O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, não acredita que os juros nas economias desenvolvidas vão voltar a patamares tão baixos como os vistos antes da pandemia de covid-19. A avaliação foi feita na coletiva de imprensa após a decisão de política monetária do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que manteve os juros inalterados entre 5,25% e 5,50% ao ano.
Embora Powell não enxergue um cenário de condições financeiras tão relaxadas, ele não considera que os dados fortes de inflação dos Estados Unidos em janeiro e fevereiro mudam o cenário de desinflação em curso. Assim, a perspectiva para a política monetária não teria mudado drasticamente desde o fim do ano passado.
“Riscos apontam para os dois lados do mandato agora”, com juros muito altos podendo pressionar demais a atividade ou cortes prematuros provocando uma potencial reaceleração da inflação, ressaltou Powell. Para ele, efeitos sazonais podem ter afetado os índices de preços de janeiro, e a força atual do mercado de trabalho não é razão para se preocupar com a possível volta da inflação.
“Precisamos de mais tempo para avaliar se a alta inflação recente representa mais do que acidentes de percurso”, ponderou Powell, que vê as condições financeiras apertadas pressionando a economia americana, enquanto o mercado de trabalho se mantém “em boa forma”, sem um aumento considerável no número de demissões.
Durante a entrevista, Powell afirmou também que os juros poderão cair este ano nos Estados Unidos caso a economia americana evolua como esperado, em especial se o progresso da inflação em direção à meta de 2% se sustentar ao longo de 2024.
Ainda assim, Powell ressaltou que a inflação segue alta e há incertezas no cenário e, por isso, o progresso dos preços não é algo “assegurado”. Segundo ele, o aperto monetário “provavelmente atingiu seu pico neste ano”, e as decisões futuras continuarão sendo tomadas “reunião a reunião”.
Powell destacou que o mercado de trabalho americano segue forte, com a demanda por trabalhadores ainda acima da oferta de mão de obra. No entanto, o número de trabalhadores disponíveis aumentou e foi a principal razão para as revisões positivas do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) americano nas projeções divulgadas junto da decisão de juros.
De acordo com Powell, o balanço de riscos para a política monetária do Fed ficou mais equilibrado com a recente moderação da inflação e do mercado de trabalho. Segundo ele, o aumento salarial e a abertura de novas vagas de emprego têm desacelerado nos Estados Unidos.
Powell ainda comentou que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) discutiu hoje a desaceleração do processo de aperto quantitativo (QT, na sigla em inglês) do balanço de ativos do Fed. Segundo ele, nenhuma decisão foi tomada, mas o colegiado acredita que deverá reduzir o ritmo do QT em breve. Desde o início do QT, a balança de ativos do Fed diminuiu em US$ 1,5 trilhão, destacou o presidente do Fed.
Segundo Powell, uma transição gradual da redução do balanço de ativos do Fed – processo chamado de aperto quantitativo (QT, na sigla em inglês) – traz menos riscos à liquidez do sistema financeiro.
Durante a coletiva de imprensa após a decisão de juros da entidade, Powell afirmou que a meta de longo prazo é manter um balanço de ativos apenas com Treasuries, os títulos da dívida soberana dos Estados Unidos. Ainda assim, o banco central não quer repetir uma situação de poucas reservas.
Segundo ele, o Fed está considerando reduzir o ritmo do QT em breve, mas o período em que isso vai acontecer ainda não foi discutido entre os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês).
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O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Jerome Powell — Foto: Sarah Silbiger/Bloomberg
Fonte: Valor Econômico

