Por Eduardo Magossi — De São Paulo
19/10/2022 05h02 Atualizado há 5 horas
O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, poderá elevar os juros para até 5,5% ao ano em meados de 2023 se o mercado de trabalho americano permanecer aquecido e o desemprego continuar abaixo do esperado. A avaliação é do chefe de investimento do banco suíço Lombard Odier, Stéphane Monier.
“Esfriar o mercado de trabalho será difícil. A abertura de novas vagas permanece elevada e o desemprego, no menor nível em 50 anos. O aumento salarial anual atualmente em 5% precisaria cair para 3,5% para ficar em linha com a meta de inflação do Fed de 2%”, diz, em relatório.
Para Monier, está longe o momento em que o banco central mudará a direção da política monetária. “Esperamos que a índice de preços ao consumidor americano atinja a média de 3,7% em 2023, bem acima da meta do Fed. O próprio banco central prevê que o núcleo do CPI [índice de preços ao consumidor] ainda esteja acima da meta em 2025.”
O banco suíço estima uma alta de 0,75 ponto percentual na taxa de juros dos EUA em novembro e uma de 0,50 ponto em dezembro, atingindo um pico de 4,5% em 2023, seguido de uma pausa. Mas o ciclo pode ir além se o mercado de trabalho continuar aquecido. “A expectativa de mercado de cortes de juros pelos EUA já no terceiro trimestre de 2023 nos parece muito apressada”, afirma.
O executivo destaca o cenário sombrio para os próximos três trimestres traçados pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial nas reuniões da semana passada, quando reiteraram a necessidade de eliminar a inflação sejam quais forem as consequências para o crescimento.
Segundo Monier, os próximos nove meses serão difíceis com a inflação alta e persistente deixando os bancos centrais ao redor do mundo – e principalmente o Fed – com pouca escolha a não ser elevar os juros agressivamente. “A recessão será o preço inevitável”, afirma. “Famílias e empresas já estão sentindo o aperto”.
A expectativa de Monier é que a economia americana cresça 1,4% em 2023, com o desemprego subindo para 5%. Para zona do euro, a expansão esperada é de 0,4%.
O executivo lembra que o aperto monetário americano está exportando a inflação dos EUA e levando outros bancos centrais a também elevar seus juros. “O aperto da liquidez global já atingiu muitas economias ao redor do mundo. Um dólar cerca de 20% mais forte apenas em relação ao ano passado elevou as dívidas denominadas na divisa americana.”
Com a deterioração do cenário, Monier diz que o banco suíço gradualmente reduziu seu portfólio de risco para níveis mais defensivos. O Lombard Odier tem cerca de R$ 2 trilhões sob gestão. Ele lembra que rendimentos de ações e títulos do governo só registraram perdas simultâneas em três ocasiões desde a década de 20: 1931, 1969 e agora em 2022.
Para se proteger, o banco prefere, em ações, empresas com pouca volatilidade nos lucros e melhor capacidade de proteger margens. Na renda fixa, a preferência são ativos com grau de investimento. Já no câmbio, prevalecem de divisas consideras portos seguros, como o dólar americano e o franco suíço.
Fonte: Valor Econômico

