Por Paul Wiseman e Christopher Rugaber, Associated Press — Washington
10/11/2022 10h39 Atualizado
Os aumentos de preços nos Estados Unidos foram mais moderados no mês passado, no indício mais recente de que as pressões inflacionárias que dominam o país podem estar em declínio à medida que a economia desacelera.
A inflação ao consumidor chegou a 7,7% em outubro, na comparação anual, e subiu 0,4% em relação a setembro, segundo dados oficiais divulgados ontem. A taxa anual ficou abaixo dos 8,2% de setembro e foi a menor desde janeiro. Excluindo os preços voláteis de alimentos e energia, a medida núcleo subiu 6,3% em termos anuais e 0,3% em relação a setembro.
Os números foram todos mais baixos do que os economistas esperavam. Um item que ajudou a abrandar a inflação foi o dos preços dos carros usados, que baixaram pelo quarto mês seguido em outubro. Os de vestuário e assistência médica também caíram e houve uma desaceleração nos aumentos dos preços dos alimentos. Porém, os preços de energia se recuperaram em outubro, após as quedas em agosto e setembro.
Mesmo com esse relaxamento incipiente da inflação, é provável que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) continue a elevar as taxas de juro para esfriar a economia e conter a inflação. Mas os dados divulgados ontem levantam a possibilidade de que o Fed possa pelo menos desacelerar o ritmo dos aumentos — uma perspectiva que levou à alta dos mercados.
“Nossa expectativa é de que isso marque o início de uma tendência desinflacionária muito mais longa que acreditamos que convencerá o Fed a parar (de subir o juro) no começo do ano que vem”, disse Paul Ashworth, economista-chefe para a América do Norte da empresa de consultoria Capital Economics. “Com a normalização dos problemas de escassez de oferta, a pressão deflacionária finalmente começou a aparecer.”
Muitos economistas temem que o aperto monetário possa provocar uma recessão em 2023. O Fed elevou sua taxa básica de juro seis vezes neste ano, em incrementos consideráveis, o que aumenta o risco de o custo de financiamento para compra de imóveis residenciais, automóveis e outros itens de valor alto leve a maior economia do mundo em uma recessão.
Lorie Logan, presidente do Fed de Dallas (unidade regional do Fed), disse que os números de inflação “foram um alívio” bem-vindo”. Mas ressalvou que “ainda há um longo caminho a percorrer”.
Logan reconheceu que o aumento do juro pode levar a demissões e queda nos preços dos imóveis residenciais, mas afirmou que o Fed “precisa fazer tudo o que puder para restaurar a estabilidade dos preços”. Porém, ela sugeriu a possibilidade de adoção de um ritmo mais modesto de elevação das taxas, ao dizer que “também devemos tentar, se for possível, evitar incorrer em custos que sejam mais altos do que o necessário”.
Na avaliação de economistas, os dados de ontem e a reação de autoridades monetárias como Logan tornam mais provável que o Fed eleve os juros em meio ponto porcentual em sua próxima reunião, em dezembro, o que significaria uma moderação com relação à série de aumentos de três quartos de ponto porcentual deste ano.
Nas eleições legislativas que terminaram na terça-feira, aproximadamente metade dos eleitores americanos citou a inflação como o principal fator para sua decisão, de acordo com a VoteCast, uma extensa pesquisa com mais de 94 mil eleitores em todo o país realizada para a Associated Press pela NORC da Universidade de Chicago. Cerca de 8 em cada 10 entrevistados disseram que a economia estava em mau estado, e uma pequena maioria responsabilizou o presidente Joe Biden pelo agravamento da inflação. Para pouco menos da metade, a culpa era de fatores que Biden não tem como controlar.
O desconforto com relação à economia pode ter contribuído para os democratas terem perdido vagas na Câmara dos Deputados, embora os republicanos não tenham conquistado um grande número de cadeiras que muitos esperavam. E uma parcela considerável dos eleitores americanos — 44%, segundo a VoteCast — disse que sua principal preocupação era o futuro da democracia, uma questão que foi enfatizada por Biden e pelos candidatos democratas ao Congresso em uma época de negacionismo eleitoral infundado.
Mesmo antes da divulgação dos mais recentes dados da inflação ao consumidor, algumas medidas já indicavam que a pressão de preços começara a diminuir e poderia continuar assim pelos próximos meses. Há indicações de que os aumentos salariais robustos dos últimos 18 meses se estabilizaram e começaram a cair. Embora o salário dos trabalhadores não seja o principal fator para a alta da inflação, ele pode agravar as pressões inflacionárias se as empresas aumentarem preços para compensar os custos trabalhistas mais altos.
À exceção das montadoras, que ainda têm dificuldades para adquirir todos os chips de computador de que precisam, os gargalos nas cadeias de fornecimento se desfizeram em grande medida.
Fonte: Valor Econômico
