Por Luciana Del Caro — Para o Valor, de São Paulo
29/11/2022 05h02 Atualizado
A percepção de que a inflação seria mais persistente do que o mercado esperava e de que os juros teriam que aumentar mais intensamente para que a atividade econômica desacelerasse – num processo relativamente longo de desvalorização dos ativos – levou a Bradesco Asset Management (Bram) a manter investimentos conservadores ao longo deste ano. Essa postura foi uma das responsáveis pelos bons resultados, acredita Philipe Biolchini, CIO da casa de gestão. A Bram ficou em primeiro lugar no “Guia de Previdência Valor/FGV” deste ano, na categoria melhor gestora geral.
Biolchini conta que as carteiras de crédito privado privilegiaram emissores de boa qualidade e ofereceram proteção, oscilando menos e rendendo mais do que o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI). Nos últimos 18 meses, a participação do crédito privado subiu de 10% para os atuais 30% dos PGBLs e VGBLs da Bradesco Vida e Previdência. A renda fixa tradicional responde por 40%, os multimercados por 25% e as ações e balanceados por 5%. Em títulos públicos, os investimentos também foram defensivos (por meio de posições pós-fixadas e em inflação implícita). Na renda variável, a preferência foi por empresas com caixa sólido.
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O ano de 2022 pode ser considerado o ano da virada da Bradesco Vida e Previdência, considera o diretor Estevão Scripilliti. Após cinco anos registrando captação líquida negativa, os VGBLs e PGBLs voltaram a captar: até o fim de novembro, ingressaram R$ 500 milhões líquidos. Ele atribui o bom resultado à sofisticação da grade de produtos e a reorganização da comunicação com clientes e corretores, a partir dos subsídios dados pela Bram. Nos últimos três anos, a seguradora realocou 50% dos investidores para produtos com taxa de administração inferior. Além disso, trouxe novas casas de gestão para gerir fundos de maior valor agregado. Dos R$ 230 bilhões de reservas de PGBLs e VGBLs, 8% são geridos por outras casas – percentual que poderá atingir 20%.
Já a Caixa Asset ficou em segundo lugar na categoria – e grande parte do desempenho pode ser atribuída à sua nova forma de atuação, de modo segregado da Caixa, considera o diretor-presidente Gabriel Cardozo. Até novembro de 2021, a gestão de fundos era feita por uma área do banco. Desde então, a Caixa Asset atua com time próprio e independência para a tomada de decisões. “A atuação dedicada nos deu mais agilidade no processo decisório de investimentos e para o lançamento de produtos.”
Cardozo diz que o portfólio de fundos ainda deve aumentar e que falta melhorar a comunicação com os investidores para que esses conheçam melhor o leque de produtos da casa. Neste ano, foram lançados fundos de crédito privado de previdência e de ações com estratégia quantitativa. Devem vir por aí fundos de crédito privado no exterior e imobiliários – que poderão entrar nas carteiras multiestratégia.
A renda fixa responde pela maioria dos fundos de previdência aberta: são cerca de R$ 120 bilhões dos R$ 128 bilhões sob gestão. E foi justamente a renda fixa que liderou a captação neste ano, com R$ 15 bilhões até novembro (a captação líquida total ficou em R$ 11,6 bilhões devido aos saques nos fundos de renda variável e multimercados).
Na Itaú Asset Management – terceira posição no ranking – os bons resultados dos fundos de previdência em 2022 podem ser creditados principalmente à correta leitura do cenário sobre inflação, acredita Fernando Cavallete, especialista de portfólio.
A casa considerou que a inflação seria persistente, uma vez os preços das commodities continuaram elevados e que o governo deu estímulos fiscais que contrabalançaram a política monetária contracionista.
Os fundos de renda fixa ficaram comprados em inflação implícita durante vários períodos do ano e, nos produtos que podem investir no exterior (como os multimercados), os ganhos também vieram com a percepção de que o banco central americano deveria subir os juros para baixar a inflação.
Ao longo do ano, a casa de gestão avançou na sua estratégia de mini gestoras independentes. O asset é dividido entre três grupos de gestão, de acordo com os tipos de produtos. Um deles é voltado aos fundos indexados, passivos, cujo objetivo é seguir determinado indicador. Outro gere fundos tradicionais e conservadores, como os de renda fixa e crédito privado. Já o terceiro grupo busca retornos absolutos (descorrelacionados de indicadores) em qualquer cenário, e é gerido por times que funcionam como mini gestoras independentes (são cerca de 60 gestores nesse grupo), que atuam sem direcionamento unificado e com liberdade para a tomada de decisão.
A gestão dos fundos atrelados a VGBLs e PGBLs se divide entre esses três grupos, a depender do tipo de produto.
Fonte: Valor Econômico

