Nesta segunda-feira, há duas visitas na agenda, pela manhã e à tarde, envolvendo empresa farmacêutica dinamarquesa Nordisk e o Mercado Livre
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acelerou sua agenda de visitas a empresas privadas com projetos de investimento e geração de empregos, mesmo em operações sem participação do governo federal na expansão ou na criação de vagas.
Nesta segunda-feira (7), há duas visitas na agenda de Lula, pela manhã e à tarde, envolvendo a empresa farmacêutica dinamarquesa Nordisk e o Mercado Livre, plataforma argentina de comércio eletrônico.
Na Novo Nordisk, que produz medicamentos como o Ozempic, foram anunciados R$ 6,4 bilhões para ampliar a unidade de produção em Montes Claros (MG).
Nas últimas quatro semanas, agenda de Lula contou com visitas a fábricas ou sedes de cinco empresas, sem contar agendamentos do Palácio do Planalto para encontros de empresários com o presidente da República em Brasília, neste mesmo período.
Nos cem primeiros dias de governo Lula em 2025, comparado aos 100 dias imediatamente anteriores, entre fim de setembro e dezembro, o número foi de zero a cinco encontros agendados, segundo levantamento do Valor na agenda pública do Executivo.
No mesmo período de 2024, Lula não visitou indústrias, apenas recebeu no Planalto os CEOs da Volkswagen, Hyundai e GM, todas montadoras.
Neste ano, todas foram agendadas entre março e abril, após pesquisas de fevereiro começarem a mostrar quedas consecutivas na popularidade do presidente, e também depois da mudança no comando da comunicação, com a entrada, em janeiro, de Sidônio Palmeira como ministro da Secretaria de Comunicação Social, e saída de Paulo Pimenta.
Embora os dados demonstrem rejeição em alta, Lula ainda se mantém competitivo numa eventual disputa eleitoral, vencendo os principais oponentes.
A movimentação ocorre num momento em que a presidência busca ampliar a visibilidade das ações de Lula, e melhorar a sua imagem frente à população, por acreditar que o aumento de rejeição ao presidente — em todas as camadas de renda e regiões do país — refletiria um desconhecimento das medidas do governo.
Em matéria publicada pelo Valor, na semana passada, Sidônio Palmeira demonstrou contrariedade com os jornalistas em coletiva de imprensa na quinta-feira (3), que o questionavam sobre o mau desempenho de Lula nas pesquisas em vez de fazer perguntas sobre o evento e as realizações do governo.
Agenda do presidente
A agenda de 2025, até o momento, incluiu visitas às linhas de produção do grupo ítalo-americano Stellantis, no polo automotivo da empresa em Betim (SP), a visita ao galpão de laminação de Usina da Gerdau, em Ouro Branco (MG) — ambas no mesmo dia —, a visita à fábrica da japonesa Toyota, em Sorocaba (SP) e por fim, a agenda de hoje, pela manhã e à tarde, em Minas Gerais e São Paulo, respectivamente.
Sobre a visita à unidade mineira da Gerdau, em março, Lula chegou a dizer: “Nunca antes na história do Brasil teve um presidente da República que fizesse a quantidade de investimento que nós estamos fazendo em Minas Gerais”. A declaração foi feita antes de a Presidência da República divulgar, no mesmo dia, comunicado sobre as iniciativas da siderúrgica com o título “Governo Federal anuncia R$ 1,5 bilhão em expansão da produção de aço no Brasil”.
A Gerdau anunciou aumento na capacidade de produção de bobinas a quente, com um investimento de R$ 1,5 bilhão, e não relata, no comunicado oficial, envolvimento do governo nos investimentos, assim como o release da Presidência.
Contabilidade e anúncios
O mercado automotivo é o setor com os contatos mais frequentes pelo presidente e ex-sindicalista do ABC paulista. Em suas visita à Sorocaba, apesar de o ato ser informado pela presidência como um “anúncio” de R$ 11 bilhões de investimentos até 2030, a Toyota já havia efetivamente anunciado o projeto um ano antes, em março de 2024, nessa mesma soma.
Isso aconteceu após o fechamento de uma unidade em Indaiatuba (SP) e a transferência da estrutura para Sorocaba, como informou o jornal “O Globo” na época.
A empresa falava em manutenção das vagas da Indaiatuba, após a mudança, por questões de maior eficiência e produtividade.
Para viabilizar o investimento, o governo de São Paulo liberou créditos tributários que a montadora já possuía, e seriam gerados dois mil empregos no Estado, liderado por Tarcísio de Freitas (Republicanos) desde 2023.
“Quando eu voltei, em 2023, o Brasil só emplacava 1,6 milhão de carros por ano. E nós já chegamos a emplacar, no final de 2024, 2,6 milhões de carros. Já crescemos quase um milhão de carros emplacados em dois anos de governo”, disse o presidente.
“E eu quero chegar a 3,6 milhões no ano que vem, a quatro milhões no outro ano e a cinco milhões no outro ano”, afirmou ele, informa a página do PT na internet.
Pelos dados da Fenabrave, a federação nacional da distribuição de veículos automotores, quando Lula cita o ano anterior à sua entrada, ele trata só dos dados de emplacamentos de automóveis, mas em 2024, na sua gestão, são somados automóveis com os comerciais leves, como vans, caminhonetes e caminhões.
A título de comparação, o país emplacou 1,95 milhão de carros e comerciais leves antes da chegada de Lula ao Planalto, em 2022, e não 1,6 milhão. Houve recuo de 0,85% por conta da crise global devido à falta de semicondutores na Ásia, à guerra na Ucrânia e aos “lockdowns” na China, além da escalada do juros e do crédito na covid-19.
Sobre os 2,6 milhões de carros e comerciais leves emplacados no ano passado, o relatório mostra número próximo, de 2,48 milhões, mas não foram um milhão a mais frente a 2022, mas 497 mil unidades, menos da metade do que Lula afirmou na visita.
Apesar dos números diferentes daqueles mencionados, houve alta de 14% na comparação anual, entre 2023 e 2024, porém ainda abaixo dos 2,65 milhões emplacados antes da pandemia, em 2019, que desestruturou a cadeia produtiva e fez os preços dos carros saltarem em poucos meses.
Trinta versus dois
Nesses mais de quatro meses do ano, e logo após a chegada de Sidônio Palmeira em janeiro, o novo ministro da comunicação teve 30 reuniões com Lula, algumas com o secretário de imprensa da secretaria de comunicação, Laércio Portela. Em dois dias, houve reuniões pela manhã e no fim do dia. O volume superou encontros com ministros como Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil), segundo pesquisa da reportagem.
Nos mesmos cem dias anteriores, Paulo Pimenta, antigo ministro, teve duas reuniões com Lula, uma em outubro e outra em novembro. Houve três encontros com empresários apenas em Brasília no período — foram ao Planalto CEOs que atuam nos mesmos segmentos que Lula tem visitado ultimamente — as montadoras chinesas BYD, GWM e a siderúrgica ArcelorMittal.
Visita à CD locado
Durante esta segunda-feira (7) Lula esteve na cerimônia de anúncio de expansão da fábrica da Novo Nordisk em Montes Claros, novamente em Minas Gerais, Estado em que, em 2022, a vitória eleitoral foi crucial para a eleição de Lula. Ainda está programado para hoje a visita de Lula ao centro de distribuição do Mercado Livre, em Cajamar (SP).
Trata-se do maior centro de distribuição (CD) da empresa no país, o Prologis 3500, que pertence a um fundo imobiliário, o Prologis Brazil Logistics Fundo de Investimento Imobiliário, portanto, não foi construído pela empresa, mas dentro do modelos de construção “built to suit” pelo fundo, que se responsabiliza por esse investimento.
O CD foi construído de forma direcionada para a empresa e com contratos de locação longos. O mesmo modelo está sendo replicado para os próximos investimentos da empresa, nos demais centros que serão abertos, em parceria com fundos, boa parte deles de capital aberto na bolsa, e negociados no mercado.
Em 2024, o Mercado Livre já anunciou a abertura de 11 novos CDs até o final de 2025, passando de dez centros no fim de 2024 para 21, com inauguração em Estados como Ceará, Rio Grande do Sul, Pernambuco e o Distrito Federal.
A empresa também já disse que deve investir em 2025 uma soma acima do ano anterior, como já vem ocorrendo há anos. Em 2024, foram R$ 23 bilhões anunciados, versus R$ 19 bilhões em 2023 e R$ 17 bilhões em 2022. Mas não são valores apenas ligados a “capex”, ou investimento em maquinário e bens, por exemplo. A empresa também soma aí despesas operacionais, que envolvem gastos da companhia, como em marketing.
Procurada para comentar o tema, a Presidência da República ainda não se manifestou.
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Fonte: Valor Econômico