A vice-presidente Kamala Harris escolheu ontem o governador de Minnesota, Tim Walz, como seu companheiro de chapa para as eleições presidenciais de 5 de novembro — uma opção vista como estratégica para conquistar a confiança e os votos do eleitor rural e branco dos EUA. Aos 60 anos, Walz é pouco mais velho que Kamala, que faz 60 em outubro, e é considerado um político com ampla experiência administrativa, após ser eleito seis vezes deputado federal e duas governador de seu Estado.
Em uma mensagem de texto de arrecadação de fundos enviada ontem aos seus partidários, Kamala qualificou Walz de “um líder testado em batalhas, com um histórico incrível de fazer as coisas pelas famílias de Minnesota”. Ela disse ainda nas redes sociais que as “convicções de Walz em lutar por famílias de classe média são profundas”. “É pessoal”, afirmou.
Ex-treinador de futebol americano e professor de ensino médio, Walz tem trânsito entre os líderes do partido e é hoje o presidente da Associação dos Governadores Democratas. Ao ser nomeado candidato à vice-presidência, ele deixou para trás outros governadores que disputavam a indicação, como o da Pensilvânia, Josh Shapiro, e do Kentucky, Andy Beshear.
Uma fonte próxima ao processo de escolha do candidato a vice-presidente disse que a disputa tinha o potencial de causar divisões no partido — que fazia questão de emitir sinais públicos de unidade depois de o presidente Joe Biden ter anunciado sua desistência à reeleição no dia 21. Segundo essa mesma fonte, a equipe de Kamala também teria ficado irritada com o lobby público conduzido por muitos dos aliados de Shapiro para que ele fosse escolhido.
Em declaração logo após o anúncio do escolhido por Kamala, Shapiro disse que estava grato por ter seu nome considerado e acrescentou que Walz era uma “adição excepcionalmente forte à chapa”.
Outra fonte próxima ao processo disse que contou para a escolha de Walz seu histórico em questões nas quais os democratas querem trabalhar nacionalmente — como o crédito tributário infantil, licença remunerada, aborto e controle de armas. Walz pode ser especialmente útil nos Estados-pêndulos [como são conhecidas os estados que podem pender tanto para qualquer um dos dois partidos] de Wisconsin e Michigan, que ficam na mesma região de Minnesota e para onde ele estendeu sua atuação, sobretudo no período em que foi deputado federal.
Nacionalmente, porém, Walz não era muito conhecido antes de seu nome aparecer na lista de possíveis vices de Kamala. E sua popularidade entre os democratas cresceu ainda mais nas últimas semanas, quando passou a aparecer em entrevistas na TV e qualificou o rival republicano, Donald Trump, e seu companheiro de chapa, J.D. Vance, de “esquisitos”. O apelido, para o mal-disfarçado desgosto da oposição, se tornou viral entre os democratas.
Horas depois da indicação, Kamala e Walz aparecerão juntos — pela primeira vez na campanha — em um comício na Filadélfia, no início de uma turnê de cinco dias cobrindo sete Estados-pêndulos.
A seleção de Walz completa a reformulação de duas semanas da chapa democrata desde a saída de Biden. Este processo deve se consolidar na Convenção Democrata, que começa dia 19, em Chicago.
“Eu não poderia estar mais orgulhoso de estar nesta chapa e ajudar a tornar Kamala Harris a próxima presidente dos EUA”, discursou Walz na Pensilvânia. “Esses mesmos valores que aprendi na fazenda da família e tentei incutir em meus alunos, levei ao Congresso e à capital de Minnesota, e agora, a vice-presidente Kamala Harris e eu estamos concorrendo para levá-los à Casa Branca”, ele deve acrescentar.
A tarefa de Walz é clara: trazer de volta os blocos democratas que se afastaram de Biden, ao mesmo tempo em que aguça a mensagem do partido sobre a economia — uma questão definidora — para expandir o apelo do partido em estados como Pensilvânia, Michigan e Wisconsin.
O potencial de Walz para unir o partido ficou imediatamente evidente pelo apoio que recebeu do senador independente Joe Manchin, da Virgínia Ocidental — um ex-democrata centrista — e da deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, uma liberal.
Manchin disse que Walz poderia “trazer a normalidade de volta ao ambiente político mais caótico” que muitos já viram. Ocasio-Cortez disse na rede social X que Kanala e Walz “governariam de forma eficaz, inclusiva e ousada”.
Kamala consultou Biden ao telefone antes de anunciar Walz como sua escolha, disse Emilie Simons, porta-voz da Casa Branca. O presidente também falou com Walz e o parabenizou, elogiando-o depois como “uma voz poderosa para os trabalhadores”.
Waltz foi eleito governador pela primeira vez com apoio da Associação Nacional do Rifle (NRA, pela sigla em inglês), o poderoso lobby das armas dos EUA. Mas passou a defender agendas mais progressistas ao longo dos dois mandatos.
Trump e Vance, por seu lado, foram rápidos em criticar o novo competidor como excessivamente liberal. “Esta é a dupla de candidatos à Presidência e Vice-Presidência mais radical de esquerda de toda a história americana”, escreveu Trump em sua plataforma de mídia social.
Tim Walz, governador de Minnesota escolhido como candidato a vice-presidente por Kamala Harris — Foto: AP/Abbie Parr
Fonte: Valor Econômico

