Por Fernando Eichenberg — De Paris, para Valor e “O Globo”
23/06/2023 05h01 Atualizado há 5 horas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a afirmar que o acordo entre União Europeia (UE) e Mercosul deve ser firmado, mas disse que os termos adicionais propostos pelo bloco europeu são “inaceitáveis”. Em entrevista coletiva ao fim de sua visita à Itália, o petista afirmou que as negociações são difíceis, mas não intransponíveis, ressaltou seus compromissos com o meio ambiente e criticou o que vê como protecionismo excessivo por parte europeia no que diz respeito à agricultura.
Segundo Lula, que seguiu viagem para a França após a entrevista, os franceses demandam que os países sul-americanos que não cumpram o Acordo de Paris sejam punidos, mas nem mesmo os próprios europeus estão em dia com suas promessas. No emblemático pacto climático firmado em 2015, os países se comprometeram com metas voluntárias de redução das emissões de gases-estufa, que devem ser revisadas a cada cinco anos.
“Eu pretendo conversar com o presidente Emmanuel Macron porque a França é muito dura nos seus interesses agrícolas”, disse Lula, afirmando que isso é bom, mas que os outros também têm interesses de defender sua agricultura. “É preciso que cada um abra mão de seu protecionismo para que possamos construir um acordo melhor.”
O principal compromisso de Lula na França é a Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, organizada pelo francês para “repensar a arquitetura do sistema financeiro global” para reduzir a desigualdade e fazer frente à crise climática – duas outras prioridades de seu governo. O acordo entre UE e Mercosul, contudo, deverá ser tema de um almoço que os dois terão na sexta.
Em live na segunda-feira, o petista já havia antecipado que se posicionaria perante Macron contra o endurecimento do pacto. Na semana passada, com votos da base governista, a Assembleia Nacional da França estabeleceu condições para aprovar um eventual acordo comercial entre a UE e o Mercosul, pedindo que o Executivo do país faça oposição ao tratado.
Os deputados pedem que os agricultores sul-americanos respeitem as mesmas regras ambientais e sanitárias da Europa, além de incluir uma cláusula para suspender sua aplicação caso as nações do Mercosul não respeitem o Acordo de Paris. O ato, sem força de lei e considerado simbólico, ocorreu logo após a visita da presidente da Comissão Europeia, Ursula von de Leyen, ao Brasil, em que Lula reforçou a prioridade que seu governo tem de selar o pacto.
O Mercosul alcançou em 2019 um acordo com a UE após mais de 20 anos de negociações, mas o pacto não foi ratificado, em parte devido à preocupação na Europa com as políticas ambientais do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022). Com o retorno de Lula ao poder, em janeiro, o clima melhorou, mas as exigências ambientais dos europeus, indicadas em um documento adicional ao acordo recentemente apresentado pela UE, moderaram o entusiasmo.
Na chegada a Paris, Lula evitou as manifestações de apoiadores e críticos em frente à porta principal do hotel onde está hospedado, optando por entrar por uma entrada lateral.
Os apoiadores do presidente se sobressaem numericamente aos críticos. A maior parte dos manifestantes que esperavam a chegada de Lula ao hotel pertencia ao grupo de música Cabaré Gandaia, favorável a Lula. Em menor volume, os críticos também carregam cartazes e gritam frases como “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão”.
Na capital francesa, Lula participou ontem mesmo do concerto “Power our planet”, que contou com a participação de outros líderes mundiais e também de ativistas que defendem a causa ambiental. No evento, ele prometeu atingir “desmatamento zero na Amazônia” até 2030 e convidou a multidão reunida aos pés da Torre Eiffel, a visitar o Brasil durante a COP30, a Conferência do Clima da ONU, em 2025, que será realizada em Belém.
“Vamos ser muito duros contra toda e qualquer pessoa que quiser derrubar uma árvore para plantar soja, milho ou criar gado. Amazônia é um território soberano do Brasil, mas, ao mesmo tempo, ela pertence a toda a humanidade e, por isso, faremos todo e qualquer esforço para manter a floresta em pé”, disse o presidente.
Lula foi convidado a participar do evento pelo vocalista da banda Coldplay, Chris Martin.
Fonte: Valor Econômico

