Por Bloomberg
19/06/2023 12h15 Atualizado há 4 horas
A turbulência enfrentada pelo setor de pensões no Reino Unido no ano passado e o mais recente estresse dos bancos regionais nos EUA podem ser apenas o começo de crises contínuas que terminariam em uma crise de crédito global, de acordo com a Janus Henderson.
Os dois casos em um mundo de juros elevados podem levar a um aperto do crédito, crescentes defaults e queda dos lucros corporativos, disse David Elms, que administra US$ 3 bilhões distribuídos em 11 fundos como chefe de estratégias alternativas diversificadas para a gestora de Londres. Segundo ele, a situação do crédito é algo que o deixaria “nervoso”, dado o cenário benigno nos últimos 15 anos.
Fundos de pensão do Reino Unido foram atingidos em setembro passado, depois que a então primeira-ministra Liz Truss anunciou uma rodada de cortes de impostos não financiados, o que levou a uma queda nos preços dos gilts (títulos públicos britânicos) e a um ciclo vicioso de chamadas de garantia. Neste ano, em março, vários bancos regionais dos EUA quebraram e provocaram a queda de ações do setor em todo o mundo, em meio às altas dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) que minavam sua liquidez.
Os crescentes defaults dos chamados “junk bonds” são mais uma evidência das ameaças subjacentes aos mercados financeiros, disse Elms em entrevista na semana passada. “Se olharmos de baixo para cima, os defaults em alto rendimento parecem bastante assustadores. Há um risco considerável quando se trata de lucros e inadimplência.”
“Taxas de juros mais altas tendem a quebrar as coisas”, afirmou. “Não queremos correr muito risco em áreas nas quais não temos vantagem competitiva.”
Fidelity e Allianz
Elms é apenas um exemplo entre um número crescente de investidores que se sentem desconfortáveis com os efeitos dos maiores custos de financiamento globais e do seu impacto sobre empresas menos capazes de pagar suas dívidas.
O diretor de investimentos globais de renda fixa da Fidelity International, Steve Ellis, e o gestor de portfólio da Allianz Global Investors, Mike Riddel, manifestaram preocupação neste mês de que uma política monetária mais apertada leve a uma recessão e pese nos mercados de crédito.
Os defaults globais em títulos de alto rendimento vão aumentar para 5% no início do próximo ano, acima da média de longo prazo de 4,1%, previu a Moody’s Investors Services na semana passada.
Valor em AT1s
Uma área em que Elms, da Janus Henderson, vê valor — e tem comprado — é a dívida bancária adicional de nível 1 (AT1s) emitida por bancos europeus.
Os títulos de dívida de risco relativamente alto despencaram em março, depois que autoridades suíças que intermediaram a aquisição do Credit Suisse pelo UBS excluíram investidores de AT1 deste último, preservando parte do valor de suas ações.
Os AT1s se recuperaram e subiram mais de 10% desde o resgate do Credit Suisse no mês passado, de acordo com um índice da Bloomberg, recompensando gestores como Elms e outros que foram atraídos pelos títulos desvalorizados.
“As pessoas resgataram muitas dívidas bancárias, incluindo AT1s”, disse Elms. “Nunca havíamos realmente visto o valor dos AT1s”, disse, explicando que nunca tiveram esses títulos no portfólio, “porque estavam precificados em um nível em que a probabilidade desse evento era extremamente baixa.”
Fonte: Valor Econômico

