Por Stella Yifan Xie — Dow Jones Newswires, de Hong Kong
17/05/2022 05h01 Atualizado há 5 horas
A economia chinesa aprofundou seu estado de paralisia induzido pela covid no mês passado. Esse fator levanta dúvidas sobre a capacidade de Pequim evitar uma retração econômica prolongada.
Os gastos do consumidor e a produção industrial chinesas despencaram em abril, enquanto o crescimento dos investimentos em infraestrutura – com o qual o governo chinês contava para impulsionar a expansão da economia deste ano – desacelerou significativamente, segundo informou o Departamento Nacional de Estatística da China ontem.
A taxa de desemprego da China, por seu lado, disparou para 6,1%, seu patamar mais alto dos últimos dois anos, tornando-se mais uma prova dos danos causados à economia pelas atuais medidas de contenção da pandemia, as mais rígidas dos últimos dois anos.
Embora o nível de atividade possa se recuperar quando os lockdowns forem suspensos, os prejuízos causados pelo compromisso da China em suprimir surtos de covid estão impactando a economia e se estendendo. A pergunta agora é se as autoridades que comandam a segunda maior economia do mundo, conseguirão atenuar o baque com instrumentos de política fiscal e monetária.
As medidas de estímulo tomadas pela China desde o início da pandemia se concentraram na ponta da oferta. A relutância de Pequim em apoiar diretamente as famílias e a manutenção de suas restrições anticovid minaram a capacidade da demanda do consumidor de impulsionar a economia, dizem economistas.
“A verdadeira fragilidade está na ponta da demanda, mas quase todas as medidas econômicas implementadas contemplam a ponta da oferta”, disse Michael Pettis, professor na Universidade de Pequim.
Os gastos com infraestrutura, outro instrumento preferido de Pequim que o presidente Xi Jinping promoveu nas últimas semanas, poderão não funcionar tão bem quanto no passado, devido, em parte, aos atuais níveis de endividamento, disse Stephen Roach, professor da Universidade Yale.
“[A China] enfrenta alguns problemas extraordinariamente graves aos quais, acho eu, sua liderança não está reagindo com eficácia”, disse Roach, ex-Morgan Stanley.
O setor mais duramente atingido da economia chinesa, segundo os dados informados ontem, foi o dos gastos do consumidor. As vendas do varejo caíram 11,1% em abril, no comparativo ano a ano, o que representa a segunda retração mensal consecutiva e a maior contração desde março de 2020.
Em Xangai, com o lockdown, nem um único carro foi vendido no mês passado, segundo a Associação de Vendas de Automóveis.
As restrições à covid-19 também puderam ser sentidas na indústria de transformação da China. A produção industrial de abril caiu 2,9% ao ano, após ter aumentado 5% em março. A produção do setor automobilístico despencou 43,5% em volume, com a covid afetando centros chave de produção em Xangai e nas redondezas, e também na província de Jilin, no nordeste.
O investimento em ativos fixos, incluindo projetos de infraestrutura e imobiliários, desacelerou para 6,8% nos quatro primeiros meses do ano, em relação aos 9,3% do primeiro trimestre.
A taxa de desemprego urbano superou em abril a meta oficial de 5,5% pelo segundo mês seguido, alcançando 6,1% – a mais elevada desde os 6,2% de fevereiro de 2020. O desemprego na faixa dos 16 e 24 anos aumentou para 18,2%, o maior desde antes da pandemia.
Fu Linghui, do departamento de estatística da China, disse que os desafios diante da economia chinesa “ultrapassaram as expectativas”, mas manifestou otimismo de que essas dificuldades se revelarão de curto prazo.
Após a divulgação dos dados, o Citigroup cortou sua previsão de crescimento do PIB da China para o segundo trimestre de 4,7% para 1,7% ao ano, e a projeção para 2022 de 5,1% para 4,2%.
Com a deterioração do cenário, vários destacados economistas e intelectuais chineses, que falaram em um seminário em Pequim no sábado, defenderam uma reação de política pública mais agressiva.
“Chegamos a um ponto em que deveríamos usar políticas públicas para salvar a economia, a todo custo”, disse Huang Yiping, professor de economia da Universidade de Pequim e ex-assessor do banco central chinês.
O desafio maior com que o governo chinês se defronta, dizem economistas, é o de estimular a demanda num momento em que aumenta o pessimismo das empresas e dos consumidores – e em que Pequim reafirma sua insistência com a política de covid-zero.
Fonte: Valor Econômico

