Por Álvaro Campos — De São Paulo
15/05/2023 05h02 Atualizado há 5 horas
A Liber, criada em meados do ano passado a partir de uma fusão com Bava e Evencard, tem avançado na estratégia de facilitar as transações financeiras entre grandes indústrias e micro, pequenas e médias empresas (PMEs), que atuam como fornecedoras e varejistas desses grupos.
A companhia, comanda pelo ex-presidente do conselho de administração do BNDES Marcelo Serfaty, já antecipou R$ 54 bilhões em recebíveis e intermediou R$ 6 bilhões em uma solução de crédito atrelada ao fornecimento dos produtos para os revendedores.
A Liber tem 76 indústrias como clientes. São companhias com faturamento de pelo menos R$ 1 bilhão – o porte é necessário para a estrutura fazer sentido. Essas empresas, por sua vez, têm uma rede de 12,4 mil fornecedores e centenas de milhares de pontos de distribuição. Para o funding de seu “martketplace de crédito”, a Liber possui 14 bancos parceiros, 27 fundos de direitos creditórios (FIDCs) e 1,3 mil family offices.
“A questão do financiamento para PMEs nunca foi bem resolvida no Brasil. Então, buscando soluções, pensamos: por que não fazer crédito junto à indústria? Não só o risco sacado, mas incluir o crédito como meio de pagamento”, diz Serfaty. Risco sacado é uma linha na qual o banco antecipa os recebíveis dos fornecedores e a empresa âncora para a ser a devedora dessa operação. Foi a modalidade na qual a Americanas reportou suas “inconsistências contábeis”.
Assim, a Liber criou seu “checkout” inteligente, que resolve uma gama variada de formas com que a indústria recebe pagamentos. Se aquele varejista já tem relação com a indústria, a Liber, ao ter acesso a seu histórico, consegue avaliar melhor o risco de crédito.
Em caso de inadimplência, ocorre o chamado “stop supply”, ou seja, a fábrica deixa de fornecer os produtos. “Não é um crédito clean [sem garantia], e é para comprar insumos que são essenciais para aquele varejista, então a inadimplência é muito baixa. A indústria, por sua vez, apoia o ponto de venda e, assim, também se beneficia”, explica afirma.
Serfaty diz que o mercado de risco sacado é seis vezes maior que o de recebíveis de cartão e, com a implementação da duplicata escritural, outros tipos de ativos vão se tornar negociáveis com transparência, liquidez e sem risco de fraude. “Nosso sonho é um dia nos tornamos a ‘bolsa’ das duplicatas.”
Márcio Parizotto, que tem passagens por American Express e Bradesco e agora é sócio e diretor-executivo da Liber, diz que no ano passado a fintech se consolidou após a fusão e a partir disso desenvolveu suas soluções. Neste ano, já está totalmente operacional, fazendo “cross-sell” (venda de vários produtos para um mesmo cliente) e pronta para ganhar escala. “Modulamos nossos sistemas para conseguir atender qualquer empresa com faturamento a partir de R$ 1 bilhão e temos visto uma aceitação muito grande”, afirma.
Segundo Serfaty, dada a estrutura e velocidade de crescimento, é possível que mais à frente a Liber acabe solicitando ao Banco Central uma licença de sociedade de crédito direto (SCD). “Para o Brasil chegar à média dos países dos Bric (sigla para Brasil, Rússia, Índia e China), em termos de crédito para PMEs, ainda precisa multiplicar por dez. O espaço para crescimento é muito grande.”
Além do crédito em si, a solução da Liber tem o objetivo de facilitar a vida das empresas ao concentrar todas as transações financeiras em um só lugar, evitando que a companhia tenha de se plugar a uma plataforma diferente a cada pagamento que receber. “Estamos integrados a todos os bancos, todas adquirentes, certificadoras. De modo que toda a ‘cozinha’, todo o processo de meios de pagamento, é feito conosco”, diz.
A Liber é controlada por um fundo (com participação de 90%), que tem entre seus principais cotistas a seguradora alemã HDI, o BTG Pactual e a gestora G5 Partners. Hélio Magalhães, ex-CEO do Citi no Brasil e ex-presidente do conselho do BB, comanda o conselho de administração da fintech. Tem uma equipe de mais de 150 pessoas, das quais quase 85% são das áreas de TI e operações.
Fonte: Valor Econômico
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