Por Gabriel Caldeira e Eduardo Magossi, Valor — São Paulo
15/02/2023 15h25 Atualizado há 12 horas
Ao lembrar o mandato democrático do Banco Central Europeu (BCE) para garantir a estabilidade de preços da zona do euro e a necessidade de conduzir um aperto monetário para levar a inflação para a meta de 2% ao ano, Christine Lagarde ressaltou o alto nível de independência que a autoridade precisa ter. “O BCE precisa ter a capacidade de tomar todas as medidas necessárias livre de interferência política”, afirmou a presidente do banco central em audiência no Parlamento Europeu.
“Em outras palavras, nós preservamos uma das condições fundamentais para o crescimento econômico estável”, disse. Segundo ela, isto é particularmente importante no atual cenário, com a alta inflação tendo um grande impacto em todas as áreas da economia e na vida das pessoas, “especialmente as famílias de baixa renda, como vocês têm notado”.
Lagarde afirmou que, em uma sociedade democrática, a independência do banco central apenas pode ser legítima se for fundamentada em um mandato claro e equilibrado com responsabilidade para garantir que ele será cumprido. “Isso também significa que grandes esforços para garantir a estabilidade de preços precisam ser acompanhados por igual forte vigilância democrática”, destacou.
Nesse sentido, Lagarde se mostrou disposta a manter um diálogo com os representantes do Parlamento, que apresentaram um esboço de uma resolução para formalizar as relações entre o BCE e o Parlamento Europeu. “O BCE fez uma proposta ao Parlamento e agora espera finalizar um acordo entre as duas instituições”, disse.
Lagarde reafirmou que os juros básicos na zona do euro serão elevados em 0,5 ponto percentual na reunião de março da entidade. Depois disso, o BCE vai reavaliar as condições econômicas e financeiras, tornando as próximas decisões “dependentes de dados”.
Ela enfatizou que o mandato do BCE é pela estabilidade de preços, que só será atingida com a autoridade mantendo o “curso atual de elevar juros de forma significativa”. Ainda que os preços de energia na Europa tenham perdido força, a inflação local segue forte e as expectativas inflacionárias requerem “monitoramento contínuo”.
De qualquer forma, a melhor situação do choque energético provocado pela guerra na Ucrânia moderou os riscos inflacionários e para o crescimento da atividade na zona do euro, segundo Lagarde. Os salários, contudo, têm crescido rapidamente e são uma ameaça à estabilidade de preços, enquanto a economia ainda deve apresentar crescimento fraco no curto prazo.
Lagarde defendeu a expansão da união monetária e econômica europeia. Segundo ela, é necessário fortalecer a integração financeira da zona do euro, reformar o quadro de governança econômica da UE e definir um quadro regulatório adequado para o euro digital.
Fonte: Valor Econômico

