O setor de rodovias deverá ter uma nova bateria de licitações neste fim de ano, com cinco leilões já agendados, que juntos devem somar mais R$ 40 bilhões em obras contratadas.
No dia 28 de novembro, o governo de São Paulo deverá fazer a concorrência da Nova Raposo, concessão que inclui um trecho do sistema Raposo Tavares-Castello Branco, na região metropolitana da capital. Estão previstos R$ 7,9 bilhões de investimentos no lote de 92 km.
Fontes apontam como interessadas no projeto a CCRCotação de CCR, a Acciona, a Ecorodovias, a EPR e a Via Appia (do Starboard). No caso da CCRCotação de CCR, há dúvidas sobre o nível de interesse do grupo, que já saiu vitorioso na licitação da concessão rodoviária Rota Sorocabana, no fim de outubro, com lance de R$ 1,6 bilhão.
A Nova Raposo inclui trecho da ViaOeste, concessão da CCRCotação de CCR que chega ao fim e passa por nova licitação – o contrato foi dividido em dois, a Nova Raposo e a Sorocabana. O primeiro é visto como mais desafiador, porque prevê desapropriações na entrada da capital. Ainda assim, analistas avaliam que haverá competição. “O projeto tem desafios, mas por ser em São Paulo, onde o Judiciário é mais estável e o uso de desapropriação é mais garantido pela jurisprudência, não deve ser entrave. São desafios testados do ponto de vista jurídico”, afirma Lucas Sant’anna, sócio do Machado Meyer Advogados.
Em dezembro, estão agendados outros quatro leilões. No dia 6, o governo do Mato Grosso do Sul, em parceria com o federal, planeja licitar a concessão da Rota da Celulose, com R$ 5,8 bilhões de investimentos. Há quatro grupos estudando o projeto. O perfil dos interessados é variado, segundo Eliane Detoni, secretária Especial de Parcerias Estratégicas do Estado. “Tem grupo mais consolidado, tem investidores entrando no segmento compondo parcerias, está bem diversificado.” No mercado, um grupo apontado como forte candidato é o Way, formado por construtoras que já operam na região e que recentemente formou uma nova plataforma com a Kinea.
Tem chance de entrarem na disputa grupos novos, inclusive estrangeiros”
O lote de 870 km inclui estradas estaduais e federais, mas a regulação do contrato será feita pela agência local. Para a secretária, o Mato Grosso do Sul já atingiu uma maturidade regulatória. “Se estivéssemos começando agora e não tivéssemos um ambiente institucional maduro poderia ser um risco, mas não é o que acontece”, diz ela, apontando que já há duas concessões rodoviárias no Estado.
No dia 12, serão licitados dois projetos do governo federal: o lote 3 de Rodovias do Paraná, com 570 km de estradas entre Ponta Grossa (PR) e o norte do Estado; e a Rota Verde, com 426 km de rodovias em Goiás, conectando Rio Verde (GO) à capital e a Itumbiara (GO).
O leilão da Rota Verde deverá ser aquele com o maior número de competidores do ano, segundo George Santoro, secretário-executivo do Ministério de Transportes. “Temos oito grupos estudando”, diz ele. “O principal atrativo é a expectativa futura de crescimento do fluxo, em uma via no centro do agronegócio. É um projeto bem construído, tem desafios porque não é pedagiado hoje, mas a modelagem foi bem tabulada.”
No caso do Lote 3 do Paraná há quatro empresas analisando o projeto, segundo ele. “É uma concessão grande, um projeto difícil, com muita obra.” O contrato prevê R$ 10 bilhões de investimentos.
Por fim, no dia 19, está prevista a licitação do Lote 6 de rodovias do Paraná – visto como o mais desafiador desta leva de leilões. O contrato demanda R$ 12,7 bilhões de investimentos no trecho de 662 km, que conecta Foz do Iguaçu (PR) a Guarapuava (PR) e ao sul do Estado. “O lote exige um volume de duplicação por ano desafiador, mistura obras grandes e complexas com muito capital. É um projeto para poucos participantes. Hoje há três estudando”, diz Santoro.
Segundo uma fonte, o lote 6 sofre com a concorrência do lote 3, que será licitado uma semana antes e que é mais atrativo e menos complexo. Nesses projetos, Pátria e EPR, que já conquistaram respectivamente os lotes 1 e 2 de rodovias do Paraná, são vistas como interessadas. A 4UM (ex-J. Malucelli), que recentemente conquistou a concessão da BR-381 em Minas Gerais e tem sede no Paraná, também é apontada como forte candidata.
No governo, a expectativa geral para as licitações é positiva. “Tem chance de entrarem na disputa grupos novos que ainda não participaram ou que participaram, mas não ganharam. Inclusive grupos estrangeiros”, afirma Santoro.
No mercado, a expectativa é que todos os leilões atraiam ao menos uma oferta. Para Ewerton Henriques, sócio da SH Consultoria, cada projeto tem seu atrativo: “O do Mato Grosso do Sul é grande, mas tem atores interessados na região, o de São Paulo se beneficia da estabilidade regulatória do Estado, os federais têm condições favoráveis de financiamento do BNDES. Cada um tem uma cereja no bolo”, diz.
O acúmulo de leilões em um espaço curto de tempo, porém, pode ser um desafio. Para Henriques, os que ficaram para o fim do mês terão mais dificuldade de atrair investidores, porque à medida que os grupos ganharem contratos, devem reduzir o interesse nos seguintes. Nesse sentido, ele avalia que o Lote 6 pode ter problemas.
Para Herbert Suede, coordenador de Infraestrutura e Energia do Banco Fator, a perspectiva é positiva. “Há uma melhora grande no mercado de rodovias. Os editais estão com maior partilha de risco, a regulação tem se mostrado estável e há abundância de projetos, então é natural que todos passem a olhar, tem várias oportunidades.”
Procurada, a CCRCotação de CCR afirma que “analisa todas as oportunidades nas três plataformas em que atua, com seletividade”. A Ecorodovias diz que “tem avaliado, de forma seletiva, todos os projetos”. A Acciona afirma que “procura ativamente oportunidades”. A Via Appia diz que “está constantemente avaliando a participação em novos leilões”, “priorizando ativos em trechos próximos de nossas concessões em São Paulo e Minas Gerais”. A EPR afirma que “ tem como disciplina avaliar as oportunidades do setor”. A 4UM, a Way e o Pátria não comentaram.
Fonte: Valor Econômico

