Empresa oferece um implante para pacientes que são resistentes a medicamentos
Por Stella Fontes — De São Paulo
No início do próximo ano, a britânica LivaNova PLC deve chegar a dez implantes, no Brasil, de um dispositivo de neuroestimulação em pacientes que sofrem de depressão resistente a medicamentos, uma tecnologia inédita, porém ainda cara, que tem colhido resultados positivos nos Estados Unidos.
Reconhecida por seus equipamentos médicos de alta precisão na área cardiopulmonar, entre os quais um moderno sistema de circulação extracorpórea (CEC), que foi usado no transplante de coração ao qual se submeteu o apresentador Faustão, a LivaNova é uma das principais fornecedoras globais de terapia de estimulação do neuro vago (VNS, na sigla em inglês) para tratamento da epilepsia refratária.
Por aqui, são mais de 20 mil implantes já realizados para essa finalidade, com possibilidade de cobertura pelos planos de saúde. A empresa aguarda a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) para disponibilizar o tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), ao mesmo tempo que se prepara para atender, com a mesma tecnologia VNS, a outra demanda que parece promissora: o Brasil é o segundo país do mundo prevalência de depressão, atrás dos Estados Unidos segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), e estima-se que 30% desses pacientes sofram de resistência ao tratamento com medicamentos.
O tratamento VNS é complementar a outras terapias contra depressão e consiste em implantar no corpo do paciente um dispositivo, como um marca-passo, que ativa o nervo vago. O nervo vago, então, envia pulsos elétricos para áreas do cérebro associadas à regulação do humor, estimulando a produção de neurotransmissores, como serotonina e noradrenalina, que atuam sobre as emoções.
Brasil é visto como mercado chave para difusão da terapia inovadora”
— Marcio Yoshikawa
Nos Estados Unidos, os geradores foram aprovados em 2017 pelo Food and Drug Administration (FDA) e pela Comunidade Europeia em 2018. Os testes clínicos nos Estados Unidos tiveram início em 2018 e mostraram melhora significativa da depressão refratária em cerca de 70% dos pacientes e recuperação completa de aproximadamente 40%.
Aprovada em 2022 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a terapia ainda não está disponível na saúde pública e não é coberta pelos planos de saúde privada. Os dois primeiros implantes no país foram realizados em agosto, com sucesso, e despertaram forte interesse da classe médica, de acordo com o diretor da empresa para a América Latina, Marcio Yoshikawa.
“O Brasil é considerado um mercado chave. Nessa fase de pesquisas, queremos ter dez implantes até abril ou maio do ano que vem”, contou. Os estudos com o dispositivo, afirmou o executivo, mostraram que a eficácia do tratamento aumenta com o passar do tempo, com benefícios terapêuticos até cinco anos após a implantação, melhoria importante de qualidade de vida e redução significativa na tendência suicida em relação à terapia usual.
Conforme Yoshikawa, neste momento, a LivaNova está concentrada em mostrar à classe médica o valor clínico do tratamento, que precisa ser prescrito por um psiquiatra, e ainda não definiu um preço para o mercado local. A empresa também aguarda uma sinalização da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), liberando ou não a cobertura da terapia pelos planos, para definir uma estratégia comercial mais agressiva.
“A depressão é uma doença democrática, não tem classe social ou gênero. Muitos médicos de outras especialidades, que não psiquiatria, demonstraram interesse na terapia porque têm pacientes com outras doenças que também acabam sofrendo de depressão”, explicou o executivo.
Com mais de 100 mil pacientes implantados em todo o mundo, a LivaNova teve receita líquida de US$ 1,02 bilhão no ano passado. Além de epilepsia e depressão, está estudando o uso da terapia VNS em pacientes que sofrem de apneia do sono. No Brasil, a companhia tem uma fábrica de produtos descartáveis, cujo uso está associado a suas tecnologias, na capital paulista.
Fonte: Valor Econômico