11 Mar 2024 LUIZ GUILHERME GERBELLI
Depois de encolher em 2023, o investimento deve voltar a crescer no Brasil neste ano, ainda que sem indicar uma reversão do quadro de fragilidade estrutural do País nessa área. A economia brasileira tende a ser favorecida por uma conjuntura positiva, com a sequência do ciclo de queda da taxa básica de juros (Selic) e de alguma redução da incerteza na condução da política econômica pelo governo.
No ano passado, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,9%, o investimento (formação bruta de capital fixo) recuou 3%, embora no quarto trimestre tenha subido 0,9%, interrompendo quatro trimestres seguidos de queda.
“(O crescimento em 2024) É um bom sinal, mas estamos vindo de uma queda e uma base de comparação baixa”, diz Juliana Trece, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), que estima que os investimentos devem crescer 3,4% este ano.
Em 2024, os juros devem seguir em queda. A Selic começou a recuar em agosto passado, e já caiu de 13,75% para 11,25%. E a expectativa dos analistas ouvidos pelo relatório Focus, do Banco Central, é a de que caia até 9% ao fim deste ano. Juros elevados afetam o investimento das empresas porque encarecem a aquisição de bens e o crédito. “O investimento reage muito à política monetária e a mudanças de expectativas”, diz Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital. “E o que temos visto nos últimos anos foi um juro num patamar restritivo.”
A queda dos juros explica apenas uma parte da melhora dos investimentos em 2024. Há também uma menor incerteza com o rumo da política econômica em relação ao que havia na virada de 2022 para 2023, antes da posse do atual governo.
Apesar de não ser considerado perfeito, o arcabouço fiscal conseguiu dar uma previsibilidade para as contas públicas e o tamanho do endividamento do País nos próximos anos. O governo também conseguiu a aprovação da reforma tributária, que deve melhorar o ambiente de negócios. Mas as contas públicas continuam sendo um ponto sensível do governo Lula.
Claudio Frischtak, da consultoria Inter.B, lembra que os investimentos se movem em função do tamanho e da dinâmica do mercado consumidor, e dos custos para expandir a capacidade e criar novos produtos. E o maior entrave no País hoje, diz, é a percepção de risco associada a uma elevada incerteza – fruto de insegurança jurídica, da captura de orçamento e da má alocação de recursos, agravada pela sensação de perda de controle do processo político pelo governo. “Investir é, em essência, uma aposta no futuro e muitos não estão dispostos, apesar do potencial do País.”
Fonte: O Estado de S. Paulo

