/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/M/S/wKeL5AQcKJwpZMPeVU4w/foto30fin-101-bolsa-c2.jpg)
A maré mais positiva de capital estrangeiro para a bolsa local entre julho e agosto não conseguiu suporte suficiente para se manter em setembro e outubro. Dados da B3Cotação de B3 apontam que, no acumulado deste mês até a última sexta-feira, o déficit registrado por esse tipo de investidor chegou a R$ 2,5 bilhões, valor que caminha para ficar acima do R$ 1,7 bilhão registrado um mês antes.
Uma tempestade perfeita de fatores parece justificar o “compasso de espera” dos estrangeiros. O comportamento justifica-se pela visão de um ciclo menos agressivo de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano), juntamente com o crescimento das chances de Donald Trump ser eleito, levando também o Congresso americano.
A rotação de carteiras, que estavam pouco expostas à China, é citada também como um dos pontos que alimentaram a saída de capital. O quadro se completa com o baixo posicionamento de investidores locais em ações e a piora da perspectiva fiscal.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/g/U/HyK0jkR5Gud5xvMvImEw/arte30fin-102-bolsa-c2.jpg)
A perda de fôlego de capital externo em ações brasileiras foi alimentada pela leitura de que o ritmo do ciclo de afrouxamento monetário do Fed pode ser menos “agressivo”, com cortes menores e mais devagar, diz Alberto Bernal, estrategista-chefe da mesa institucional da XP.
Gustavo Medeiros, chefe de pesquisa macroeconômica global na Ashmore, acrescenta que o favoritismo de Donald Trump juntamente com uma possível “onda vermelha” no Congresso, além da piora fiscal no Brasil, ajudaram a afastar o estrangeiro da bolsa local entre setembro e outubro.
No caso de uma eventual vitória de Trump, acompanhada pela obtenção de uma maioria republicana no Congresso, Medeiros acredita que o primeiro movimento é de compra de dólar e de um fluxo mais negativo para o Ibovespa. O fato de o candidato planejar cortar impostos poderia ser positivo para ações americanas. Já num segundo momento, a avaliação do profissional é que o real poderia se fortalecer, o que favoreceria a bolsa local.
“Trump fala de tarifas porque deseja forçar os países que estão mantendo a moeda mais fraca para que elas se apreciem. Ele não quer dólar subindo porque poderia depreciar as moedas de países com os quais ele negocia, como a China”, observa o especialista da Ashmore.
Bernal, da XP, também não vê a manutenção de um dólar mais forte como sustentável por um longo período em um eventual governo Trump. Ele lembra que os Estados Unidos ficariam bem menos competitivos se o dólar ficasse valorizado durante muito tempo. O profissional diz que não é possível precisar o momento de virada, mas acredita que, se a situação se complicar, é possível que os agentes financeiros comecem a apostar que o republicano vai diminuir a retórica mais agressiva de tarifas no decorrer do mandato, o que deveria levar a ajustes no dólar.
Já se ocorrer uma vitória da democrata Kamala Harris, a avaliação de Medeiros, da Ashmore, é que pode ter um movimento mais rápido para a bolsa local. A candidata planeja elevar impostos, o que diminuiria o que ele chama de “excepcionalismo” das ações americanas. “O Brasil entra naquele espaço que não tem catalisadores, mas que também não está tão ruim a ponto de justificar o ‘valuation’ tão baixo”, resume.
Outro motivo citado por especialistas para a saída de capital estrangeiro foi o pacote de estímulos divulgado pela China ao longo dos últimos meses. Malcolm Dorson, responsável por mercados emergentes da Global X, diz que muitos investidores estavam com posições “underweight” (abaixo da média de mercado) no gigante asiático e que aproveitaram para sair do Brasil quando ficou claro que o próximo movimento seria de alta de juros. Com a movimentação, o capital foi realocado para ativos chineses.
Ao ser questionado se as medidas poderiam retirar o apelo da bolsa local, Dorson avalia que o pacote seria positivo para a economia brasileira e não tanto para o mercado acionário, com investidores que estão fora do país ou pouco alocados voltando a ficar expostos a ativos chineses, especialmente se eles apresentarem uma boa performance.
Dorson também vê com mais ceticismo a chance de um rali de fim de ano para o Ibovespa – repetindo a situação vista em 2023. Para o especialista, o “ponto ideal” para a bolsa local será a partir do meio do ano que vem.
“Quando o Banco Central elevar as taxas [de juros] até o topo e os investidores começarem a digerir que o próximo passo será de corte. Será o momento em que o dinheiro sairá da renda fixa e voltará para ações. Os preços estarão bem baixos, o real mais estável e a inflação terá baixado. Também será possível falar das eleições de 2026”, resumiu o profissional da Global X.
Mesmo em meio a um cenário de grandes incertezas, Dorson diz que tem aproveitado para comprar um pouco de ações brasileiras. Entre os nomes que a casa mais gosta estão Weg, Vivara, Nubank, Itaú, Randon, Localiza, Arcos Dorados e Mercado Livre.
No caso da Vivara, o profissional da Global X diz que a companhia está “barata”. Segundo ele, as ações foram bastante penalizadas com a mudança na gestão e na diretoria no começo do ano. O especialista diz ver oportunidades de crescimento da linha Life com mudanças para cidades pequenas. Avalia também como positiva a redução de custos feita pela empresa.
Já Medeiros, da Ashmore, não descarta a chance de um fluxo estrangeiro mais favorável para a bolsa depois das eleições dos Estados Unidos. Segundo ele, um Congresso americano mais dividido poderia ser positivo em termos de fluxo para o Brasil, assim como a vitória de Kamala Harris.
Alexandre Reitz, chefe de renda variável do Julius Baer Brasil, avalia que um rali de fim de ano pode ser engatilhado pela apresentação de medidas que demonstrem uma preocupação do governo com o corte de gastos, assim como pela visão de que os dados econômicos americanos ainda demonstram resiliência, o que poderia permitir um corte mais agressivo do Fed.
“O ritmo da política monetária americana para o estrangeiro vai ser o mais relevante, mas acho que os preços estão muito deprimidos no Brasil e uma sinalização mais favorável fiscal pode ter alguma ajuda”, diz Reitz.
A falta de um fluxo estrangeiro mais favorável e o baixo posicionamento de investidores locais no mercado acionário local têm ajudado a reduzir o volume financeiro do Ibovespa nos últimos pregões. Na sessão de ontem, o volume financeiro do índice ficou em R$ 12,7 bilhões, dia em que o Ibovespa recuou 0,37%, aos 130.730 pontos.
Fonte: Valor Econômico

