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Com juros altos, corrida por produtos isentos de imposto de renda e busca por outros papéis de renda fixa, como Certificados de Depósito Bancário (CDBs), a indústria de fundos vem registrando em 2025 captação líquida menor que a do ano passado. Até novembro, o saldo ficou em R$ 145,5 bilhões, com queda de 42% na comparação com igual período de 2024, conforme dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Os fundos de maior risco tiveram saídas relevantes, incentivadas em grande parte pela Selic alta. Foi o caso dos multimercados, com resgates líquidos de R$ 61,7 bilhões até o fim de novembro. Nos fundos de ações, o total ficou negativo em R$ 52,8 bilhões, mesmo com a disparada de 32% do Ibovespa no período. Já a renda fixa opera no azul, apesar dos resgates líquidos de R$ 16,4 bilhões no mês passado. No ano, até novembro, esses fundos acumulam captação líquida de R$ 162,5 bilhões, um tombo de 56% em relação a igual período de 2024.
Este Guia Valor de Fundos de Investimento, cujo ranking foi elaborado pelo economista Marcelo d’ Agosto, analisou 1.942 produtos e pode ajudar o investidor a ponderar suas escolhas diante de previsões que apontam para uma maior volatilidade por conta do cenário externo e das eleições no Brasil em 2026.
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Entre os fatores por trás do desinteresse nos fundos neste ano está a concorrência de produtos livres de imposto de renda. É o caso, por exemplo, dos Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRIs), Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), cuja isenção, de forma geral, não se estende a fundos que compram esses papéis. “Quando existem alternativas que não pagam imposto, a diferença para o investidor se torna bastante relevante em relação às opções que são tributadas”, afirma Pedro Rudge, diretor da Anbima.
Também não é fácil fazer frente a CDBs, com rendimento bem acima do CDI em alguns bancos. É o que ressaltam os professores de finanças Alexandre Chaia, do Insper, e Henrique Castro, da FGV. No agora liquidado Banco Master, os papéis chegaram a oferecer até 140% do CDI aos investidores, protegidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para operações de até R$ 250 mil.
Chaia pondera que os fundos ainda enfrentaram a concorrência das bets que, segundo estudo da LCA Consultores, movimentam um mercado anual de R$ 38 bilhões – ou de até R$ 78 bilhões, se consideradas as apostas ilegais. “As apostas tiram dinheiro de investidores e de empresas”, afirma. O endividamento de pessoas e empresas, exacerbado pelos juros altos, também ajuda a drenar recursos para investimentos, observa Rudge. “Até a caderneta de poupança teve saída líquida de recursos”, diz ele, referindo-se ao saldo negativo de R$ 90,9 bilhões acumulado até novembro.
Incertezas em torno da tributação dos investimentos também influenciaram o comportamento dos investidores. A MP 1.303/25, enviada pelo governo em junho e derrubada pela Câmara em outubro, propunha unificar a alíquota de IR sobre rendimentos financeiros. “Essa indefinição desestimulou investimentos nos fundos de forma geral”, avalia Chaia.
Com esperada queda da Selic, haverá mais protagonismo dos ativos de maior risco”
No rumo oposto, a possibilidade de mudança na legislação incentivou a busca por fundos de debêntures incentivadas. Emitidos para financiar projetos de infraestrutura, esses papéis perderiam a isenção do IR a partir do ano que vem caso a MP fosse aprovada. “Diante dessa possibilidade, muita gente correu para pôr dinheiro nesses fundos”, conta o CEO da Bradesco Asset Management, Bruno Funchal. Como resultado, segundo a Anbima, os fundos de debêntures incentivadas fecharam os primeiros onze meses do ano com saldo generoso, de R$ 104,7 bilhões na captação líquida.
“Este foi um ano com destaque para o crédito privado, especialmente incentivado, e para os fundos DI, beneficiados pelos juros elevados”, avalia Funchal. Na sua visão, o jogo muda em 2026. “Com a queda esperada da Selic, haverá menos protagonismo do crédito e mais dos ativos de maior risco”, afirma.
Diante do quadro, Funchal vê mais espaço para a gestão ativa nos fundos multimercados, ações e de renda fixa, com maior liberdade para que os gestores selecionem ativos de acordo com os movimentos do mercado em busca de rentabilidades superiores ao CDI ou à inflação. “A gestão ativa permite aproveitar o ciclo de queda de juros e considera também a maior volatilidade com a aproximação do período eleitoral.” A estratégia, avalia, permite aportes de potencial de retorno mais elevados, mas também sujeitos a oscilações maiores.
Conforme Funchal, o cenário deve continuar estimulando, em 2026, a entrada de investidores estrangeiros em busca de diversificação de portfólio com operações no Brasil. “Ainda que os EUA continuem na posição privilegiada, ele está atraindo menos do que antes por causa do movimento de queda nos juros e da incerteza com o anúncio das novas tarifas de importação”, diz o executivo.
“Houve saída muito forte dos EUA, que é suficiente para gerar tanto o movimento de desvalorização do dólar quanto a alta das bolsas e valorização do mercado de risco em geral ao redor do mundo”, completa o CIO da Santander Asset Management, Mario Felisberto.
No Brasil, segundo Funchal, esse movimento também se beneficia da atual estabilidade do real frente ao dólar, que reduz o risco de perdas ao capital estrangeiro decorrentes de eventuais desvalorizações cambiais. Ainda na sua avaliação, o fato de a “bolsa ainda estar barata” ajuda a atrair investidores.
Fernando Cavallete, especialista de portfólio da Itaú Asset Management, diz que os fundos de ações amargaram captação negativa porque os investidores tendem a olhar para os retornos passados e assumem isso como uma tendência futura. Pelo raciocínio, a queda de 10% acumulada no Ibovespa em 2024, somada aos juros altos da renda fixa, afugentaram os investidores destes fundos. A situação deve mudar com o bom desempenho da bolsa neste ano. “Conforme olham para trás e veem que as ações entregaram um retorno interessante, eles voltam a alocar nessas carteiras.”
Apesar da previsão de maior apetite por risco, na avaliação de Funchal os fundos DI – que acompanham a oscilação dos juros – continuarão tendo participação relevante. Afinal, ainda que em queda, os juros devem permanecer elevados. O Boletim Focus, divulgado no dia 8 pelo Banco Central, projeta para o fim de 2026 uma Selic de 12,25% e uma inflação, medida pelo IPCA, de 4,16% – combinação que segue atraente, sobretudo para investidores conservadores.
“Ainda são juros altos, que não vão pôr um investidor para fora da renda fixa buscando ativos de riscos”, afirma Felisberto. “Mas como não vai ser um patamar tão alto quanto o deste ano, para os investidores que quiserem buscar um ganho adicional, vai fazer sentido buscar a renda variável e multimercados.”
Fonte: Valor Econômico