Por Rafael Rosas — Do Rio
08/07/2022 05h01 Atualizado há 4 horas
A queda de preços das commodities devido ao risco de recessão global contribuiu para a desaceleração do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), puxada pelo atacado. Mas os preços ao consumidor seguem pressionados e o desafogo deve vir neste mês, via efeitos das desonerações de ICMS dos setores de energia e combustíveis. A análise é de André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Em junho, o IGP-DI subiu 0,62%, contra 0,69% no mês anterior. Com o resultado, o índice acumula alta de 7,84% no ano e 11,12% em 12 meses. Em junho de 2021, o índice havia subido 0,11% e acumulava elevação de 34,53% em 12 meses.
No resultado de junho, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) variou 0,44%, contra 0,55% em maio, e foi o principal motor da desaceleração do IGP-DI.
Braz ressalta que o efeito sobre o IGP-DI da desaceleração das commodities se deve ao risco de desaquecimento econômico de grandes economias. Segundo ele, países como Estados Unidos e Alemanha enfrentam a necessidade de subir juros para conter a inflação, que segue persistente.
“Então esse risco de recessão [global] já começa a mexer com o preço futuro de muitos grãos e isso ajuda a conter o processo inflacionário [no Brasil]”, diz Braz.
Mas o economista diz que o ambiente ainda é “de muita incerteza” para “cravar” uma análise, uma vez que ainda há variáveis como a guerra entre Rússia e Ucrânia, a covid-19 na Ásia e o aumento de juros nos Estados Unidos, que atrai investidores para aquele país e cria desequilíbrios cambiais.
Com peso de 30% no IGP-DI, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) variou 0,67% em junho, contra 0,50% em maio.
“Nos preços ao consumidor a gente ainda vê uma opressão inflacionária grande”, diz Braz, lembrando que a guerra no Leste Europeu contribui para pressionar a cadeia do trigo – como pães, massas e biscoitos – e a época de poucas chuvas traz um aumento sazonal dos preços do leite. O economista da FGV lembra que o leite longa vida subiu 9,9% no mês passado, trazendo forte influência para a alta do índice, já que é um produto de peso.
“E esse também tende a ser um destaque no IPCA do IBGE de amanhã [hoje]. Esse IPC-DI de hoje antecipa os impactos do IPCA na parte de alimentação”, frisa Braz, citando também a alta de preços do feijão-carioca devido à safra ruim.
Fonte: Valor Econômico

