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Jim Caron, do Morgan Stanley: inflação tem mostrado tendência de queda e ainda se prevê que o Fed cortará os juros — Foto: Chris Goodney/Bloomberg
Uma onda de venda de títulos do Tesouro dos Estados Unidos repercutiu nos últimos dias pelo mundo, afetando desde os mercados de ouro até os de câmbio, em meio a alertas dos investidores de que a volatilidade se aferrou aos negócios nas vésperas das eleições presidenciais americanas em novembro.
Os Treasuries americanos rumam a um de seus piores meses dos últimos anos, com os rendimentos dos títulos de dez anos tendo aumentado quase 0,4 ponto percentual, para 4,2%. As vendas se intensificaram depois de bons indicadores econômicos e de um crescente “Trump trade” nos negócios terem levado os operadores a revisar suas expectativas sobre o cenário dos juros.
Essa reversão se dá apenas semanas após o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) ter iniciado uma fase de corte de juros, com uma redução de 0,5 ponto percentual, o que levou os investidores a projetar, pelo menos, mais um corte de 0,25 ponto em cada uma das duas reuniões restantes do ano.
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Agora, os investidores reduzirem essas expectativas diante do anúncio de dados econômicos mais fortes e das apostas de que o aumento das chances uma vitória republicana nas eleições presidenciais resultaria em políticas inflacionárias.
Mike Cudzil, gestor de carteiras de investimentos na Pimco, disse que os investidores estavam “voltando um pouco atrás no excesso de confiança” após o corte do Fed. “É um padrão que se apoderou dos mercados nos últimos 18 meses”, disse. “Os mercados se agarram com tudo a uma narrativa, esgotam essa narrativa e vão além dela, levando os preços longe demais.”
Rob Burrows, gestor de fundos de títulos governamentais na M&G Investments, disse que algumas das apostas na queda dos juros foram motivadas pelo “medo de perder o ciclo de cortes” por parte de investidores acostumados à era de taxas baixas após a crise financeira.
Depois, no entanto, o “mercado se assustou” com o anúncio de bons números no emprego, que respaldou a ideia de que serão necessários apenas cortes menos drásticos nos juros, acrescentou Burrows. “Às vezes, é uma porta pequena e todos tentamos sair correndo ao mesmo tempo.”
A mudança de quadro nos EUA teve impacto nos mercados mundiais: o dólar registrou seu melhor mês em dois anos em relação a uma cesta de moedas, valorizando-se mais de 3% nos últimos 30 dias. A moeda japonesa desvalorizou-se e a cotação passou dos 150 ienes por dólar, o que motivou alertas de autoridades sobre a fraqueza da divisa. O peso mexicano – que já havia sido impactado pela ameaça de tarifas de Trump sobre carros importados – também sofreu.
Os dados econômicos recentes “jogaram um balde de água fria” na expectativa de que haveria necessidade de outro corte de 0,5 ponto, segundo Mark Cabana, chefe de estratégia de juros do Bank of America (BofA), e “forçaram” o mercado a reduzir as probabilidades de recessão nos EUA em suas projeções.
Nos mercados de swaps, os negócios mostram uma possibilidade significativa de que agora o Fed venha a manter os juros em uma das duas reuniões restantes em 2024. Nesta semana, diante do ajuste das posições dos operadores, a volatilidade no mercado de treasuries, mensurada pelo índice Ice BofA Move, alcançou seu maior nível desde o fim de 2023.
“A incerteza provém de várias fontes – dos fundamentos econômicos, da reação do Fed e do ambiente político, que pode levar a mudanças na política fiscal”, disse Akshay Singal, chefe global de operações de juros de curto prazo no Citigroup.
O cenário quanto ao corte de juros ficou “muito mais amplo do que no passado”, acrescentou Singal, dizendo que é plausível tanto o Fed não cortar nada em 2025 quanto cortar 1,25 ponto percentual ou mais.
Os mercados se agarram com tudo a uma narrativa, esgotam essa narrativa e vão além, levando os preços longe demais”
— Mike Cudzil
Vários investidores disseram que o aumento da volatilidade e da incerteza decorre da maior atenção que o mercado passou a dar aos dados sobre o emprego depois que a inflação começou a cair.
Em julho, o número surpreendeu pela fraqueza, o que abriu o caminho para a decisão de corte de 0,5 ponto pelo Fed, mas, dois meses depois, o relatório sobre o emprego superou as expectativas.
William Vaughan, gestor de portfólio na Brandywine Global Investment, disse que a “volatilidade se aferrou [aos negócios] no curto a médio prazo” nos mercados mundiais de títulos, uma vez que os investidores aguardam o anúncio do orçamento do Reino Unido, a eleição dos EUA e decisões importantes de bancos centrais.
Além disso, existem expectativas de que chances eleitorais para Trump elevem a probabilidade de tarifas sobre as importações, de cortes de impostos e de outras políticas que irão estimular a inflação local e pressionar os rendimentos dos títulos para cima.
Estrategistas tem destacado o aumento do chamado prêmio pelo prazo – a proporção dos rendimentos dos títulos de longo prazo que não reflete as expectativas de taxa de juros de curto prazo -, como um termômetro das preocupações dos investidores com o alto endividamento dos governos.
As incertezas fiscais e políticas têm dado sustentação a outros ativos de segurança, como os metais preciosos, o que contribuiu para a levar o ouro a cotações recorde.
Os investidores em Treasuries agora se preparam para um longo período de incertezas com as eleições e também com a economia, uma vez que encontram dificuldades para prever o cenário do emprego nos EUA em outubro, em razão das greves e furacões que marcaram o mês.
“Vai ser difícil decifrar onde estamos [no ciclo econômico] nos EUA, pois esses dados estarão cheios de ruídos”, disse Laura Cooper, chefe de crédito macroeconômico da gestora Nuveen.
Ainda assim, alguns investidores advertem que os rendimentos podem ter ido longe demais na alta, no que ainda se espera ser um ciclo de redução de juros nos EUA e na maioria dos outros grandes bancos centrais.
De acordo com Jim Caron, diretor de investimentos do grupo de soluções de portfólio do Morgan Stanley Investment Management, a inflação tem mostrado tendência de queda e ainda se prevê que o Fed cortará os juros.
“No fim das contas, os rendimentos dos títulos podem permanecer contidos, e não é provável que isso [seja] o início de uma nova endência de rendimentos mais altos, [mas] apenas um ajuste.”
O “pêndulo oscilou para o outro lado”, antes os investidores superestimavam o tamanho dos cortes do Fed e agora o estão subestimando, argumentou Ed Al-Hussainy, estrategista sênior de juros globais da Columbia Threadneedle Investments.
“Minha sensação no momento é que, como os mercados estão tão eufóricos quanto ao crescimento e tão hipersensíveis quanto ao aumento dos déficits fiscais […], [eles] estão subestimando o quanto o Fed precisará agir. Essa é uma aposta que estou fazendo.”
Fonte: Valor Econômico

