Com “valuations” atraentes, um posicionamento técnico ruim, a proximidade do fim do ciclo de aperto monetário no Brasil e a narrativa em torno das eleições de 2026, o J.P. Morgan elevou sua recomendação para as ações brasileiras de “neutro” para “compra” (overweight), ao mesmo tempo em que rebaixou a avaliação sobre as ações mexicanas de “compra” para “neutro”. “Os fatores que nos levaram a elevar o México agora ficaram para trás e novos vetores estão em jogo, o que pode ajudar o Brasil”, afirma a equipe de estrategistas de ações para América Latina do banco, liderada por Emy Shayo Cherman.
Ao justificar a preferência pelas ações brasileiras no momento, o J.P. Morgan aponta que o cenário global passou a beneficiar o Brasil, desde que os Estados Unidos não entrem em recessão. Além disso, para o banco, como o Brasil pode estar mais próximo que o esperado do fim do ciclo de aperto nos juros, esse pode ser “um gatilho muito importante para as ações”. Outro fator citado pelos estrategistas é a possibilidade de a recuperação da China beneficiar mercados emergentes, o que favoreceria o Brasil, visto como uma “proxy” chinesa.
“Por último, mas não menos importante, as eleições de 2026 estão distantes, mas trazem um elemento de atratividade, embora o risco daqui até lá esteja longe de ser insignificante”, dizem os profissionais do J.P. Morgan. “As eleições de 2026 pavimentam o caminho para a chance de mudança de regime. Achamos que é muito cedo para nos posicionarmos para isso, mas a narrativa está lá e cada pesquisa que sai tem o potencial de alimentar essa dinâmica, ao mesmo tempo em que a cada dia a corrida fica mais acirrada.”
Ao mesmo tempo, os estrategistas notam que o México está mais exposto às tarifas comerciais que podem ser adotadas pelos EUA, o que tem deixado investidores locais mexicanos mais pessimistas em conversas recentes com estrategistas do J.P. Morgan.
“É importante notar que vemos essa mudança como tática, e não estrutural, considerando que as questões domésticas que nos levaram a rebaixar o Brasil [em novembro] (fiscal ruim) estão muito vivas. Permanecemos com uma alocação um tanto defensiva em ambos os países, mas preferimos agora ficar mais expostos a proxies de juros no Brasil do que aos exportadores. Também gostamos de bancos e de utilities”, afirma a equipe de Shayo.
Entre os riscos para a recomendação, o J.P. Morgan cita um eventual aprofundamento da incerteza do mercado, que possa gerar um cenário de aversão a risco que impeça o bom desempenho das ações brasileiras. “No caso de uma recessão nos EUA, os mercados acionários em ambos os países e na América Latina como um todo provavelmente sofreriam”, notam os estrategistas. Já entre as questões locais, eles apontam para um aumento nos ruídos sobre a política fiscal e possíveis medidas pouco ortodoxas para desacelerar a inflação, o que pode prolongar o ciclo de aperto monetário em vez de encurtá-lo. Uma desaceleração da China também estaria entre os principais riscos.
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Emy Shayo Cherman, estrategista do J.P. Morgan — Foto: Ana Paula Paiva/Valor
Fonte: Valor Econômico

