Um ano após a crise da Americanas, que fechou as torneiras para o mercado corporativo, o Itaú BBA vê a retomada dos investimentos das empresas, com maior concessão de crédito. O cenário também está favorável para o mercado de capitais.
“O mercado retomou tanto em renda fixa como em equities [ações]. Não tivemos nenhuma oferta inicial de ações [IPO, na sigla em inglês], mas registramos um bom número de ‘follow-on’. Neste ano, podemos ter entre 30 a 40 operações. Temos, por exemplo, uma transação que tem potencial de ser grande porte, que é a da Sabesp, e outros possíveis casos que podem promover um crescimento de volume de 30% a 40%”, afirma Flavio Souza, presidente do Itaú BBA.
No ano passado, foram registradas 24 operações de “follow-ons” (oferta subsequente de ações), movimentando R$ 31 bilhoes. Não houve nenhum IPO.
O cenário, segundo Souza, agora está mais benigno no país. “Vamos ver boas oportunidades para este ano que começa”, afirma o executivo, que concedeu entrevista ao Valor entre uma agenda e outra cheia de compromissos com investidores e empresários no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
Para 2024, o banco de investimento vê um PIB menor, um pouco abaixo de 2%, mas um cenário mais propício para o ambiente de negócios no país.
Ambiente fiscal adequado estimula retomada mais forte de investimentos ao longo do ano”
“Curiosamente, fomos surpreendidos positivamente no ano passado pelo PIB, puxado pelo agronegócio”, diz.
O executivo ressalta que, agora, o contexto geopolítico está mais complicado, e diz que as eleições dos Estados Unidos são outro fator que pode afetar o cenário externo. Apesar disso, ele não vê o mercado de capitais no país comprometido, a não ser que as discussões eleitorais tenham impacto na economia americana.
Há elementos favoráveis para o Brasil, de acordo com ele. “A grande questão, que não é nova, mas continua sendo muito importante, é a fiscal. A gente percebe um esforço importante por parte da Fazenda, do ministro Fernando Haddad, nessa direção. A sensação que tenho é que se o mercado, de uma forma geral, tiver a percepção de que a gente caminha para um ambiente fiscal adequado, vai ser um estímulo importante para uma retomada mais forte de investimentos ao longo do ano.”
Para o crédito, Souza vê o mercado firme. “No ano passado, a gente começou com emoção, e o que parecia ser um ano bastante difícil, com desafios importantes”, afirma, lembrando que o início de 2023 foi marcado por um grande número de pedidos de recuperação judicial.
Agora, o executivo vê a situação mais positiva, embora não esteja totalmente tranquila. “A gente está vivendo um ambiente em que a taxa de juros ainda está em um patamar que implica um custo financeiro importante para as empresas. Mas, se for olhar o período de 2023, foi o ano em que as empresas tiveram maior impacto, porque a taxa de juros estava no seu ápice”, diz.
“Com a queda da taxa, o mercado começa a olhar um pouco mais prospectivamente para 2025, 2026. A capacidade de ajudar as empresas no sentido de atravessar esse momento, acho que elas ficam, diria até mais saudáveis, mais positivas.”
De acordo com Souza, a grande questão para o mercado de crédito em 2024, considerando os baixos recursos para investimento, é saber quando a retomada de fato vai acontecer.
“A demanda está presente. Se for olhar, seja pelo aspecto da transição energética, que tem muito para ser feito nessa frente, seja pelo desafio importante de infraestrutura no Brasil, a gente começa a assistir a uma retomada, mas a intensidade desse movimento vai ficar mais clara ao longo do ano, à medida que esse cenário for se consolidando um pouco mais”, diz.
O mercado global está muito líquido, ressalta o executivo, que avalia que o Brasil pode atrair um fluxo importante, somado a um nível de confiança local mais construtivo para este ano.
O Itaú BBA continua reforçando posição no agronegócio e também nas médias empresas. “Queremos estar com os nossos clientes em todas as suas necessidades do dia a dia. Naturalmente, crédito é muito importante. Temos posição de liderança nos principais segmentos.”
No caso do agronegócio, o executivo diz que o setor passou por uma grande transformação nas últimas décadas, inclusive em termos de governança.
A estrutura do banco voltada ao agro passou, em 2020, de 30 pessoas para 700. A carteira de crédito do segmento fechou o ano passado com R$ 90 bilhões. “A gente continua vendo uma oportunidade de crescimento importante nesse setor.”
Souza acrescenta que o Itaú BBA também está atento à agricultura sustentável, de baixo carbono, e vê o país com potencial de ser referência global do ponto de vista da liderança da transição energética, o que poderá atrair investidores.
Fonte: Valor Econômico

