Por Marsílea Gombata e Alessandra Saraiva — De São Paulo e do Rio
26/07/2023 05h01 Atualizado há 4 horas
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial, teve deflação em julho, confirmando trajetória de desaceleração em serviços e bens, e levando a revisões de projeções por consultorias e instituições financeiras.
O indicador teve deflação de 0,07%, após alta de 0,04% em junho, segundo o IBGE. Foi a menor taxa para o indicador desde setembro do ano passado (-0,37%).
O resultado ficou abaixo da mediana das 27 projeções de consultorias e instituições financeiras reunidas pelo Valor Data, de -0,03.
Em 12 meses, o IPCA-15 ficou em 3,19% até julho (3,40% até junho), abaixo da mediana de 3,24%.
O Índice de Difusão, que mede a proporção de bens e serviços que tiveram aumento de preços no período, caiu para 48,0%, ante 50,7% na prévia de junho, o mais baixo desde junho de 2020 (47,1%).
A média dos cinco núcleos do IPCA-15 desacelerou para 0,09% em julho, de 0,34% em junho, o menor percentual desde junho de 2020 (0,01%), segundo cálculos da MCM Consultores.
No acumulado em 12 meses, a média dos cinco núcleos recuou de 6,19% para 5,53%, a mais baixa desde julho de 2021 (5,29%).
Contribuíram para o resultado de julho os preços de energia elétrica residencial 3,45% mais baratos em julho, beneficiado pelo efeito do “bônus de Itaipu”.
Em junho, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulgou valor de R$ 405,4 milhões referentes ao “bônus de Itaipu”, para o mês de julho. Pelos cálculos da agência, 81 milhões de unidades consumidoras serão beneficiadas, por meio de crédito nas faturas de energia elétrica residencial.
Entre junho e julho, alimentação e bebidas tiveram deflação de -0,51% para -0,40%. Houve deflação da alimentação no domicílio (-0,72%). Os preços em alimentação fora do domicílio, contudo, tiveram alta em julho (0,46%).
Os preços de alimentos devem continuar ajudando a segurar pressões inflacionárias no curto prazo, diz André Braz, do FGV Ibre.
“O mercado espera IPCA de 4,8% a 4,9% para 2023, muito próximo do teto da meta, de 4,75%. Isso é possível pois existem boas chances de alimentação ajudar”, diz.
Braz espera IPCA de julho em torno de 0,3% e a próxima leitura do IPCA-15, no fim de agosto, próxima de zero.
Alguns dos outros grupos que tiveram deflação foram habitação (-0,94%), com destaque para gás de botijão (-2,10%), artigos de residência (-0,40%), comunicação (-0,17%). Houve alta em água e esgoto (0,20%) e transporte (0,63%), puxado pela gasolina (2,99%).
O IPCA-15 de julho foi influenciado por dois fatores pontuais que não devem se repetir nos próximos meses, segundo Claudia Moreno, economista do C6 Bank: o bônus de Itaipu e o programa de carro popular do governo, que durou cerca de um mês.
O dado foi mais positivo do que as anteriores pois mostrou serviços desacelerando, afirma Adriano Valladão, economista do Santander Brasil. “Em termos ‘qualitativos’, a leitura foi melhor que as anteriores, já que o núcleo da inflação de serviços desacelerou, algo que não vinha acontecendo nas últimas três edições”, escreveu em nota a clientes. “O núcleo de serviços subiu 0,35%, na variação mensal, ante nossa previsão de 0,60%.”
Seis das 11 regiões pesquisadas pelo IBGE mostraram queda de preços no IPCA-15 de julho. As cidades que mostraram queda foram Brasília, São Paulo e Salvador.
Os números levaram a LCA Consultores a revisar para baixo a projeção de inflação para 2023 de 5% para 4,9%. Para 2024, a consultoria manteve a previsão de 4%.
“Houve sinalização importante de que realmente podemos continuar tendo taxas mais moderadas de inflação. Hoje há certo protagonismo de descompressão de bens não duráveis, como alimentação, ou mesmo duráveis, como automóveis e eletrodomésticos. Isso acaba desaguando no IPCA”, diz Fábio Romão, da LCA.
A leitura de julho indica um viés baixista para as projeções de inflação, afirma Luiza Benamor, da Tendências Consultoria. A Tendências projeta alta de 0,03% para o IPCA de julho e 5,06% para a taxa do ano, com viés de baixa, após o resultado desta terça.
O Barclays revisou a projeção de inflação para 2023 para 5,1% (5,3% anteriormente), mas manteve a de 2024 em 3,7%.
“Os números sugerem um ambiente melhor para o esperado início do afrouxamento monetário do Banco Central em 2 de agosto. Reconhecemos que as chances de um corte maior de 50 ponto-base na próxima semana cresceram, mas mantemos a visão de que a recente melhora na inflação subjacente ainda não está ‘profundamente enraizada’ o suficiente para permitir movimentos mais ousados neste momento”, escreveu em nota Roberto Secemski, economista do Barclays. A meta de inflação do BC é de 3,25% em 2023, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
O economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, afirmou que real mais forte, preços das commodities contidos, reços dos alimentos mais baixos, deflação no atacado, melhora das expectativas de inflação e inflação mais moderada devem pesar na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), quando o banco espera corte de 25 pontos-base da taxa Selic, atualmente em 13,75%.
Fonte: Valor Econômico