No ambiente externo, os preços das commodities voltaram a subir, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) passou a sinalizar que não vai cortar os juros no curto prazo e as moedas emergentes desvalorizaram. Tudo isso pode obrigar o Brasil, que já tem seus próprios problemas internos, a pisar no freio.
Com o mercado de trabalho aquecido e inflação caindo lentamente, a expectativa era de que o Fed fizesse entre seis e sete cortes, com o primeiro deles em março. Agora é de apenas um ou dois cortes, com o primeiro não antes de setembro. Havia grande expectativa de que a redução nos juros americanos começasse a liberar um volume de US$ 6 trilhões, alocados em títulos de curto prazo nos Estados Unidos, em direção a novos mercados, como os emergentes.
“A recente firmeza da inflação manterá os juros elevados por mais tempo”, diz o economista-chefe da Oxford Economics para os EUA, Ryan Sweet. Em linha com a maioria do mercado, a consultoria mudou recentemente a sua expectativa de um primeiro corte de juros nos EUA, de junho para setembro.
Diante desse cenário, na semana passada, o Banco Central (BC) brasileiro deu recados que levam parte do mercado a acreditar que o ritmo pode diminuir pela metade na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 7 e 8 de maio.
Por aqui, a demanda mais aquecida do que o esperado sugere uma inflação mais alta no curto prazo e o viés expansionista da política fiscal está se confirmando.
“As despesas públicas seguem crescendo. Outros programas continuam e a cada dia vemos um novo programa de incentivo à economia sendo lançado”, afirma o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale. Segundo ele, não houve uma arrecadação forte o suficiente para equilibrar as contas públicas no primeiro trimestre, o que torna o cenário fiscal ainda mais incerto.
A XP elevou as projeções para o PIB – de 2% para 2,2% – e para a inflação de 2024 – de 3,5% para 3,7%. A casa, no entanto, manteve a estimativa para a inflação de 2025, de 4%. “O ajuste na projeção da taxa de juros foi o necessário para manter o mesmo cenário de inflação”, explica Megale.
CONTRAPONTO. Para o economista-chefe da Ágora Investimentos, Dalton Gardimam, uma Selic de dois dígitos no fim do ciclo é possível, mas não provável. Ele aumentou recentemente a projeção para os juros terminais de 9,5% para 9,75%, e avalia que a tensão das últimas semanas tende a arrefecer. “Não acho que lembra as grandes crises do passado”, afirma ele.
A mudança na meta de resultado primário de 2025 detonou um processo de desancoragem de expectativas que desencadeou um overshooting (reação exagerada) no mercado acerca do impacto sobre a inflação, diz o analista. Mas ele salienta que, embora a alteração seja grave, as regras de contenção de despesas do arcabouço fiscal ainda valem. “Não me parece ainda que o governo foi para o tudo ou nada”, diz ele. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

