Contando apenas dias regulares de negociação, entre 17 de abril e 15 de maio, a B3 registrou 18 dias consecutivos de entrada de recursos estrangeiros, num total de R$ 20,8 bilhões.
Com isso, o Ibovespa subiu 7,5% no período, atingindo nova máxima em reais. Nesta terça, o índice fechou aos 140 mil pontos pela primeira vez.
A última vez que esse tipo de fluxo teve esse tipo de sequência foi entre novembro e dezembro de 2023.
Na contagem do JPMorgan, desde o começo de 2020, tal sequência de ingressos ininterruptos de recursos aconteceu apenas seis vezes.
“Não estamos em uma fase normal”, afirmou no relatório a chefe de estratégia em ações para Brasil e América Latina do JP, Emy Shayo.
| Período | Dias seguidos de entradas líquidas | Volume de entrada (R$ bi) | Valorização do Ibovespa |
| Nov/20 a Jan/21 | 55 | 66,9 | 22,3% |
| Dez/21 a Mar/22 | 50 | 51,7 | 6% |
| Jul/22 a Ago/22 | 31 | 21,9 | 15,9% |
| Out a Nov/22 | 20 | 17,3 | 0,2% |
| Jan a Fev/23 | 29 | 55,6 | 0,6% |
| Nov/23 a Jan/24 | 44 | 47,2 | 15,1% |
| Abr a Mai/25 | 18 | 20,8 | 7,5% |
Fonte: Bloomberg Finance e JPMorgan
Parte desse movimento, é verdade, refletiu uma volta de parte do dinheiro que tinha saído pouco antes. Nas duas semanas seguintes ao anúncio de uma campanha de aumento de tarifas comerciais, pelos Estados Unidos, cerca de R$ 10 bilhões saíram do Brasil.
No entanto, esses resgates foram não apenas revertidos, mas compensados com sobras. Com isso, no acumulado do ano, a entrada de recursos estrangeiros é de R$ 15 bilhões.
Vai entrar mais investimento estrangeiro no Brasil
Segundo o relatório, o fluxo estrangeiro para o Brasil pode continuar, mas isso depende em parte da evolução da trégua comercial entre Estados Unidos e China.
Nas últimas semanas, enquanto o fluxo para Brasil e América Latina foi positivo, os fundos asiáticos registraram resgates muito fortes.
Nesse sentido, os mercados latino-americanos poderiam estar perto de passar por uma rodada de realização de lucros. “A menos que comecemos a ver uma rotação mais ampla dos EUA para os mercados emergentes, o que traria fluxos para a América Latina e também para a Ásia”, diz trecho do relatório.
O JPMorgan parece acreditar nessa última hipótese. Recentemente, o estrategista global do banco, Mislav Matejka, elevou a classificação das ações de mercados emergentes para overweight (acima da média) em sua alocação global de ativos.
Estrangeiros na contramão dos fundos locais
O rápido ingresso de recursos de não residentes nas últimas semanas veio na contramão dos fluxos de fundos de investimentos locais, que têm sido fortemente negativos.
Segundo dados dados da Anbima , esses fundos resgataram quase R$ 9 bilhões da bolsa em abril, elevando as saídas para R$ 35 bilhões no acumulado do ano.
Com isso, a participação das ações dentro do patrimônio total dos fundos brasileiros ficou na casa dos 7,5%, o menor valor já registrado e muito distante da média histórica de 11,5%.
Nas contas do JPMorgan, só a volta do dinheiro dos fundos para a média histórica resultaria em US$ 47 bilhões em entradas para a bolsa brasileira.
Mas não são apenas os fundos que têm saído da B3. Os investidores de varejo também têm diminuído sua participação nos negócios na bolsa, como mostra o gráfico abaixo.
Participação dos investidores no volume de negócios na B3

Retail: investidores de varejo
Institucional: Grandes investidores locais (fundos de pensão, fundos de investimentos)
Foreign: Não residententes
Uma volta mais assertiva das diferentes classes de investidores para a B3 poderia levar à recuperação do valor de mercado da bolsa brasileira, que está significativamente abaixo da máxima histórica, em dólares.
Nesse sentido, para retomar o recorde, estabelecido em 2010 (US$ 1,5 trilhão), as ações precisariam em conjunto dobrar de preço em relação aos valores atuais.
Valor de mercado conjunto das empresas listadas na B3

Fonte: Inteligência Financeira