Por Eduardo Magossi — De São Paulo
08/08/2022 05h02 Atualizado há 4 horas
O cenário de taxas de juros elevadas que deve se estender pelos próximos anos no Brasil e no mundo abre espaço para mais instrumentos inovadores de renda fixa, afirma Barbara Clancy, chefe da gestora americana Pimco para América Latina e Caribe.
“Vamos nos tornar mais construtivos em renda fixa, especialmente no mercado de ‘high grade’ [títulos com nota de crédito elevada e baixo risco]”, diz.
De acordo com a executiva, apesar de haver ainda muita incerteza sobre a inflação, o cenário-base da Pimco é de que os bancos centrais vão ter sucesso em baixar a inflação. Com isso, a estratégia da gestora é centrar o foco em instrumentos de renda fixa para o investidor que tem um horizonte maior, de médio e longo prazos.
A pouca diversificação geográfica dos investidores brasileiros é vista por Clancy como uma oportunidade para crescer no país. A executiva lembra que, dentre os países da América Latina, o Brasil é o mercado em que os investidores mais se concentram em ativos locais. “Em tempos de incertezas em que vivemos, é importante diversificar os riscos”, afirma, em entrevista ao Valor.
Como a estratégia da Pimco é não se concentrar em instrumentos ou mercados específicos, a executiva diz haver espaço para atender os brasileiros no país e nos mercados globais. Segundo Clancy, o Brasil tem características que o diferem de seus pares latino-americanos. “Por ter um mercado de capitais forte, o brasileiro investe mais em ações, o que é diferente do restante da América Latina, que possuem mais investimentos offshore. A região é diferente, com investidores com objetivos e preferências diferentes e com regulações distintas.”
A Pimco está há dez anos no Brasil e, a partir de um escritório em um dos pontos mais luxuosos da avenida Faria Lima, em São Paulo, faz a gestão de cerca de R$ 2,33 bilhões em investimentos locais, segundo dados de julho da Anbima. No mundo todo, o volume de ativos sob gestão da casa atinge US$ 1,83 trilhão. Mas, segundo a executiva, o montante total gerido pela Pimco de investidores brasileiros é muito maior, já que uma parcela significativa dos recursos é aplicada em ativos no exterior. “Muitos investidores buscam oportunidades de investimentos fora do país porque já estão muito expostos ao risco-Brasil e as incertezas locais e nós podemos oferecer mais oportunidades lá fora.”
Em junho, a gestora americana lançou seis BDRs (recibos de ações de emissores brasileiros no exterior) lastreados em ETFs (fundos de índice) de renda fixa negociados na B3. A executiva afirma que a Pimco prevê o lançamento de novos fundos “feeder” – modalidade de veículo local que investe em cotas de um fundo no exterior – com diferentes tipos de exposição aos mercados globais.
“Queremos oferecer a oportunidade de o investidor brasileiro participar dos mercados internacionais por meio de vários tipos de exposição. Também estamos oferecendo investimentos em mercados de crédito privado e crédito público para o investidor que possui fôlego para aguentar uma liquidez menor e prazo mais longo”, diz.
De acordo com Clancy, é papel da Pimco gerenciar de perto os riscos do investidor, oferecendo diversificação e flexibilidade na gestão dos ativos. “O mais importante é poder alterar seu portfólio em tempos de instabilidade e montar instrumentos de acordo com seu apetite, podendo incluir ativos de maior risco e retornos mais altos ou ativos de maior qualidade e retorno menor”, afirma.
Fonte: Valor Econômico

