O Pine está mais preocupado com os efeitos do fenômeno climático La Niña, que deve começar a partir de junho deste ano, do que com os impactos do El Niño, que já está passando, afirma o economista-chefe do banco, Cristiano Oliveira.
Ele nota, por exemplo, que, no Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de março, divulgado hoje pela Fundação Getulio Vargas (FGV), houve deflação em produtos agropecuários, ainda que o El Niño estivesse ao redor do seu pico no período. Além disso, diz, os preços da soja em dólares, por exemplo, também recuam.
“Não está acontecendo [um impacto forte do El Niño na inflação]. O El Niño nem sempre é ruim para o Brasil. O Sul, por exemplo, é beneficiado”, diz Oliveira.
O El Niño é caracterizado por um aquecimento acima da média histórica do oceano Pacífico, enquanto o La Niña refere-se à situação oposta, ou seja, quando o oceano Pacífico está mais frio do que a média.
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— Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
No Brasil, com o El Niño, regiões mais ao Norte, por exemplo, ficam mais secas, mas no Sul há mais chuvas, o que não é, necessariamente, ruim para todas as culturas, segundo Oliveira. Já com o La Niña, chove mais no Nordeste, e o clima fica mais seco e frio no Sul.
A partir de abril, o clima deve entrar em um regime neutro, mas diversos monitores indicam uma probabilidade em torno de 60% do La Niña iniciar em junho, segundo Oliveira.
O problema, explica Oliveira, é que o El Niño, para ter um efeito muito danoso à agricultura brasileira, precisa ser “super forte”, enquanto um La Niña apenas moderado já é capaz de fazer estragos. Por enquanto, diz, ainda não é possível saber ao certo a intensidade do La Niña.
O Pine projeta inflação de 3,2% em 2024, acelerando para algo entre 3,5% e 4% em 2025, em parte, por causa desse risco à próxima safra e, consequentemente, à inflação de alimentos.
“No ano que vem, a inflação é um risco”, diz Oliveira.
Além de questões agrícolas, o economista cita a possibilidade, com a atividade resiliente, de o hiato do produto se tornar positivo até o próximo ano, ou seja, não haveria mais ociosidade, o que também ajudaria a “reinflacionar” a economia.
Oliveira não descarta, por exemplo, que, ainda neste ano, seja possível observar uma taxa de desemprego abaixo de 7% no Brasil. No trimestre encerrado em janeiro deste ano, ela estava em 7,6%, segundo o IBGE.
O “nowcasting” do Pine, um termômetro para medir a atividade em tempo real no país, também indica um crescimento bom, de 0,7%, do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2024, em relação aos três últimos meses de 2023.
Oliveira pondera que o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) está sugerindo, por ora, um crescimento de 1,2% da economia no primeiro trimestre, ante o quarto trimestre do ano passado. “Ou seja, com meu ‘nowcasting’ em 0,7%, em fevereiro e, talvez, em março, a gente possa registrar uma contribuição negativa da atividade”, diz.
Ainda assim, a perspectiva do Pine para 2024 é de um crescimento de 2,3%, acima da mediana do Focus, pesquisa do Banco Central com o mercado, que está em 1,85%.
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Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine — Foto: Ana Paula Paiva/Valor
Fonte: Valor Econômico

