Sob pressão nos últimos trimestres, a fabricante de massas e biscoitos M. Dias Branco – responsável por marcas como Ádria, Vitarela e Piraquê -, começou a apresentar sinais concretos de recuperação entre abril e junho.
Os avanços refletem os primeiros efeitos da agenda de reestruturação conduzida pela atual gestão, que inclui corte de custos, ajustes na estratégia comercial e revisão de preços. Há, porém, indicadores importantes que seguem pressionados, como custos e volume de vendas.
De abril a junho, o lucro líquido da companhia registrou alta de 14%, a R$ 216 milhões. Na mesma base de comparação, a receita líquida somou R$ 2,7 bilhões, avanço anual de 3,6%, com crescimento nos três grupos de categorias.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi de R$ 344,9 milhões, alta de 2,4% na comparação anual. A margem Ebitda ficou praticamente estável, em 12,7%.
“Essa melhora, apesar de relevante, é só o sinal de que as mudanças foram feitas corretamente. O grosso está por vir”, disse Gustavo Theodozio, vice-presidente de investimentos e controladoria da M. Dias Branco, ao Valor. Segundo o executivo, avanços mais concretos devem aparecer nos resultados do terceiro e quarto trimestres.
Nos últimos dois anos, a companhia iniciou uma reestruturação interna profunda, que implicou a reorganização das funções comerciais, logísticas e de compras, para melhorar a coordenação e a competitividade, especialmente em mercados onde deseja avançar, como nas regiões Sul e Sudeste.
Na frente de redução de custos, houve paralisação da linha de massas na fábrica de Madureira (RJ) e das operações em Lençóis Paulista (SP), o que resultou na demissão de cerca de 800 pessoas. A produção foi transferida para outras unidades. Também foram desativados três centros de distribuição, no Rio de Janeiro, em Sergipe e no Maranhão, o que gerou uma economia de R$ 40 milhões, segundo cálculos da empresa.
Para Theodozio, os principais cortes já foram feitos, e a expectativa é de manutenção do indicador. No segundo trimestre, as despesas gerais e administrativas totalizaram R$ 565,3 milhões, ou 20,8% da receita líquida, patamar inferior aos 23,6% do segundo trimestre de 2024 e aos 23,4% registrados nos primeiros três meses deste ano.
Os números devem trazer algum alívio para investidores e analistas que acompanham a empresa. Ao menos nas três últimas teleconferências de resultados, a dúvida de quando os resultados da mudanças internas começariam a aparecer era uma das mais frequentes.
Para a XP, a gestão conseguiu identificar corretamente os principais problemas que estavam impactando o desempenho da companhia. “Os resultados do segundo trimestre devem ser sequencialmente mais fortes, mas provavelmente insuficientes para ser gatilho das ações”, escreveram, em relatório.
Um dos principais pontos de incerteza era a estratégia de precificação. Na segunda metade de 2024, a M. Dias liderou aumentos que não foram seguidos pelos demais, comprometendo gestão de preços e participação de mercado.
Após alguns solavancos, a empresa parece ter conseguido recuperar essa agenda. De abril a junho, o preço médio teve aumento de 14,8% na base anual, de R$ 5,20 para R$ 6. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, o indicador cresceu 6,4%.
O preço mais estabilizado do trigo, que corresponde a 50% dos custos da empresa, somado a um câmbio menos volátil, contribuiu para menor pressão de despesas, afirma Theodozio. De abril a junho, o custo dos produtos vendidos (CPV) avançou 7%, para R$ 1,9 bilhão, principalmente pela alta do óleo de palma em dólar – que subiu 11,3% na média trimestral.
Para os próximos meses, o executivo não prevê novos aumentos de preço. “Devemos ter trimestres mais estáveis pela frente em termos de custo, reduzindo a necessidade de precificar”, disse. Segundo ele, o trigo está estável em dólar e há expectativa de estabilidade não só para o fim do ano como para 2026.
O volume de vendas, por sua vez, segue pressionado. No segundo trimestre, o indicador teve retração de 9,8% em relação ao mesmo período do ano passado, somando 457,3 mil toneladas. “Tivemos que botar preço, mas o consumidor estava cansado. No mercado, o volume de massas está estável, mas biscoito chegou a cair”, disse.
Essa dinâmica é esperada, especialmente diante da base de comparação anual elevada. No primeiro trimestre de 2024, a M. Dias implementou o SAP, o que deslocou os volumes para o intervalo seguinte.
Na comparação trimestral, houve alta de 16% nos volumes, o que, segundo Theodozio, revela o início de uma recuperação sequencial. “Com a normalização do câmbio e as commodities estáveis, a expectativa é que os volumes comecem a andar.”
Para o Citi, as tendências de participação de mercado da empresa permanecem mistas, com sinais iniciais de estabilização. “O sentimento dos investidores melhorou modestamente devido à melhor perspectiva de custos e à estratégia de ‘go-to-market’ (entrada de mercado) mais clara, mas a execução continua sendo o principal obstáculo”, escreveram os analistas.
Fonte: Valor Econômico

