Diante de indicadores de inflação mais benignos e do processo de desaceleração da economia brasileira, a Kinea Investimentos vê espaço para que o Banco Central dê início a um processo de flexibilização da política monetária no fim deste ano. Os números do IPCA de julho vão em linha com esse cenário, na avaliação da economista Daniela Lima, embora a extensão do ciclo de cortes seja mais incerta e dependa, em particular, da eleição presidencial de 2026.
A economista enfatiza, sobretudo, o papel do câmbio na melhora recente do quadro inflacionário e aponta que os repasses dos preços do atacado para o varejo têm acontecido de forma “bem menos intensa” do que se imaginava. “As surpresas que temos tido com as leituras recentes do IPCA devem levar algumas casas a revisarem as suas projeções para baixo”, espera a economista, cujo cenário-base é de que o IPCA termine 2025 com uma alta acumulada de 4,7% – o relatório Focus mais recente aponta uma mediana de 5,05% do mercado.
Nesse sentido, Lima entende que as expectativas de inflação devem melhorar não apenas para este ano, como também para 2026, por conta da inércia inflacionária.
O cenário-base da Kinea embute o início do ciclo de cortes da taxa Selic ainda este ano, com uma redução da Selic de 0,5 ponto em dezembro, para 14,5%. De acordo com Lima, o IPCA de julho corrobora o cenário de desaceleração generalizada da casa e deve chancelar a flexibilização monetária do Copom.
Além do IPCA, o índice de preços ao consumidor (CPI) dos Estados Unidos referente a julho também foi bem recebido pelo mercado e reforçou a expectativa por cortes do Federal Reserve (Fed). Ainda que os preços em certos setores da economia americana mostrem algum impacto da política tarifária do presidente americano, Donald Trump, os temores de aceleração generalizada da inflação, por enquanto, não se materializaram.
Para o Brasil, a redução dos juros americanos é mais um fator que tende a contribuir para a queda da Selic no curto prazo, em especial por meio do câmbio, aponta Lima. Segundo a economista, a valorização do real fortalece o impacto desinflacionário da política monetária do BC, tal como tem sido observado nas últimas leituras do IPCA.
“Estamos indo para um momento em que o Fed corta os juros sem recessão nos EUA. É um ambiente positivo para ativos de risco global. Com o Brasil entre as maiores taxas de juro ajustada a risco, há um viés de apreciação para o real”, conclui.
Fonte: Valor Econômico

