Por Andrea Jubé, Matheus Schuch, Estevão Taiar e Caetano Tonet — De Brasília
23/12/2022 05h01 Atualizado há 6 horas
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciou um novo lote de 16 ministros nesta quinta-feira, totalizando até agora 21 nomes que comporão a nova Esplanada. Além de confirmar o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) para o comando do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), ampliando o espaço do aliado no governo, ele conferiu diversidade ao primeiro escalão para atender às cobranças de eleitores e representantes da sociedade civil que o apoiaram desde o início da campanha.
Lula indicou as primeiras mulheres e primeiros representantes negros do alto escalão, embora tenha adiado, novamente, a definição do espaço de duas protagonistas da campanha, que se tornaram cabos eleitorais estratégicos no segundo turno: Simone Tebet (MDB-MS) e Marina Silva (Rede-SP).
Até o momento, o presidente eleito abriu espaço para PT, PSB, PC do B e militância, o núcleo original da aliança de sua candidatura. Após o Natal, Lula anunciará os últimos 16 auxiliares, egressos das forças que entraram num segundo momento da campanha ou pós-eleição.
Parte do ministério será de governadores da safra recente: Flavio Dino (PSB-Maranhão) na Justiça e Segurança Pública; Camilo Santana (PT-Ceará) na Educação; Wellington Dias (PT-Piauí) no Desenvolvimento Social; e Rui Costa (PT-Bahia) na Casa Civil.
Dos 21 futuros ministros, dez são petistas que exerceram mandato eletivo e quatro são técnicos que participaram dos governos Lula e Dilma, como Cida Gonçalves, futura ministra da Mulher, e Esther Dweck, futura titular da Gestão e Inovação.
Lula também fez críticas veladas ao seu antecessor, que no início do mandato resistiu a nomear políticos para o primeiro escalão, alardeando que escalaria somente quadros técnicos. O presidente eleito indicou o time de ex-governadores que compõe seu futuro ministério, ponderando que não se pode condenar quem faz política, e que os quadros políticos que escolheu mostrarão que são capazes de fazer um bom governo.
Também em tom de crítica ao presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula afirmou que seu governo vai “aumentar ministérios, mas não os gastos”. Segundo ele, “todo mundo vai começar apertando o cinto”, já que a dificuldade fiscal “será muito maior do que em 2010”, quando ele deixou a Presidência da República.
“Vamos fazer todo o esforço para que o pouco dinheiro que o país está arrecadando chegue às pessoas mais necessitadas”, comprometeu-se. Além de exaltar que não nomearia políticos, Bolsonaro reduziu o número de ministérios para 23 pastas, enquanto o petista divulgou que contará com 37 auxiliares.
Depois que o coordenador-geral da transição, Geraldo Alckmin, apresentou o relatório final dos trabalhos, Lula elevou as críticas ao seu antecessor. “Eu não pretendo fazer pirotecnia com material entregue, mas quero que a população saiba que país recebemos, em situação de penúria”, afirmou, ao discursar no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde trabalha a equipe de transição.
Em tom de ironia, e sem citar o nome do antecessor, Lula atribuiu os dados negativos indicados no relatório ao comportamento do atual presidente, que “preferia contar mentiras no cercadinho [local onde conversava com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada] do que governar este país”.
Entre os novos indicados estão a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade (Saúde), a cantora Margareth Menezes (Cultura), o ex-governador Márcio França (Portos e Aeroportos) e o ex-ministro Luiz Marinho (Trabalho). A Secretaria de Relações Institucionais vai para o deputado Alexandre Padilha (PT-SP). Anielle Franco, irmã de Marielle (morta em 2018), ficou com a Igualdade Racial, a vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos (PCdoB), com Ciência e Tecnologia, e o advogado Silvio Almeida, expoente do combate ao racismo, com a pasta de Direitos Humanos.
O momento de descontração coube ao anúncio do futuro titular da Controladoria-Geral da União, Vinicius Carvalho, cujo nome Lula havia pulado, e foi alertado por Gleisi da gafe. “Até parece que eu não quero ser fiscalizado”, disse, com bom humor.
Lula abriu o discurso agradecendo aos presidentes da Câmara, Senado, lideranças e parlamentares a aprovação da PEC da Transição. Ele disse que “o que parecia impossível aconteceu”, com uma votação “expressiva”, com participação inclusive de partidos da oposição.
Para Lula, a PEC é “primeira e importante fase do governo” que vai tomar posse. “Acho que é a primeira vez que um presidente da República começa a governar antes da posse”, descontraiu. Segundo o presidente eleito, “todo mundo sabia” que a PEC não era em benefício do novo governo, mas para “cobrir a irresponsabilidade do governo que vai sair”.
Antes de Lula, a coordenadora política da equipe de transição, Gleisi Hoffmann (PT), afirmou que “teremos à frente grande trabalho para [realizar] a reconstrução” do país. “A transição mostrou alto grau de destruição do Brasil”, ressaltou.
Além de Tebet e Marina, estão com os destinos indefinidos os aliados do PSD, MDB, PDT e Solidariedade, além do grupo político do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), cujo ministeriável é o líder do União Brasil e relator da PEC da Transição, Elmar Nascimento (BA).
Lula resiste ao nome de Elmar, porque ele o chamou de “ladrão” durante a campanha na Bahia. Mas com a ajuda de Lira e Elmar para aprovar a PEC da Transição, Lula deve relevar o episódio e nomear Elmar, para espaço ainda em discussão.
Entre os nomes que devem ser anunciados na próxima semana, há dois quadros já definidos com o presidente do PSD, Gilberto Kassab. O senador não reeleito Alexandre Silveira, do PSD de Minas Gerais, deverá assumir o cobiçado Ministério de Minas e Energia. Silveira representa o seu partido, bem como o grupo do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que atuou nos bastidores para garantir a aprovação da PEC da Transição na Casa. O outro ministro do PSD também será um senador: Carlos Fávaro (MT), que será nomeado para o Ministério da Agricultura. Ele ajudou Lula junto ao agronegócio, segmento mais resistente ao petista na campanha.
Ainda faltam nomes do PT para serem anunciados, porque Lula tem que encontrar espaço no primeiro escalão para acomodar as diversas tendências internas da legenda. Dessa forma, nos próximos dias, Lula deverá confirmar o deputado federal Paulo Teixeira (SP) no comando do Ministério das Comunicações, e o deputado federal Paulo Pimenta (RS) à frente da Secretaria de Comunicação Social (Secom). Durante o discurso, Lula desabafou: “é mais difícil montar um governo do que ganhar eleições”.
Fonte: Valor Econômico

