Os investidores europeus estão prestes a injetar somas recordes em fundos negociados em Bolsa (ETFs) de mercados emergentes neste ano, atraídos pelas economias em desenvolvimento devido ao crescimento mais forte, avaliações mais baratas e os efeitos colaterais do dólar americano, que caiu para mínimas de três anos.
ETFs de ações de mercados emergentes listados na Europa, incluindo aqueles listados no Reino Unido, absorveram 8,1 bilhões de euros (R$ 50 bilhões) em entradas líquidas nos primeiros sete meses do ano, ligeiramente à frente do valor total de 2024 e a caminho de superar o recorde de 10,9 bilhões de euros (R$ 68,9 bilhões) em 2023, de acordo com dados da Morningstar Direct.
“A perspectiva geral [para mercados emergentes] é encorajadora”, disse Lena Tsymbaluk, diretora associada de estratégias de ações da Morningstar. “O dólar mais fraco é bom para os mercados emergentes. Significa que as moedas domésticas estão mais fortes e a inflação é menor, ajudando-os a cortar as taxas de juros”.
“Estamos nos afastando dos EUA para um mundo multipolar. Há uma mudança geral do excepcionalismo americano e a ascensão dos mercados emergentes”, acrescentou, citando crescimento econômico mais forte, as “vantagens demográficas” decorrentes de populações mais jovens, adoção mais rápida de tecnologia e avaliações de mercado de ações mais baratas como fatores que impulsionam os fluxos para mercados emergentes.
Os fundos de títulos de mercados emergentes atraíram um valor mais moderado de 1,1 bilhão de euros (R$ 7 bilhões), mas ainda é o número mais alto desde 2019, com três dos cinco anos intermediários registrando saídas líquidas.
Os ETFs de ações de mercados emergentes listados na Europa agora detêm 103 bilhões de euros (R$ 651 bilhões) em ativos, o dobro do valor que tinham no final de 2020, embora os fundos de títulos de mercados emergentes tenham contraído em um quinto para 24,4 bilhões de euros (R$ 154 bilhões) no mesmo período, mostram os números da Morningstar.
Os dados disponíveis sugerem que os investidores britânicos podem ter sido um pouco mais reticentes em mergulhar na disputa dos mercados emergentes do que seus pares continentais, no entanto.
Dados de fundos mútuos mostram que fundos de mercados emergentes domiciliados no Reino Unido receberam US$ 1,1 bilhão (R$ 6 bilhões) líquidos nos primeiros sete meses de 2025. Se os fluxos continuassem nesse ritmo pelo resto do ano, isso representaria um número sólido, mas nada espetacular pelos padrões históricos.
Plataformas de investimento do Reino Unido também relatam interesse moderado. A AJ Bell disse que “um aumento nos fluxos para mercados emergentes não é algo que tenhamos visto particularmente entre os clientes”, enquanto a InvestEngine apresentou um quadro semelhante, com a maioria de seus clientes continuando a optar por ETFs globais.
Apesar do índice MSCI EM superar confortavelmente o S&P 500 neste ano, permanece uma diferença acentuada de avaliação entre as ações do mundo em desenvolvimento e dos EUA.
O ETF iShares MSCI Emerging Markets, que acompanha o índice de ações de mercados emergentes mais seguido, atualmente negocia a 15,7 vezes os lucros do ano passado e 2,1 vezes o valor contábil.
Em comparação, o índice S&P 500 de Wall Street negocia com uma relação preço/lucro de 28,5 e um preço sobre valor contábil de 5,1.
No entanto, o desconto dos mercados emergentes em relação às empresas europeias agora se dissipou em grande parte, com o índice europeu negociando a 17,2 vezes os lucros e 2,1 vezes o valor contábil.
A recuperação dos mercados emergentes ocorre após anos de desempenho inferior. O índice de referência de ações ainda está abaixo do nível que atingiu em 2007. Em contraste, o S&P 500 quadruplicou desde então e o benchmark europeu subiu quase 40%.
Os dados também sugerem que muitos investidores europeus permanecem cautelosos em relação a um componente-chave do universo dos mercados emergentes: a China, que representa 30% do índice MSCI, à frente de Taiwan, Índia e Coreia do Sul.
O ETF iShares MSCI EM ex China Ucits atraiu significativamente mais dinheiro até agora neste ano do que seu ETF irmão que não exclui o país, de acordo com os números da Morningstar.
Dados mais amplos da Morningstar que também incorporam fundos mútuos mostram que a categoria Global Emerging Markets ex-China Equity tem sido a categoria de mercados emergentes mais popular entre os investidores europeus no último ano, com entradas líquidas de 2,7 bilhões de euros (R$ 17 bilhões).
Em contraste, os fundos de ações da China, que alguns investidores passaram a usar para permitir que gerenciem sua exposição ao país de forma mais flexível, viram saídas de 600 milhões (R$ 3,8 bilhões).
Tsymbaluk disse que os fundos de mercados emergentes excluindo a China estão se mostrando populares para muitas pessoas que investem através de um prisma baseado em critérios ambientais, sociais e de governança (ESG), dados os problemas de governança corporativa que frequentemente surgem no país.
Fonte: Folha de S.Paulo