassi e o motor” — Foto: Divulgação
A entrada da medicina na era digital vem atraindo a atenção tanto de grandes empresas de tecnologia da informação quanto de startups. Além dos serviços de nuvem para armazenar e processar informações, há um leque de oportunidades que se abre com a aplicação de inteligência artificial (IA), machine learning e análise de dados para desenvolver ferramentas que atendam médicos, instituições de saúde, governos e os próprios pacientes. Muitas soluções já vêm sendo adotadas por grandes hospitais, mas a corrida está apenas começando. A oportunidade de negócios é imensa.
A previsão é que as novas ferramentas revolucionem a saúde. O uso dos computadores inteligentes e que conseguem aprender sozinhos segue alguns alvos. Neles estão diagnósticos e prognósticos mais acurados, que ajudam os médicos a identificar possíveis problemas; a medicina de precisão, que poderá determinar medicamentos específicos para cada paciente; a prevenção de doenças; o auxílio para que governos possam tratar com mais eficiência a saúde pública; e um desenvolvimento de drogas muito mais veloz, preciso e com menor custo.
O trabalho das grandes empresas é feito em conjunto com médicos e pesquisadores. “Hoje oferecemos a parte de IA e machine learning”, diz Christiano Faig, vice-presidente de tecnologia e soluções da Microsoft Brasil. “Se fosse um carro, seria como oferecermos o chassi e o motor. Especialistas, laboratórios, grandes instituições e universidades colocam em cima todo o resto. O carro precisa do chassi e do motor para andar e não anda sem as outras partes. Na simbiose entre a IA e os profissionais de saúde é que agregamos valor.”
A Microsoft trabalha com a Hilab, brasileira, que criou um dispositivo portátil capaz de fazer 31 tipos de exames em 30 minutos. O dispositivo pode ser levado a locais remotos. Colabora também com outra startup nacional, o Instituto Protegendo Cérebros e Salvando Futuros, criada por profissionais da saúde, que monitora UTIs neonatais a fim de prevenir que os bebês fiquem sem oxigênio.
As iniciativas são inúmeras. Um exemplo é o uso do Google Cloud para desenvolver uma solução de patologia digital em instalações do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD). O Google Health trabalha com várias soluções. Uma delas ajuda radiologistas a detectar câncer de pulmão mais cedo e com maior precisão. Outras analisam casos de câncer de mama, condições da pele, cabelo e unhas.
Para John Davies, diretor do setor público na América Latina, Canadá e Caribe da Amazon Web Services (AWS), algumas das soluções que a empresa oferece são especialmente úteis para o setor público, pois os governos nem sempre têm condições de desenvolver máquinas com IA e machine learning. A Babylon Health, por exemplo, conecta usuários aos serviços de saúde por meio de um aplicativo móvel, evitando deslocamentos. A Butterfly tem um sistema portátil que faz ultrassom de corpo inteiro mesmo em localidades remotas.
A farmacêutica Moderna, com machine learning desenvolvido pela AWS, foi capaz de realizar a sequência da vacina mRNA contra a covid-19 em somente dois dias, tempo espantosamente curto. No Brasil, entre outros trabalhos, os serviços de nuvem da AWS permitiram que os cidadãos tivessem acesso digital ao Conecte SUS. O Amazon SageMaker é um serviço com o qual os desenvolvedores podem usar notebooks e algoritmos pré-configurados a fim de implementar IA e machine learning em seus processos.
A Microsoft investiu cerca de US$ 6 milhões na área de nuvem para a saúde. A subsidiária brasileira, focada em venda e soluções desenvolvidas para os clientes, tem cerca de 40 funcionários. A AWS e o Google Health não forneceram informações sobre investimentos ou colaboradores.
A edição de 2022 do relatório Future Health Index (FHI), da Philips, mostra o avanço e o interesse da área de saúde pelas novas tecnologias. Com a pandemia da covid-19, houve uma aceleração no processo de transformação digital da medicina, segundo Eli Szwarc, líder-médico de informática para a Philips América Latina. “Os profissionais brasileiros estão investindo em tecnologias capacitadoras, incluindo registros eletrônicos, telessaúde e ferramentas de inteligência artificial (IA) que podem aumentar a eficiência, melhorar o atendimento e conectar comunidades remotas. Inclusive, o Brasil tem investido mais em IA clínica do que os outros países do mundo”, afirma ao comentar o estudo.
No Brasil, segundo o FHI, 54% dos líderes de saúde reconhecem que o uso de dados pode melhorar a eficiência de atendimentos, além de permitir que decisões sejam tomadas de forma mais ágil e consciente. No mundo, 65% dos entrevistados têm essa consciência. Em termos de análise preditiva, 75% dos líderes brasileiros acham que seu uso pode melhorar a experiência do paciente, 71% acreditam que aperfeiçoam os resultados em saúde, e 70% que ajudam a gestão da saúde da população.
Fonte: Valor Econômico