O banco Itaú recomenda que os investidores esperem para aumentar a alocação em bolsa brasileira neste momento. Apesar de achar que as ações estão baratas e que o início das reduções de juros deve ajudar a bolsa a subir, a instituição avalia que a inflação precisa recuar para menos de 5% em 12 meses para os investidores aumentarem a alocação em ações domésticas.
Nesta terça-feira (12), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou para 5,23% em 12 meses. Apesar de estar desacelerando, a inflação está maior que a meta perseguida pelo Banco Central, de 3% ao ano, com um limite de tolerância de até 4,5% ao ano.
“O desemprego está na mínima histórica no Brasil, a renda salarial está na máxima e os juros continuam em 15% ao ano. O Banco Central precisa realmente tomar muito cuidado para cortar os juros, para não precisar subir de volta como aconteceu há três anos. Estamos esperando a inflação realmente recuar para sugerir aumentar a alocação em ações brasileiras”, afirmou Nicholas McCarthy, diretor global de estratégia de investimentos do Itaú Unibanco, em coletiva de imprensa nesta terça-feira.
“Apesar da bolsa estar perto das máximas históricas e estar bem barata, não significa que vai andar. É possível que demore muito tempo para a bolsa andar”, disse. Na análise dele, para acontecer uma alta da bolsa brasileira mais perene, é preciso saber quando os juros começarão a cair com mais precisão.
Na avaliação do executivo, os juros podem começar a cair no primeiro trimestre de 2025 e o ciclo de cortes pode durar dois ou três anos.
Ao contrário de boa parte dos gestores de investimentos neste momento, McCarthy não está muito preocupado com o impacto da eleição de 2026 e a chance de uma alternância de governo pode ter nas ações brasileiras. “Discutimos as eleições, mas esse tema não mexe conosco. As eleições estão muito longe”, afirmou. “Pode ter um ruído para cá ou para lá, mas as eleições não mudam a tendência para o Brasil”, disse.
O diretor de estratégia de investimentos do Itaú acha que, no curto prazo, dificilmente os investidores locais voltarão com força para a bolsa brasileira, enquanto os juros não recuarem.
- No Brasil, a carteira de indicações de investimentos da instituição continua bastante concentrada em renda fixa. Recentemente, o banco aconselhou aumentar os investimentos em papéis prefixados, para que os investidores aproveitarem os elevados juros nesses títulos antes que eles caiam. À medida que o tempo passar, o mercado deve apostar em um corte de juros maior e as taxas desses títulos tendem a cair.
Os papéis prefixados são recomendados para investimentos em até cinco anos, enquanto os títulos que acompanham a inflação são recomendados para prazos maiores.
Como investir no mundo?
Na análise do banco, a economia do restante do mundo deve crescer mais do que a economia americana neste ano, o que explica o motivo de os investidores estarem diversificando mais as suas carteiras além dos Estados Unidos. Por esse motivo, o Itaú aconselha investir mais neste momento nas bolsas dos emergentes e globais do que na bolsa americana.
Na avaliação do Itaú, ainda está incerto qual será o impacto do tarifaço imposto por Donald Trump, presidente dos EUA, na inflação do país. Eventualmente, ela pode voltar a subir, o que reduziria o espaço para o banco central americano diminuir os juros. Assim, o corte de juros no país poderia ser mais demorado do que o mercado prevê neste momento.
Gina Baccelli, estrategista sênior de investimentos do Itaú Unibanco, afirmou que o cenário internacional é mais importante para o banco decidir as suas estratégias de investimentos do que o cenário brasileiro. Ela diz que, apesar da imposição das tarifas, o cenário externo neste momento mais ajuda do que atrapalha o Brasil.
“O Brasil é mais impactado pelo mundo do que pelos problemas locais. Quando o mundo está ruim, os problemas locais chamam a atenção. Mas quando o mundo está favorável aos emergentes como agora, os nossos problemas ficam em segundo plano”, afirmou. “Mesmo com o tarifaço, o cenário no exterior está favorável para o Brasil por causa da queda do dólar, que deve ajudar a desacelerar a inflação no país”, disse.
Fonte: Valor Investe

